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Entrevista da Semana: Cláudio Antônio Berriel Ricci: ‘Sucesso é unir prazer à honestidade’

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 9 min

Um bauruense de coração que nasceu em Serra do Navio, no Amapá, onde o pai, médico, trabalhava em uma empresa de mineração de manganês. Assim começou a trajetória do arquiteto Cláudio Antônio Berriel Ricci, cuja infância foi marcada pela liberdade de correr livre por entre as matas do Amazonas. “Vivi no Norte do País até os 12 ou 13 anos. Fase inesquecível e cheia de boas lembranças”, relata.

Apaixonado por cinema, peralta e cheio de imaginação, sua maior diversão quando criança foi a produtora de filmes que montou com os amigos no Amazonas. A brincadeira de fazer filmes de índios e monstros tinha direito a produção, maquiagem e cobrança de ingressos. “Depois, montávamos uma espécie de entrega do Oscar e concorríamos com os filmes que outros meninos faziam. Quanta diversão...”, recorda-se, saudoso.

Da selva, este menino sonhador foi para os Estados Unidos da América. Aos 17 anos, Cláudio fez intercâmbio na terra do “Tio Sam”, período que considera ter sido decisivo para a escolha de sua carreira. “Digo isso porque a pretensão era ser médico, como boa parte da família, mas passei a pensar no que realmente eu gostava”.

O desenho por paixão e a arquitetura como profissão. Foi como unir o útil ao agradável. Ele apostou em algo que traria realização e, hoje, diz que está muito satisfeito com a carreira que escolheu e batalhou para ter sucesso. “Tive um mestre na minha profissão: Jurandyr Bueno Filho, um dos responsáveis pela popularização da arquitetura”, afirma.

Junto com o sócio Luís Higa, ele abriu o escritório Ricci e Higa Arquitetos, onde há mais de 20 anos desenvolvem projetos de destaque na cidade e no Estado como as ampliações do Bauru Shopping, a Galeria 21 Center, a sede da Unimed e a Rede Graal de postos.

Cláudio foi presidente da Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru (Assenag) de 2000 a 2002 e agora, em 2010, volta à diretoria como vice. Profissão, infância, juventude, família e planos fazem parte da entrevista que ele concedeu ao Jornal da Cidade. Confira os principais trechos abaixo.

Jornal da Cidade – Sua família é da região de Bauru? Como foi nascer no Amapá?

Cláudio Antônio Berriel Ricci – Isso aconteceu porque meu pai era médico e trabalhava em uma empresa de mineração de manganês. Ele e minha mãe foram para o Norte, onde eu e meu irmão nascemos. Alguns anos depois, voltamos a Bauru e papai atuou como pediatra e, em seguida, fomos para São Paulo. Tempos depois, nos mudamos para Manaus onde meu pai foi secretário de Estado da Saúde. Vivi no Amazonas até os 12 ou 13 anos, até voltarmos para cá. Aos 17 anos fui morar como intercambista nos Estados Unidos da América.

JC – Como foi viver fora do País?

Cláudio - Eu estava no segundo ano do ensino médio quando consegui uma bolsa de estudos através do Rotary Club. Naquela época, não era comum um adolescente estudar fora do Brasil. Foi uma experiência muito interessante. Tudo era muito diferente, desde roupas à tecnologia.

JC – O que a viagem acrescentou à sua bagagem?

Cláudio - Vivi nos Estados Unidos por um ano, quando terminei o ensino médio. Quase não falava inglês. Apesar de algumas dificuldades, a vontade de conhecer e morar em um lugar diferente era tão grande que me adaptei rápido. Gostei muito do modo de vida americano. Não tive problemas com a comida, língua ou cultura deles. Voltei mudado, inclusive sobre a faculdade que pretendia fazer. Aconselho aos jovens que façam um intercâmbio porque isso muda o modo de pensar a vida.

JC – O que pretendia antes da arquitetura?

Cláudio - Medicina, que é a tendência da minha família. Mas, comecei a pensar muito sobre coisas que realmente gostava, como cinema, por exemplo. Naquela época, pensei em fazer escola de cinema. Outra paixão era o desenho, então pensava em fazer arquitetura mesmo sem saber muito bem o que era a profissão. Dentro das muitas e diferentes matérias que estudei na High School, uma me chamou a atenção: montávamos casas pré-fabricadas e outras coisas do tipo. Os projetos eram feitos dentro da escola e depois doados ou vendidos. Quando voltei ao Brasil, passei a pensar seriamente sobre isso.

JC – Por que desistiu do cinema?

Cláudio - Eu acreditava que o campo no Brasil era muito difícil, então, enfrentar essa empreitada pareceu não ser uma boa ideia. A família também não era muito favorável, queriam que eu tivesse uma profissão do tipo médico, engenheiro ou advogado. Mas eu entendi perfeitamente e hoje vejo meus filmes no cinema. Eles continuam sendo uma paixão.

JC – Por que a arquitetura?

Cláudio - Sempre gostei de desenhar e a arquitetura tem um lado artístico. Acho que herdei esse lado do meu pai que, embora médico, foi um pintor e escultor de mão cheia. Achei que a profissão iria me completar e foi o que aconteceu. Cheguei a prestar vestibular para medicina, mas não passei. Nesse meio tempo, apareceu a faculdade de arquitetura em Bauru. Sou da primeira turma do curso que hoje pertence à Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fiz estágio com o Jurandir Bueno, que foi outra escola para mim. Costumo dizer que tive duas escolas: a Unesp e o escritório do Jurandyr.

JC – Com o Jurandyr veio a prática?

Cláudio - Exatamente. Aprendi muita coisa com ele. Fortaleci as ideias que já tinha, produzi muita coisa no escritório dele e ficamos amigos. Quando me formei, quis lançar voo próprio e montei um escritório pequeno com Luís Higa, meu sócio há 21 anos, e começamos nossa empreitada.

JC – Imagino que tenha muitos projetos de destaque ao longo desses anos.

Cláudio - Muitos, sim. Posso destacar como os mais relevantes as ampliações do Bauru Shopping, a Galeria 21 Center, a sede da Unimed e a Rede Graal de postos, onde começou há 13 anos com meia dúzia de estabelecimentos e, hoje, está com mais ou menos 50.

JC – Quais foram as dificuldades do início da carreira?

Cláudio - Passamos por muitas delas, principalmente porque há algumas décadas a arquitetura não era tão conhecida e respeitada. Antes, os projetos eram feitos com engenheiros e desenhistas, o arquiteto era a figura elitizada. O mérito da popularização é do Jurandyr. Atualmente não ouvimos alguém falando em projetos sem pensar na contratação de um arquiteto. O mercado está aquecido e acredito que ninguém tem dúvidas sobre o que é nosso trabalho. Começamos com poucos projetos na cidade e fomos levando nosso trabalho por toda a região e até para outros estados.

JC – Está sempre em sintonia com as novidades da área?

Cláudio - Isso é muito importante. Sempre participamos de feiras e congressos no Brasil e exterior. Viajamos com um grupo para conhecer novas tecnologias, materiais e novidades da área.

JC – Quais são os planos atuais?

Cláudio - Fui presidente da Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru (Assenag) de 2000 a 2002 e, naquele mesmo período, fui presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAD) – Núcleo Bauru. Foi um período muito legal. Consegui conciliar as presidências, trabalho e família. Fizemos eventos bacanas com grandes arquitetos. Vou voltar para a diretoria da Assenag como vice, neste ano de 2010.

JC – Desenho é um hobby?

Cláudio - Faço alguns desenhos artísticos. Gosto de pintar paisagens, trabalhar com tinta nanquim... São desenhos que faço para me distrair. Outro hobby é o cinema. Adoro. Vou a todos os lançamentos e vejo muitos DVD’s. Participei, inclusive, do Cine Clube de Bauru no começo dos anos 80, era moleque e estava sempre envolvido com o que dizia respeito aos filmes.

JC - Viajar também é uma paixão?

Cláudio - Posso dizer que sim. Gosto muito de viajar. Conheço bem os Estados Unidos, alguns países da Europa, Canadá e alguns lugares da América do Sul. Viajo na maioria das vezes a trabalho e estou sempre aprendendo coisas novas, mesmo quando a passeio. Poder conhecer construções antigas e históricas da Europa não tem preço, principalmente igrejas e prédios de mais de mil anos. Também viajo bastante pelo Brasil, embora acredite que deveria conhecer mais as belezas arquitetônicas do nosso País.

JC – Como foi sua infância?

Cláudio - Foi muito gostosa. Nasci em Serra do Navio, mas saí logo de lá, não tenho muitas lembranças e, em Bauru, ficamos um período muito curto. Durante os anos em que morei em São Paulo, a vida era fechada, não saía de casa. Já quando fomos para Manaus... Aquilo era uma maravilha! Morava praticamente dentro da selva, andava descalço, sem camiseta... Era uma liberdade maravilhosa.

JC – Foi muito peralta?

Cláudio - Fui cineasta (risos). Como lá tem a Zona Franca de Manaus, era fácil conseguir máquinas. Tinha uma produtora de filmes com alguns amigos. Fazíamos filmes de índios, monstros... Com produção, maquiagem e tudo mais. Outros meninos também faziam os seus filmes e, depois, montávamos uma “entrega do Oscar”. Fazíamos sessão de cinema e com direito a cobrança de ingressos.

JC – Passou por muitas aventuras nos EUA?

Cláudio - Como viajei pelo Rotary, o programa previa pacotes para conhecer pontos turísticos das localidades. Tive uma namoradinha muito legal por lá, engordei muito (risos) e conheci muita gente do mundo inteiro. Dentro da tradição dos colégios americanos tem o “livro do ano”, onde tudo o que você faz é eternizado nele. Ajudei a fazer a edição desses livros, como uma espécie de jornalista. Foi uma fase muito boa da minha vida.

JC- Você é um homem realizado?

Cláudio - Sou. Gosto muito da profissão que escolhi e de tudo que faço. Fui professor da Universidade Paulista (Unip) durante quatro anos e tive a oportunidade de passar minha experiência para os alunos. Foi um período muito interessante, mas acredito não ter tempo para me dedicar à carreira de professor. Esse é um período da família, escritório e Assenag. O plano é continuar trabalhando e inovando.

JC – Família?

Cláudio - Família é tudo. Estou no meu segundo casamento. Viajamos, ficamos em casa e nos divertimos juntos. Tenho muito orgulho do meu pai, que foi uma pessoa muito honesta e me passou seus ideais, agora tento passar isso a meus filhos. A família impulsiona a vida e a vida é estar bem com a família, amigos e trabalho.

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Perfil

• Nome: Cláudio Antônio Berriel Ricci

• Idade: 47 anos

• Local de Nascimento: Serra do Navio/AP

• Signo: Libra

• Esposa: Isabel

• Filhos: Bruna, José Henrique e Amanda

• Hobby: Desenhar

• Livro de cabeceira: “O lobo do estepe”, de Hermann Hess

• Filme preferido: “Doutor Jivago”

• Estilo musical predileto: Rock

• Time: Palmeiras

• Para quem dá nota 10: Para meu pai Antônio Ricci

• Para quem dá nota 0: Aos ditadores da América Latina

• E-mail: ricci@travelnet.com.br

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