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Moto com escapamento alterado faz barulho e circula livremente

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 4 min

Ruídos quebram o silêncio da madrugada na avenida Duque de Caxias, em Bauru. Por várias vezes durante a noite. Por vários dias durante a semana. Quando chega o sábado, dormir parece tarefa impossível. São motocicletas, muitas delas com o escapamento modificado, que correm a toda velocidade, provocando um barulho ensurdecedor que não dá descanso à vida do aposentado Juraci Xavier, de 70 anos. E o pior, não há fiscalização do barulho de motos na cidade.

Agora que a Polícia Militar (PM) dispõe de decibelímetro, aparelho que mede a intensidade dos ruídos, poderá fiscalizar as motos nestes sentido, mas será apenas em operações específicas. Isso porque o motociclista barulhento não ficará em frente à casa do reclamante esperando a chegada da PM.

Xavier também reclama dos carros e caminhões que circulam diuturnamente em sua rua, mas é a moto é o grande problema, na opinião dele. “O barulho das motos incomoda não só a mim, mas toda a vizinhança. Atrapalha para falar ao telefone, ver televisão, conversar com uma visita dentro de casa. Nos finais de semana, ninguém dorme direito”, revela.

O uso de escapamentos ocos, comumente chamado de ‘abertos’, aumenta ainda mais o ronco dos motores e o desassossego dos moradores. E, em Bauru, esses barulhentos dificilmente são punidos, já que, visualmente, e com o veículo em movimento, o escapamento adulterado não é tão facilmente identificável.

Além disso, o decibelímetro doado pelo Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Centro/Sul à PM não está sendo utilizado porque ainda depende de aprovação do Inmetro para ser empregado na fiscalização do som produzido pelos veículos. “Enquanto isso, nós estamos fazendo um estudo para saber quais infrações poderão ser enquadradas pelo decibelímetro, para não cometermos nenhum erro”, afirma o tenente Willian Carlos Padovini, comandante da Base Sul da PM.

Exibicionismo

O fato é que muitos motoqueiros retiram os componentes internos dos escapamentos alegando que isso serviria para alertar motoristas desatenciosos no trânsito. Mas, para todos as pessoas ouvidas pela reportagem, o objetivo maior seria mesmo o exibicionismo. “O perfil desses motociclistas é de homens entre 18 e 30 anos e que gostam de muita velocidade”, afirma Giovani Machado, consultor técnico de uma concessionária de motocicletas que não faz alterações em escapamentos. Segundo ele, também é comum proprietários levarem suas motos com o escapamento aberto para fazer revisão na concessionária. “Muitos também trocam o escapamento original por outro, porque há alguns modelos mais antigos, de cerca de dez anos atrás, que provocam um ronco bem mais alto”, explica.

Da fábrica, o escapamento das motocicletas vem originalmente com todo um sistema de diminuição de ruído e poluição. Para provocar um ronco mais intenso, muitos proprietários procuram oficinas mecânicas para retirar o dispositivo que abafa o ruído do motor, chamado de ‘miolo’, deixando apenas o cano. Nesse caso, a descarga, tanto de gases poluentes como do som do motor, é direta.

De acordo com o técnico em escapamentos Henrique (que preferiu não ter o sobrenome divulgado), a prática é comum na cidade e o valor do serviço gira em torno de R$ 50,00. Aquele que optar por trocar o escapamento original por um modelo mais antigo e barulhento, desembolsará R$ 150,00, mais a mão-de-obra para a instalação. “Esse é o tipo mais procurado, porque trata-se de um escapamento barato”, explica o técnico.

Para aqueles que querem, ou podem, gastar um pouco mais, também há a opção de escapamentos esportivos, que possuem um ronco mais agudo. O preços variam entre R$ 200,00 e R$ 4.000,00, dependendo do modelo. Vale ressaltar que o uso de escapamentos diferentes do modelo original também configura prática irregular, já que altera as características do veículo.

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Difícil punição

Motociclistas flagrados utilizando escapamentos abertos ou diferentes do modelo correspondente ao veículo poderão sofrer sanções, segundo informou o tenente Silmar Escareli, comandante da Base de Trânsito da PM. O uso de escapamentos irregulares pode determinar a apreensão do veículo, pagamento de multa de R$ 127,00 e perda de cinco pontos na carteira. “Além disso, para resgatar o veículo, o motociclista terá de pagar à Ciretran taxas de guinchamento e estadia no pátio”, frisa.

De acordo com o tenente Willian Carlos Padovini, comandante da Base Sul da PM, assim que o decibelímetro entrar em operação, além de carros, motos também deverão ser fiscalizadas. Pela resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o ruído motocicletas pode alcançar, no máximo, 99 decibéis. Ultrapassado esse limite, o veículo já poderá ser autuado. “Motos que não estiverem utilizando escapamento aberto não chegarão a esse nível”, alerta Padovini.

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