O que é vida! Para seguidores do existencialismo, existimos apenas depois da plena consciência do nosso papel no mundo. Antes desta consciência, não existiria vida.
As bactérias têm metabolismo próprio, respira, sintetiza: tem vida. Os vírus parasitam células para sintetizar e proliferar pois não têm autonomia para criar energia: seriam formas de vida? O metabolismo poderia ser um critério para determinar se algo tem vida.
Quando interagem, os animais se comunicam, expressam e transmitem sentimentos no olhar e postura com gestos de enfrentamento e submissão. Teriam consciência de si mesmos?
Alguns não gostam de pensar sobre isto, mas é necessário. Dizia Sócrates, o pai do pensamento ocidental: uma vida sem reflexões, não merece ser vivida. Se o homem não questionar e refletir pode acontecer coisas como a escravidão. Com o apoio de muitos, inclusive da igreja, os negros e índios eram escravizados sob a certeza que não teriam alma, tal qual os animais. Parece absurdo hoje, mas era o pensamento dominante na época!
O que foi mais cruel: o holocausto ou a escravidão? Será que não relativizamos a escravidão por que servia ao modelo econômico e por dinheiro vale tudo! Por que não se enfrentou o nazismo desde os primeiros sinais de crueldade?
Será que daqui a alguns anos não chegaremos à conclusão que animais tem consciência do que ocorre ao redor ou que têm alma. Seremos “obrigados” a pedir perdão aos animais como aconteceu com os negros, índios e judeus?
Os movimentos sociais mais refinados tendem a ser liderados pelos intelectuais, cientistas e artistas talvez pela maior sensibilidade ou pelas atividades reflexivas que exercem.
Um manifesto de cientistas ganha corpo em favor da consciência animal a partir da Conferência Mundial sobre as Bases Neurais da Consciência Animal na Universidade de Cambridge, uma das principais do mundo. Entre os líderes do Manifesto Cambridge sobre a Consciência em Animais Não Humanos está o neurocientista Philip Low da Universidade de Stanford e do MIT. Os cientistas fundamentam sua posição a partir dos progressos com as novas tecnologias ao testar velhas hipóteses sobre a capacidade mental dos animais.
Nos homens tem-se o neocórtex superdesenvolvido no cérebro, mas em algumas pessoas e em animais as emoções e sensações da afetividade estão em regiões sub-corticais, consideradas áreas mais primitivas. As aves, primatas, golfinhos, elefantes e orcas reconhecem-se quando à frente de espelhos. Alguns animais tem sonhos e alucinações semelhantes às dos humanos, inclusive aves. Existem fundamentações anatômicas, bioquímicas e fisiológicas para concluir-se que os animais exibem comportamentos intencionais e emocionais.
Philip Low ao lançar o manifesto afirmou que enquanto cientistas, ele e colegas sentiram o dever profissional e moral de relatar essas observações para o público geral. Inicialmente assinado por 25 pesquisadores, se destaca Irene Pepperberg da Universidade Harvard, cientista que estudou as refinadas capacidades cognitivas de reconhecimento de cores e palavras pelo papagaio Alex.
Entre os testes sobre consciência animal se destaca o espelho: se apresentarem reações de agressividade contra a imagem do reflexo indica falta de consciência de si mesmo. Animais que nunca viram espelho são anestesiados até dormirem quando se pinta um marca na sua cara. Ao acordar e encontrar um espelho, se brigar com reflexo ou tocar na mancha no espelho, indica que não tem consciência de si mesmo. Mas se tocar a marca na própria cara e não brigar com o reflexo isto representa um forte indicativo que tem consciência de si mesmo.
Os chimpanzés, bonobos, gorilas, orangotangos, golfinhos, orcas, elefantes e corvos passaram no teste do espelho. Das crianças, apenas passam no teste as com mais de 18 meses. Outros testes evidenciaram que primatas, elefantes, aves, lobos e outros também manifestaram sofrimento com a morte de parentes.
Enquanto os testes envolvem animais silvestres podemos indagar: e os domesticados como cães, gatos, bovinos, cavalos, frangos e porcos? E os utilizados nas pesquisas? Quando assistimos ou somos vítimas de injustiças e maldades protestamos e reagimos. E os animais que assistem a tudo de forma resignada, sem qualquer poder de reação.
Imaginem o que não passaram os negros e índios em solo brasileiro nas quatro ou cinco gerações anteriores à nossa!