Fotos: Malavolta Jr. |
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Uma Unidade de Resgate (UR) fez buscas emergenciais na lagoa |
A lagoa da Quinta da Bela Olinda, conhecida pela quantidade de jovens e crianças que já morreram afogados por ali – mais de 70 –, fez mais uma vítima na tarde desta terça-feira (3), quando três amigas brincavam no local. A falta de consciência dos moradores e também de uma atitude mais concreta por parte do poder público ainda deixam sem resposta a seguinte questão: até quando essas mortes vão ocorrer?
Duas adolescentes chegaram a se afogar. Uma delas, de 12 anos, teria sido resgatada por um rapaz, mas Karoline Beatriz Natal Dias, 11 anos, não sobreviveu. O corpo afundou e foi localizado pelo Corpo de Bombeiros cerca de uma hora e 15 minutos após o afogamento.
Conforme a reportagem apurou no local, três garotas se refrescavam do calor bauruense – que marcava mais de 31 graus – a cerca de quatro metros de distância da margem. A profundidade da lagoa tem várias oscilações e pode chegar a cinco metros de repente.
Segundo o tenente do Corpo de Bombeiros, Helder Kato, uma adolescente começou a se afogar e a amiga foi tentar salvá-la, mas também se afogou. A primeira vítima foi salva por um jovem, de 17 anos, que nadava na lagoa e ouviu o desespero das amigas. Mas, quando ele voltou para pegar a menina que tentou salvar a amiga, ela já havia sumido.
A vítima que foi salva acionou os bombeiros, que, com uma equipe da Unidade de Resgate, efetuou o mergulho emergencial de localização e possível ressuscitamento, por cerca de 20 minutos, mas não obteve sucesso em encontrá-la.
Em seguida, entrou na água uma equipe para fazer buscas pelo corpo, que foi localizado aproximadamente uma hora e 15 minutos após o afogamento, a cerca de três metros de onde foi indicado o incidente. Apesar de a lagoa ter bastante entulho e lixo, a menina não estava presa em nada.
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O corpo da adolescente foi localizado após mais de uma hora de buscas |
Sem preocupação
Durante as buscas pelo corpo da adolescente, moradora do Pousada da Esperança II, outras crianças e adolescentes brincavam na lagoa, sem se preocuparem com os riscos do local e da operação realizada pelos bombeiros. Existe uma placa na margem que alerta sobre o perigo de afogamento.
Uma das amigas contou aos policiais que foi a primeira vez que elas foram nadar na lagoa. As duas estavam muito nervosas e não se conformavam com o que tinha acontecido.
Irmão desolado
Após o corpo ser encontrado, o irmão da vítima fatal, de 16 anos, chegou ao local e fez questão de ver a adolescente já sem vida, apesar do alerta feito pelos policiais militares. Desolado, ele se isolou às margens da lagoa, onde chorou a perda da irmã, sem falar com ninguém.
As testemunhas, com seus responsáveis, e a mãe da vítima, que não esteve no local, foram encaminhadas à Central de Polícia Judiciária (CPJ). O corpo da adolescente foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) de Bauru.
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Conscientização e limpeza
Com a proximidade do verão, a tendência é de que os acidentes com pessoas que se arriscam na água voltem a ocorrer.
Questionado sobre as medidas que poderiam ser adotadas para evitar a ocorrência de novas mortes, o prefeito Rodrigo Agostinho informou que não há condições de cercar a lagoa ou mesmo contratar vigias para monitorar o local 24 horas por dia.
“Qualquer alambrado seria arrombado e até mesmo levado, como aconteceu tempos atrás com o bosque do Parque União. E também seria complicado deixar um funcionário o dia todo olhando para a lagoa”, pondera.
De acordo com ele, a prefeitura pretende ampliar suas ações de conscientização e não descarta a possibilidade de promover a reforma do local, com a limpeza profunda do lodo que fica no fundo da lagoa e que, hoje, é uma grande armadilha para quem se aventura a nadar por ali. “Seria uma forma de deixá-la menos perigosa”, completa.
Rodrigo destaca, no entanto, que a conscientização da população é a principal ferramenta para evitar novos acidentes, já que, nos próximos anos, a tendência é de que novas lagoas sejam construídas em Bauru.
“Há previsão de construção de lagoas junto a cada um dos córregos da cidade, para escoar a água das chuvas e controlar as enchentes. Se as pessoas não compreenderem e se prevenirem dos riscos, os acidentes voltarão a acontecer”, observa.
Outubro
No dia 5 de outubro, uma adolescente de 14 anos morreu afogada na mesma lagoa. Mariana Cristina Vieira Caetano era moradora do bairro Ferradura Mirim.
O coordenador da Defesa Civil em Bauru, Álvaro de Brito, já havia alertado no dia da morte de Mariana que o alto índice de mortalidade na lagoa da Quinta da Bela Olinda deve-se a duas características: o sedimento pegajoso que compõe o fundo da lagoa e o terreno irregular.
Além disso, a lagoa abriga uma grande quantidade de entulhos, como arames farpados e até carros e motos, o que acaba servindo de armadilha para os banhistas, que são, na maioria, adolescentes e crianças. No local, placas alertam sobre o perigo de nadar na lagoa.
No ano passado, uma placa colocada pela Secretaria do Meio Ambiente (Semma) informava que mais de 70 pessoas já morreram afogadas no local, que tem, aproximadamente, 60 mil metros quadrados de área. O problema é tão gritante que, em 2010, até o Ministério Público (MP) interferiu na questão, cobrando mais segurança.