Cultura

Um rolé com Marcelo D2

Diego Molina
| Tempo de leitura: 5 min

Dizer que polêmicas sempre fizeram parte da trajetória de Marcelo D2 é cair na vala comum do jornalismo musical e ignorar sua evolução ao longo dos últimos anos. De “defensor da maconha”, o músico carioca passou a defensor - ou maldição - do samba e firmou-se como um artista da vanguarda da real música brasileira, fruto de toda miscigenação da qual esse povo é objeto e que realmente chega aos ouvidos do público.

Há mais vanguardismo do que freqüentar os horários nobres da MTV, do Multishow e da Rede Globo, colocar uma canção como “Dor de Verdade” (com participação de Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz) nas rádios pop do País todo e, ao mesmo tempo, apresentar João Nogueira para seu público, ter álbuns elogiados pela crítica, pela Academia Brasileira de Letras e eleitos entre os melhores do pop e da MPB dos últimos anos?

O público de Bauru e região poderá comprovar amanhã à noite, com o show “Meu Samba É Assim”, que Marcelo D2 é representante do rap, do samba, do clássico e do moderno, das batidas e do soul, enfim de uma expressão que não poderia ser menos do que carioca e mais do que brasileira. Acompanhando o músico, estarão o DJ Will e Fernandinho Beat Box, a partir das 22h, na Associação Luso Brasileira.

De acordo com sua assessoria de imprensa, o show que D2 traz a Bauru dá destaque para as canções de “Meu Samba É Assim”, lançado no ano passado, e um pouco menos para “À Procura da Batida Perfeita”. Entretanto, o músico não ignora sua produção em “Eu Tiro É Onda” ou mesmo um e outro hit do Planet Hemp. Muitos sucessos estão em novas versões e há ainda músicas novas e participações “virtuais” de amigos e parceiros. Samba e amor

Em 2003, D2 fez sua virada musical, resultado do fim do Planet Hemp e de uma busca para além do que ele havia conseguido com o álbum “Eu Tiro é Onda” (1998). O tempero do samba, até então, era mais de malandragem. Com “À Procura da Batida Perfeita”, o samba virou referência e linha guia. “É sim, a força do samba, a força do rap/ O MC que é partideiro, bumbo que vira scratch/ É o meu som que mostra muito bem o que eu sou/ Onde cresci, onde ando, onde fica, onde eu vou”, ele rima na música que dá título ao CD.

Na época, D2 foi criticado por beber do samba sem nunca ter sido sambista. Nascido na zona norte do Rio de Janeiro e criado longe dos cartões-postais da cidade, o músico deixava a periferia transparecer nas letras e na sonoridade rock e rap mestiça do Planet Hemp. Com “À Procura...”, conforme já afirmou em entrevistas, sua meta nunca foi fazer samba, mas sim percorrer o caminho que poderia ligar o ritmo ao hip hop. Afinal, samba não é carteira de identidade e purismo em excesso é perigoso - ou chato.

Pela busca de D2 e até mesmo como uma característica que se firmou, o disco todo é auto-referente e respeitoso. As letras falam da mistura do rap com samba, prestam homenagem a quem merece e defendem a postura do rimador como partideiro. “Sangue bom que é sangue bom é considerado em qualquer lugar Tem que saber chegar sem papo torto /Chega no sapatinho / Mantendo o respeito”, canta em “CB (Sangue Bom)”.

A produção de Mario Caldato Jr. (que trabalhou com Beastie Boys, Marisa Monte, Chico Science & Nação Zumbi e o próprio Planet Hemp) é a outra metade da lista de qualidades do álbum, com as dezenas (centenas?) de samplers. O “Acústico MTV”, lançado em 2004, só reforçou as qualidades da procura.

Com “Meu Samba É Assim”, lançado no ano passado, D2 soube olhar para os lados. A batida perfeita pode não ter sido descoberta – apesar da procura ser genial -, mas a mistura do rap com samba permite ao músico explorar mais essa base. Marcelo não virou sambista; seu samba é a rima. E seu tema, no disco, de uma forma ou de outra, é o amor – por uma mulher, pelos amigos, pela família, pelo samba.

“Sempre quis fazer uma parada com pastoras, que tivesse a cara de rap. Acho que cheguei mais próximo disso. Mas tem uma métrica diferente porque geralmente no samba, o cara canta o samba e depois as mulheres repetem tudo. Aqui não, eu vou falando e elas vão repetindo tudo ao mesmo tempo. Meio casado”, comenta o músico em seu site.

“Meu Samba É Assim” vai do samba ao amor, do hip hop ao gueto – mais especificamente, “Gueto”, faixa com pegada mais rock’n’roll. Ao vivo, Marcelo D2 promete explicar, demonstrar, reinventar, incomodar e, como sempre, colocar a galera para dançar. Seu som é assim.

O show de Marcelo D2 é uma promoção da Ovni Produções e Eventos, com patrocínio de Nova Schin e Lume Light, e apoio de Som Carro, Stop Point, Rede Record, Jornal da Cidade e 96 FM.

Serviço

Marcelo D2 faz show amanhã, a partir das 22h, na Associação Luso Brasileira de Bauru. Abertura: DJ Raphael Antonelli. Ingressos antecipados, com preço promocional, estão à venda na Angel Music, Xerox Fênix, Music Sound, Jô Calçados, Postos Flag, Atlética Unesp, Juliu’s Bar, Bar do Pepê, Barbaridade, Fátima Serrano, Banana Games e Som de Carro. Convites da área VIP na secretaria da Luso. Mais informações: (14) 3223-5222.

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