Está tudo pronto para a festa de hoje em comemoração aos 100 anos da simpática e animada Maria Aparecida de Almeida Fraga. Filha do major Antônio G. Fraga, prefeito de Bauru na década de 30, a centenária é a sexta filha de uma família de 14 irmãos. E, para marcar esta data especial, o aniversário será comemorado em grande estilo, com um jantar que deve reunir, aproximadamente, 300 pessoas entre familiares e amigos.
Falante, Maria Aparecida, que é assinante do JC desde a fundação, que em agosto completa 42 anos, aguardava ansiosa a equipe de reportagem para o dia que deixaria de ser uma leitora e se tornaria notícia. Sentada na sala de jantar de sua casa, ela relembrou algumas histórias marcantes destes 100 anos.
Professora primária durante 25 anos em uma colônia japonesa, que ficava na estrada entre Bauru e o distrito de Tibiriçá, a centenária adora ler jornais, assistir noticiários e novelas. “Leio do título até a última palavra da página todos os dias. A leitura já faz parte do meu dia-a-dia. Assino o Jornal da Cidade desde que foi criado. Além disso, assisto noticiário e leio livros e revistas. Tenho vista boa ainda”, conta, risonha. “Eu gosto de ler tudo, pois quero saber como vai o Brasil. Papai sempre foi político e eu também me interesso por esses assuntos”, acrescenta Maria Aparecida.
A aniversariante e mais três irmãs, das sete mulheres, se formaram professoras e trabalharam juntas na colônia japonesa. Há pouco tempo, um ex-aluno ligou para ela após ver o nome na lista telefônica para confirmar se era a mesma pessoa. “Para ser sincera, nos formamos professoras porque morávamos em Jaú e essa era a única escola que tinha na cidade. Éramos 14 filhos e papai não tinha condições de mandar todos para estudar em outra cidade”, conta. “Esses tempos ligou um ex-aluno após ver o nome na lista para saber se realmente era eu. Conversamos foi muito bom”, complementa.
Sexta filha, ela e o caçula, de 82 anos, são os únicos vivos. Apesar de não ter se casado e de não ter filhos, Maria Aparecida nunca está sozinha. “Tenho muitos sobrinhos, que sempre estão comigo. Uma vez por mês todos se reúnem em casa. Também tenho uma pessoa que mora comigo, que posso dizer que é minha irmã, de tão boa que ela é. Ela me quer muito bem e eu a ela”, revela. “Claro que não posso dizer que é como antes, principalmente porque estava acostumada a sentar-me à mesa com 18 pessoas”, relembra a centenária. Nenhuma das filhas do major Fraga se casou. “Isso é engraçado. Mas todos os meus irmãos, os sete homens, se casaram”, afirma.
A vida em Bauru
Maria Aparecida morou com a família em Jaú até o fim dos estudos do magistério. Na época em que seu pai foi prefeito em Bauru, entre os anos de 1930 e 1934, a família morava em uma fazenda perto de Bauru e tinha uma casa na rua Cussy Júnior. “Íamos para a casa aos sábados, domingos e feriados para ficar com papai. Às vezes, minha mãe vinha para a cidade durante a semana para ficar com ele e, quando isso acontecia, a irmã mais velha tinha que cuidar da casa e dos irmãos”, conta. “Papai sempre foi fazendeiro e minha mãe sempre foi uma ótima dona de casa. Éramos 14 irmãos e nunca ficamos brigados um com o outro. Fomos uma família feliz e eu me julgo uma pessoa feliz. Tive tristezas, mas as alegrias superam tudo”, acrescenta a aniversariante, que não tirou o sorriso do rosto durante toda a entrevista.
A vida educacional bauruense ganhou um grande presente na época em que major Fraga era prefeito. No dia 11 de agosto de 1934, ele criou o Ginásio do Estado pela lei n.º 6601. Na área esportiva, o Lusitana F.C. (hoje Bauru Atlético Clube) inaugurava o seu estádio, onde atualmente funciona as instalações do tradicional grêmio alviceleste.
Além disso, o major doou terras para a instalação da Santa Casa de Misericórdia na cidade. “Lembro que papai doou umas terras que tinha em Tibiriçá para a Santa Casa. Na época, eles lotearam o terreno e venderam. A renda foi para a criação do hospital”, conta.
Maria Aparecida mora em Bauru desde 1954 e até hoje vive na mesma casa, na rua Manoel Bento Cruz. “Nós vendemos a fazenda cinco anos depois que papai morreu e, como grande parte dos meus irmãos já moravam em Bauru, viemos para cá”, recorda. “Bauru de hoje não pode ser comparada com a Bauru de 1930. Não tinha a avenida Duque de Caxias e as ruas eram todas de terra. Nunca imaginei que a cidade cresceria tanto e ficaria tão bonita”, complementa.
Sobre a festa em comemoração aos 100 anos, ela se diz ansiosa. “No ano passado, na minha festa de aniversário, contei 180 pessoas. Para este ano, vai ter muito mais. Vêm até as pessoas que moram em São Paulo. Se os meus sobrinhos querem fazer esta festa para mim, eu fico muito feliz”, assegura.
Católica praticante, a Igreja Santa Terezinha está entre os lugares preferidos da centenária na cidade. “Acho a igreja simplesmente maravilhosa”, afirma.
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Viajar é uma das paixões
Conhecer novos lugares e enfrentar desafios faz parte da vida de Maria Aparecida de Almeida Fraga. Ela relata que, quando foi inaugurado o Aeroporto de Bauru, fez questão de dar uma “volta” sobre a cidade. “Eu experimento de tudo. Quando fui para Campos do Jordão e Poços de Caldas, andei de teleférico”, conta.
Quando sua irmã Ezaltira era viva, elas foram para a Europa e conheceram dez países. “Achei tudo maravilhoso. Passamos mais tempo em Portugal, a terra de meu avô”, recorda. “Depois, programamos uma viagem para conhecer a Terra Santa, mas minha irmã ficou doente e faleceu. Então, acabei não indo. Fiquei muito aborrecida e meus sobrinhos me levaram para viajar por aqui mesmo e eu suportei melhor. Ia muito para Campos do Jordão e Poços de Caldas na época de calor porque Bauru é muito quente e nesses lugares é mais gostoso”, acrescenta Maria Aparecida.
Ela também conheceu a região Sul do Brasil. “Apenas para as Cataratas do Iguaçu fui umas seis vezes. É muito lindo lá”, afirma. Maria Aparecida dá a receita para manter o pique, a disposição e a boa memória: felicidade e fé. “Vivi 100 anos feliz e rezo muito. É isso que faço”, finaliza.