Rodeada por um silêncio, onde estavam ausentes todos os ruídos, pensei que esta seria a paz de Deus; a paz que Deus sonhara, para que com ela fosse fecundada a alma dos homens.
Infelizmente, no nosso silêncio, não temos direito a essa paz, porque estamos permanentemente adormecendo a nossa consciência.
São tantos os remorsos que deveríamos ter!
Tantos atos de omissão; tanta negação para um gesto de amor; tantas oportunidades para estendermos a mão e, ao invés, cruzamos os braços; tanto alheamento aos problemas dos outros; tanto obstáculo erguido para nos proteger; tanta voz que poderíamos ter ouvido e não quisemos escutar; tanto clamor e tapamos nossos ouvidos; tanta vez que fechamos os olhos, temendo ver a verdade; tantas ocasiões em que o medo de participar, fez-nos isolar os nossos corações; tantas horas, encolhidos nas nossas vidinhas burguesas, desperdiçamos o tempo que pertencia a outros; atravessamos a vida protegidos pelas nossas casas, ignorando aqueles que mendigam.
Na paz de Deus, vamos engrandecer os nossos silêncios, ouvindo as vozes dos que gritam pedindo a nossa ajuda.
(*) Adelaide Reis de Magalhães, escritora, colaboradora de Ju Machado-Escritório de Arte.