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Agentes penitenciários de uma unidade prisional de Pirajuí (58 quilômetros de Bauru) apreenderam na semana passada uma espécie de “receita” de crack no interior de uma das celas. O manuscrito descreve com riqueza de detalhes como preparar a droga a partir da pedra bruta de cocaína.
A folha de papel contendo “ingredientes” e “modo de preparo” da droga foi descoberta durante revista de rotina em uma cela da Penitenciária “Dr. Luiz Gonzaga Vieira”, a chamada PII de Pirajuí, em meio aos pertences do reeducando E.S.L., de 22 anos. O fato ocorreu no último dia 9.
A folha de papel “ensina” passo a passo como fabricar o crack e cita os produtos químicos que devem ser adicionados à cocaína. No processo, são usados micro-ondas e liquidificador. A receita também dá dicas sobre como deve ser feita a secagem, por meio de “pendentes” ou “até mesmo no sol”.
O uso de termos como “derreter por etapa”, “mexendo uniforme” e “jogar na forma e provar” faz com que o manuscrito se assemelhe a uma receita de bolo ou torta. Um delegado ouvido pelo JC acredita que o papel poderia ser usado por um traficante de fora da cadeia como uma espécie de “selo de qualidade” (leia mais abaixo).
Quando os agentes chegaram, o detento ainda tentou dispensar 26 porções de maconha no vaso sanitário. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) declarou por meio da assessoria de imprensa que a folha de papel “supostamente” trata-se de “receita para fabricação de substância entorpecente conhecida como crack”.
Apesar da localização do manuscrito, a SAP informa que não há registro de apreensão de crack na PII. “O fato foi levado ao conhecimento da autoridade policial do Município para as devidas providências, com encaminhamento do material apreendido, sendo também instaurado Procedimento Apuratório Disciplinar em desfavor do reeducando”, informa.
“Selo de qualidade”
O delegado Dinair José da Silva, que presidia todos os inquéritos em Bauru envolvendo presídios antes da aglutinação na Central de Polícia Judiciária (CPJ), explica que a “receita de crack” pode ser uma forma que os traficantes encontraram de garantir a qualidade do seu produto na hora da comercialização.
“Eu não sei se a receita seria usada pelo preso ou se ele repassaria para um familiar em um dia de visita. Mas talvez seja para supervalorizar o valor da droga. Por exemplo, uma droga com receita e bem preparada talvez possa valer mais”, diz.
“Eles vão inovando. E tanto a polícia como a própria penitenciária trabalham com setor de inteligência e vão detectando, através de investigações, os meios para os quais eles vão migrando. Na medida em que a polícia vai descobrindo, eles vão mudando”.