Bem-te-vis anunciando a boa nova, cheiro de terra molhada, sotaques carregados de erres, moda de viola, pinga de alambique, pingo de leite e lá no horizonte a curva do rio. Poucos quilômetros separam Bauru das cidades que fazem parte do Circuito Paranapanema. Um bom motivo para incluí-las em uma próxima viagem que pode conjugar pescaria, passeios náuticos, lazer em pousadas e hotéis charmosos, adrenalina em cachoeiras ou simplesmente relax em campings e prainhas.
Para atingir Avaré (aproveite e dê uma esticada até Águas de Santa Bárbara, Pratânia, famosa pelo couro, e Holambra, a segunda unidade da estufa de flores famosa, além da cidade que emprestou o nome do rio, Paranapanema), basta seguir, sem qualquer estresse, pela duplicada, segura e agradável rodovia Marechal Rondon e “quebrar” próximo à cidade de São Manuel, agora já pela rodovia João Melão.
O asfalto está em boas condições e pelo caminho, depois da sede da Cervejaria Belco, vão se entremeando florescentes ipês amarelos, eucaliptos, mangueiras e esparsos coqueiros e pés de laranja. Um trecho de mais ou menos uma hora com a obrigatoriedade de se pagar apenas um pedágio: R$ 3,70 pelos carros de passeio.
Se bater fome, há postos de combustível e alguns “ranchos” para se comer um “PF” por R$ 5,90 ou desabastecer os rins. Nas proximidades da entrada da cidade, quem curte animais pode fazer uma paradinha para conhecer uma fazenda de criação de avestruz – cuidado que o bicho é bravo –, se encantar com a elegância de cavalos quarto de milha, com o gado nelore ou simplesmente parar num dos pesque-pague bem estruturados.
Avaré tem boa infra-estrutura turística, envolvendo hotéis grandes, médios e pequenos, condomínios luxuosos – muitos paulistas têm sobradões por lá por conta da facilidade de acesso via Rodovia Castelo Branco -, e até imóveis para locação. Consulte uma das imobiliárias da cidade, como a Costa Azul.
____________________
Ecologia e vida
Em Avaré, um dos exemplos de compromisso com a natureza e a preservação de espécies vem do Eco Resort Ibiquá, inaugurado há menos de dois anos pelo empresário Stefan Gerd Richard Weltzer. Ele nasceu na cidade de Jamshedpur, na Índia, filho de um engenheiro alemão que perambulou por vários países, incluindo o circuito Índia-Alemanha, a Argentina e o Brasil.
Stefan nasceu em solo hindu, mas logo retornou à Alemanha, ficando hábil em cinco idiomas. Falando e escrevendo correntemente alemão, inglês, francês, espanhol e português, uniu a formação de administração à especialização em hotelaria.
O pai, engenheiro, morreu num acidente aéreo, em 1976, em Campinas. Stefan com a mãe foram morar em Barretos, a terra dos rodeios que movimentam multidões – o último acabou na semana passada.
Meta cumprida por lá, se transferiu primeiro para Dois Córregos, onde arrendou o Hotel Estância Santa Paula, e depois para Avaré, onde atuou por 18 anos junto aos hotéis Berro d’Água e Península.
Sentiu que tinha que dar um salto, já que no passado os empreendimentos não tinham uma completa preocupação com o meio ambiente. Alguns, por exemplo, não respeitam o limite de 100 metros de distância da beira do rio, outros não tratam o esgoto.
Quis dar sua parte à humanidade e transformou um antigo sítio da família, com 32 alqueires, em algo novo. Um hotel com 48 apartamentos – a meta é chegar aos 96 – e que não agride a natureza. Localizado entre o asfalto da rodovia e o rio, esse trecho que antes era somente um pasto seco de cerrado, hoje conta com áreas onde animais capturados pela Polícia Florestal e pelo Ibama recebem tratamento e alimentação correta. Stefan conta que os macacos-prego que ajudou a salvar já se deram alguns gastos extras. Longe de seu habitat natural e recolocados na mata ciliar exuberante, plantada pelo estabelecimento para que vivessem como tal, acabaram invadindo propriedades do contorno.
Com isso, Stefan teve que mudar seu objetivo e hoje os macaquinhos têm seu círculo cercado. “Tive que dar muitas cestas básicas para ressarcir os prejuízos”, diz, sorridente, se encantando com as araras, os periquitos, os sagüis, jacarés, quatis e os índios guaranis que vivem na área.