Regional

Quem mais emprega em Agudos ainda é a prefeitura

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 8 min

Na região tributária de Bauru, o município de Agudos (distante 13 quilômetros) figura como uma das maiores arrecadações. Em seu território estão instaladas grandes empresas como a Ambev e a Duratex, porém, a renda per capita domiciliar é uma das mais baixas da microrregião. Atinge os R$ 691,00 e perde para Arealva (R$ 721,00), Barra Bonita (R$ 846,00), Bocaina (R$ 801,00).

O secretário das Finanças de Agudos, Carlos Roberto de Paula Lima, explica que a indústria gera renda per capita, PIB, riqueza para o município e isso necessariamente não é sinônimo de renda para o trabalhador.

“As empresas daqui geram PIB que é o que o município produz. Essas grandes indústrias não são geradoras de emprego. São poucas vagas e não empregam só agudenses. Os executivos são de outras cidades e eles é que recebem os melhores salários. Se pegar a Ambev, por exemplo, dos cargos de chefia e gerência, 90% não é da cidade. O nosso orçamento per capita é muito maior do que os outros municípios da região. As grandes indústrias geram lucro para os acionistas e não para as pessoas que trabalham e moram na cidade.”

 

Tecnologia e idade  

“Nas fábricas o maior número de moradores de Agudos está no setor operacional. São funcionários na faixa salarial mais baixa. Essas empresas requisitam funcionários mais qualificados. Não que no município não tenha, mas buscam no mercado regional e até nacional”, avalia Lima. 

Para ele, a mão de obra da população da cidade está empregada em centros de médio porte como Bauru. “A maior parte dos moradores daqui trabalha fora, em Bauru e região. O volume maior é Bauru.”

A tecnologia utilizada nas grandes empresas dispensa a mão de obra dos humanos, observa o diretor. “Com o uso de tecnologia, as empresas, embora sejam muito grandes, utilizam pouco o trabalho do homem. Quem gera emprego são as pequenas indústrias que existem, mas não em número suficiente”.

Dos 35 mil habitantes mais de 50% trabalham fora do município. “Na faixa etária de pessoas ativas de 70% a 80% trabalham fora de Agudos. O maior empregador no município é o Executivo.  Como em qualquer município pequeno, quem mais emprega é a prefeitura.”

 

Corrente contrária: são prefeituras que deixaram de liderar admissões

Um dado que surpreendeu nos municípios da microrregião de Bauru é que em muitos deles a prefeitura deixou de ser o maior empregador. Para o economista Reinaldo Cafeo a mudança é positiva.

“Parece que está mudando. E para melhor. Normalmente as pequenas prefeituras acabam tendo uma renumeração menor do que o setor privado porque têm amarras políticas, têm limitação da lei de responsabilidade fiscal, precisam abrigar muita gente. Então o salário médio do setor público municipal é sempre menor.”

Essa mobilidade, saindo da dependência do setor público e indo para o privado, é positiva porque dá a oportunidade de crescimento profissional mais rapidamente. Isso tem refletido em melhoria de renda. “É um caminho para as pequenas cidades, até para retenção de seus jovens. O jovem que não tem alternativa profissional em sua cidade procura os grandes e médios centros. É muito importante incentivar o setor privado para reter talentos.”

 

Mais de 50% dos domicílios paulistas tem rendimento de até três salários mínimos

Um estudo da Fundação Seade, de 2010, aponta que entre os domicílios brasileiros, 27,7% concentram rendimentos de até meio salário mínimo per capita. No Estado de São Paulo, a proporção é de 14,8%.

Na faixa intermediária de rendimentos, de meio a três salários mínimos per capita, estão 58% dos domicílios no país e 66,1% dos paulistas.

O rendimento domiciliar per capita foi de R$ 691,00 em Agudos e de R$ 1.080 no Estado. No município, 18,8%dos domicílios concentram rendimentos de até meio salário mínimo per capita, proporção que é 14,7% no Estado. Na faixa intermediária de rendimentos, de meio a três salários mínimos per capita, situam-se 72,4% dos domicílios de Agudos, em comparação a 66,1% dos paulistas.

Em Barra Bonita o rendimento domiciliar per capita foi de R$ 846,00 e de R$ 1.080 no Estado. No município, 10,8% dos domicílios concentram rendimentos de até meio salário mínimo per capita, proporção que é 14,7% no Estado. Na faixa intermediária de rendimentos, situam-se 77,8% dos domicílios de Barra Bonita, em comparação a 66,1% dos paulistas.

Em Bocaina, o rendimento domiciliar per capita foi de R$ 801,00 e de R$ 1.080 no Estado; 10,4% dos domicílios concentram rendimentos de até meio salário mínimo per capita, proporção que é 14,7% no Estado.

Na faixa intermediária de rendimentos, de meio a três salários mínimos per capita, situam-se 79,6% dos domicílios de Bocaina, em comparação a 66,1% dos paulistas. Itapuí apresenta um rendimento domiciliar per capita de R$ 713,00 e de R$ 1.080 no Estado. No município, 13,1% dos domicílios concentram rendimentos de até meio salário mínimo per capita, proporção que é 14,7% no Estado. Na faixa intermediária de rendimentos situam-se 77,9% dos domicílios de Itapuí, em comparação a 66,1% dos paulistas.

 

E para concluir...

Lençóis Paulista exibe um dos rendimentos domiciliares per capita mais altos, atingiu R$ 848,00 e de R$ 1.080 no Estado. No município,13,2% os domicílios concentram rendimentos de até meio salário mínimo per capita, proporção que é 14,7% no Estado. Na faixa intermediária de rendimentos situam-se 74,3% dos domicílios de Lençóis Paulista, em comparação a 66,1% dos paulistas.

 

Barra Bonita tem usina e turismo que ajudam na renda das famílias

No município de Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru) a renda per capita domiciliar é uma das melhores, atinge os R$ 846,00, segundo a Fundação Seade. Perde para Jaú que tem uma per capita domiciliar de R$ 926,00 e para Botucatu com R$ 1.124,00. O motivo é simples diz o coordenador do planejamento urbano, Lázaro Luiz Gasparoto.

“Temos uma unidade da Cosan, que é a maior empregadora. Ela renumera bem seus funcionários e ainda agrega valores. Oferece muitos benefícios aos seus funcionários como refeição, plano de saúde etc.”

“Os executivos não moram aqui, mas os trabalhadores ganham um bom salário. Direta e indiretamente trabalham na usina aproximadamente 40% da população.”

Para se ter uma noção do tamanho da unidade, Gasparoto lembra que diariamente na usina são servidas cinco mil refeições.

“Isso reflete no comércio. Com mais dinheiro disponível, o trabalhador gasta no comércio local. Não só as lojas que nasceram aqui, mas os grandes magazines se instalaram na cidade de olho nesse consumo.”

Segundo o coordenador, outros setores pagam bem seus funcionários e acabaram influenciando na pesquisa da Fundação Seade. “Temos uma usina de geração de energia, pessoal da Marinha e o Poder Judiciário”.

E, claro, o turismo “puxado” pelo rio Tietê é outro setor que emprega uma parcela da população.

 

Indústria coureira e usina garantem bons salários a morador de Bocaina

A cidade de Bocaina (69 quilômetros de Bauru) tem pouco mais de 10 mil habitantes. O setor coureiro é o maior empregador com cerca de 2,5 mil pessoas na atividade, sendo duas mil costureiras que trabalham em casa. Tem ainda uma usina de açúcar - e a prefeitura que figura como a segunda maior empregadora. 

A capital do IPI de raspa de couro tem muitos empreendedores individuais, segundo a assessoria de imprensa. São pessoas que costuram luvas e outras peças usadas na construção civil em suas casas e conquistam uma renda superior a um salário mínimo. Pelos dados da pesquisa da Fundação Seade, a renda per capita domiciliar de Bocaina é de R$ 801,00.

 

Itapuí  ‘segura’ os funcionários do alto escalão de empresas

A cidade de Itapuí (44 quilômetros de Bauru) tem pouco mais de 12 mil habitantes e está, segundo dados da Fundação Seade, entre as que têm uma renda per capita domiciliar das melhores na microrregião de Bauru, atingiu os R$ 713,00. A causa é simples: empresas que nasceram no município atraíram executivos e mão de obra mais qualificada, que recebem salários mais pomposos.

O diretor de Finanças da administração local, Sérgio de Paiva Bueno, explica que se tomarmos como base o tamanho da cidade, nela há grandes empresas instaladas.

“São empresas que nasceram aqui e a expansão delas garantiu empregos para os moradores. Além de atrair profissionais mais qualificados, os executivos que ganham bons salários passaram a morar aqui. Vieram atraídos pelos cargos e pela tranquilidade do Interior paulista. Chegaram da Capital e de cidades da região.”

Bueno frisa que além do matadouro de aves e da distribuidora de material de papelaria, há cinco indústrias de móveis, outras menores no setor de madeira e uma empresa de artigos para desenho técnico e topografia que disputam a mão de obra. “O frigorífico oferece 500 vagas diretas número que atinge 1.200 se somarmos os empregos indiretos gerados pelo setor. A empresa é a maior empregadora do município e oferece salários razoáveis.”

Na segunda colocação no ranking de vagas vem a distribuidora de material de papelaria. “Ambas geram os maiores valores de ICMS para o município e por pagarem salários razoáveis, influenciam na renda per capita domiciliar. As duas fretam ônibus para transporte de funcionários da região. Buscam mão de obra em Bauru, Bariri, Boracéia, Pederneiras e Jaú.” Em tempo: as indústrias locais garantiram aos moradores um maior poder aquisitivo que refletiu no comércio local.

“Como o poder aquisitivo da população aumentou, houve crescimento do comércio. Os já existentes ampliaram e abriram novas lojas, especialmente no setor alimentício. Os supermercados melhoraram, oferecem mercadorias que antigamente só eram encontradas nas grandes redes.”

Mesmo assim, há desemprego. Embora a taxa nunca ultrapasse o suportável, de acordo com o diretor.

“A rotatividade nessas empresas é grande. Uma pessoa que dá problema na empresa, nunca mais é admitida. Isso acabou fazendo com que as empresas buscassem mão de obra nas cidades próximas. Quem fica desempregado aqui vai para a área rural, na cultura da laranja, porque o corte de cana está mecanizado.”

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