Quem já ouviu e cantou grandes sucessos sertanejos como “Rédeas do Possante” com Zezé Di Camargo e Luciano, “Passa Lá” com Trio Parada Dura, “Bobeou a Gente Pimba”, regravada recentemente por Edson e Hudson, não imagina que o autor de todas essas músicas reside em Bauru. Elas são obras das mãos e mente do cantor e compositor Jotha Luiz, 58 anos.
Autor de aproximadamente 520 músicas, a maioria delas gravada e cantada por cantores sertanejos, Jotha nasceu em Castilho, a última cidade paulista às margens da rodovia Marechal Rondon antes de chegar no Estado de Mato Grosso do Sul.
Embora não tenha quase nenhuma ligação com sua cidade natal (ele veio para Bauru com 1 ano de idade), Jotha tem ela registrada no nome. Por uma interessante coincidência, seu nome de batismo é José Luiz Lindo de Castilho.
Quando jovem, ele deixou Bauru para trabalhar em São Paulo, onde permaneceu por 20 anos, tempo suficiente para firmar seu nome como um dos principais compositores do País. Quando retornou para a cidade, em 1991, várias músicas suas já faziam sucesso pelo Brasil e seu nome já não era mais José Luiz, mas Jotha Luiz.
Na entrevista concedida ao Jornal da Cidade, ele conta como compôs sua primeira letra e fala da emoção vê-la gravada por um artista famoso, algo que se tornaria corriqueiro algum tempo mais tarde. Embora, tenha o nome já consolidado no meio artístico, cada vez que uma música sua é gravada ou regravada é motivo de muita alegria. “É como se tivessem gravando uma música sua pela primeira vez.”
Um de seus últimos trabalhos foi compor a trilha sonora do documentário pelos 75 anos do Instituto Lauro de Souza Lima. E muitos outros vem por aí.
Jornal da Cidade – Quando você começou a compor?
Jotha Luiz – Eu comecei a compor profissionalmente em 1980 ou 81, mas antes eu já rabiscava alguma coisa, fazia poesias, tocava violão. Eu aprendi a tocar violão com o meu pai (José Lindo de Castilho), que também era músico e fazia dupla com a minha mãe (Guilhermina Pereira da Silva Castilho). Meus primeiros acordes aprendi com ele. Depois fui estudar violão na Escola de Música Villa-Lobos. Nessa época, eu trabalhava no banco Itaú em São Paulo.
JC – Você nasceu em São Paulo?
Jotha Luiz – Não. Eu nasci em Castilho. Fui criado em Bauru, mas fiz o meu nome como cantor e compositor em São Paulo.
JC – Como foi o início do carreira como músico?
Jotha Luiz – Depois que eu estudei e me aperfeiçoei no violão, me tornei um músico bom para fazer shows com os artistas. E eles começaram a me ligar. O primeiro com quem eu fui tocar foi o Tony Damito (já falecido). Depois fui trabalhar com Nilton César. Como ele era um cantor internacional, todo ano ele ia fazer show no Exterior. Teve uma vez que fiquei um mês com ele na África do Sul fazendo shows. Depois trabalhei com Matogrosso e Mathias. Viajei o Brasil inteiro com eles. Eu fui contrabaixista deles por muito tempo. Trabalhei também com Ricardo Braga.
JC – E como foi que você surgiu para o mundo da música como compositor? Qual foi sua primeira composição?
Jotha Luiz – Sabe quando você começa a inventar as coisas, a escrever histórias e montar uma música em cima daquela letra? Foi assim que eu descobri que levava jeito para aquilo. E comecei a escrever. Um dia, eu coloquei no papel “se você quiser viver bem sua vida, viva sempre sem inveja de ninguém. Se quiser viver em paz consigo mesmo, viva inteiramente para fazer o bem. Não adianta procurar felicidade se a maldade existe em nosso coração. É preciso semear o bem, abraçar o amigo quando vem, ter amor pra dar sem ver e sem saber a quem. Canta, canta. Quero ver você feliz. Canta, ainda existe amor nesse País.” Escrevi, gravei numa fita e engavetei. Depois disso, comecei a trabalhar profissionalmente com Nilton César. Nessa época, ele estava gravando um compacto simples e precisava de uma música. Aí eu falei que tinha alguma coisa pronta. Como eu estava trabalhando com ele fazia pouco tempo, fiquei meio acanhado, mas mesmo assim falei. Ele perguntou se tinha melodia. Eu disse que estava tudo pronto e ele mandou levar para ele ouvir. Levei, comecei a cantar e ele falou que ia gravar a música. Ele gravou e a música é sucesso até hoje. Ela chama “Canta Quero Ver Você Feliz”. Foi meu primeiro sucesso.
JC – E como surgiu o nome artístico Jotha Luiz?
Jotha Luiz – Naquela época, tinha o compositor e cantor Zé Luiz e tinha o José Luiz. E eu, José Luiz Lindo de Castilho, tinha de arrumar um nome artístico para mim também. Aí sugeriram que eu colocasse J.Luiz. Eu gostei da idéia, mas decidi escrever a palavra para diferenciar. E assim ficou Jotha Luiz.
JC – Imagino que ver uma música sua gravada por um artista famoso foi um incentivo tremendo para quem estava iniciando a carreira.
Jotha Luiz – Incentivou demais. É o mesmo que você começar em um emprego e o patrão passar a gostar do seu serviço. Você começa a fazer sucesso, se empolga e começa a crescer no trabalho que está fazendo. A mesma coisa aconteceu comigo.
JC – Você tem idéia de quantas letras de sua autoria foram gravadas?
Jotha Luiz – Hoje, acredito que tenha passado de 500 músicas. Deve ser umas 520 ou 525 músicas gravadas.
JC – E elas foram gravadas por quais artistas famosos?
Jotha Luiz – A primeira foi com o Nilton César. Depois disso, foram gravadas outras canções minhas por artistas que não eram famosos. Até que em 1985 o Trio Parada Dura gravou “Passa Lá”, outra música minha que fez e faz muito sucesso. É aquela: “por que você não passa lá? Você sabe onde me encontra, você tem meu endereço, mas você não passa lá”. Depois, Gilberto e Gilmar gravaram “Paixão”, novamente o Trio Parada Dura gravou “Bobeou a Gente Pimba”, que foi regravada por Edson e Hudson. Depois, Zezé Di Camargo e Luciano gravou “Rédeas do Possante” (“Cada palmo dessa estrada eu conheço bem. Vou levando minha vida nesse vai e vem”). Também foi outro grande sucesso, que hoje é tema do programa “Carga Pesada”, da Rede Globo. É também o tema de abertura e encerramento do programa “Pé na Estrada”, da Rede TV. Todo domingo, 9h30 da manhã, começa a tocar minha música. Tem também “A Rotina”, gravada por Leandro e Leonardo, “Cicatriz” por Renê e Ronaldo, “Papel de Chiclete” com Gian e Giovani, “Amor Aventureiro” com Rick e Renner, “Tá Chovendo Mulher” com Guilherme e Santiago, “Fui Eu” com César e Paulinho. Essa foi uma composição minha junto com o Cléber Santos, que até hoje toca direto nas rádios.
JC – Você só está falando de cantores mais novos. Teve músicas suas gravadas por artistas antigos?
Jotha Luiz – Tem. O Nelson Ned gravou música minha, o Jair Rodrigues, a Jayne, Eliana de Lima, o Sérgio Reis gravou “Cunhada Boa”, que foi regravada por Benê e Paulinho.
JC – E como é a sensação de ouvir uma música sua sendo tocada o tempo todo nas emissoras de rádios, na TV, sendo cantada por todos na rua, nos shows e saber que foi você que a escreveu?
Jotha Luiz – É uma alegria muito grande, até mesmo quando uma música é regravada porque você pensa que a música morreu, que as músicas velhas não vão tocar mais. De repente, você escuta suas músicas com uma roupagem nova. A emoção é muito grande. É como se o artista estivesse gravando uma música sua pela primeira vez.
JC – A maioria das tuas músicas foi gravada por artistas sertanejos. Você compõe para outros estilos também?
Jotha Luiz – Para o artista sobreviver, não só no Brasil, mas em qualquer país, ele tem de compor vários estilos. Então, eu faço músicas para forró, pop, romântica, bailão sertanejo, toada, música raiz, samba, pagode. O grupo Sereno gravou dois pagodes meus. Uma das músicas eu fiz com meu filho (Cristiano), que toca na banda.
JC – E você busca inspiração onde para compor suas músicas?
Jotha Luiz – Eu busco inspiração no dia-a-dia, na história da vida, nos problemas que as pessoas têm. Tudo isso fica na cabeça da gente, você vai para casa e começa a escrever.
JC – E como se dá esse contato entre você e os artistas interessados nas suas composições? Você os procura ou são eles que te procuram?
Jotha Luiz – Funciona das duas maneiras. O mais comum é eu ir até eles, porque eles não têm tempo. Depois de pronta, eu envio as músicas por e-mail, via correio ou pessoalmente, quando dá certo de eles fazerem um show aqui por perto.
JC – Quando é um artista que já gravou música sua fica mais fácil o acesso?
Jotha Luiz – Fica porque ele já conhece meu trabalho.
JC – Por seu trabalho já ser conhecido no meio artístico, você consegue viver só dos direitos autorais?
Jotha Luiz – Como são mais de 500 músicas gravadas, hoje dá para viver com o que eu recebo pelos direitos autorais. Eu plantei bastante na minha juventude. Eu não dormia. Eu passava a noite em claro fazendo música e no outro dia ela estava pronta. Eu corri muito atrás para ter o repertório que tenho hoje. Eu consigo sobreviver das músicas porque elas são sempre regravadas. Cada vez que isso acontece, você ganha de novo, como se fosse uma música nova. Você vê o “Bobeou a Gente Pimba”, ela tem 20 anos e foi regravada recentemente por Edson e Hudson. Quanto mais sucesso faz uma música, quanto mais ela vende, mais eu recebo pelos direitos autorais. Eu consigo sobreviver da música também porque dou meus pulos.
JC – Você continua fazendo shows?
Jotha Luiz – Sim. Toco em festa do peão, em aniversário de cidade, faço shows em fazenda, em chácara, nas empresas.
JC – Em média, são quantos shows por mês?
Jotha Luiz – São, mais ou menos, quatro ou cinco shows por mês. Trabalho também como júri de festival de música sertaneja.
JC – E o que você tem visto por aí? Tem gente com talento que ainda não foi descoberta?
Jotha Luiz – Tem muita coisa boa na nossa região, principalmente em cidades como Duartina, Ubirajara, Arealva, Bariri. São jovens e pessoas mais velhas que tocam muito. Tem uma geração nova de violeiros que dá gosto de ouvir. Eles são maravilhosos. Por isso que eu chamo a atenção dos prefeitos para fazer um CD com os finalistas dos festivais. Porque incentiva os músicos e dá mais visibilidade para o talento deles. Tem festival que os dez finalistas mereceriam o primeiro lugar.
JC – Além dos shows, você também faz jingles comerciais. A procura é grande?
Jotha Luiz – Demais. O jingle do Supermercado Panelão é meu: “eu vou no Panelão, eu vou no Panelão”. Eu fiz um para a Baurucar: “seu filho está crescendo e quer um carro pra rodar, consórcio plano Baurucar, consórcio plano Baurucar. Sua filha vai casar e não tem onde morar, consórcio plano Baurucar, consórcio plano Baurucar”. Tem também o jingle do Supermercado Confiança e outros novos que devem sair em breve. Faço também jingles políticos. Já fiz para o deputado Pedro Tobias, para o Marcelo Borges, Faria Neto, Caio Coube, Rodrigo Agostinho. São inúmeros. Se eu for citar todos, a lista vai ficar grande.
JC – Deixando a música de lado, tem alguma outra coisa que você gosta de fazer?
Jotha Luiz – Um churrasquinho, né? É a minha segunda paixão. Cada sucesso nosso é um churrasquinho. É muito gostoso reunir os amigos para comer uma carninha e tomar uma cervejinha, sem esquecer do violão. Não tem jeito, a música está presente em todos os momentos.