Árvores centenárias, água limpa, ruínas de uma hidrelétrica, uma capela e muita história do segundo ciclo do café paulista fazem parte do cenário da Fazenda São João em Piratininga onde está o Museu do Café. Um espaço destinado à educação e ao turismo rural, ideal para quem gosta da natureza e deseja estudar ou contemplar os aspectos históricos.
A visita é feita em grupos e os idealizadores são os cicerones que dão dicas, explicam e mostram o espaço permeado de muita história da época da chamada “política café com leite”. A vedete do local são duas máquinas construídas em madeira maciça, engenhocas bem acabadas que faziam a seleção dos grãos pelo tamanho e densidade dos grãos.
Quem conhece a fazenda São João hoje não imagina que, no início do século XX, ela tinha 300 moradores, colonos que trabalhavam no café, explica Luiz Paulo Domingues. “O campo naquela época, como o Brasil, dependia da cultura do café. O campo era um lugar movimentado. Aqui tinha uma escola e capela, os bailes eram realizados dentro da tulha de café. Na vizinha propriedade tinha venda, farmacêutico, sapateiro e até cinema.”
As informações fazem parte da pesquisa que vem sendo feita para formar um acervo, avisa Domingues. “Da escola ficou o imóvel e o local onde eram colocadas as bandeiras. Das casas dos colonos e da hidrelétrica que fornecia energia elétrica para toda a propriedade ficaram as ruínas. Nas pesquisas, descobrimos que tinha fazenda na região com trabalho semi-escravo e escravidão até os anos 50. Os empregados não ganhavam salário, só recebiam na colheita ficavam se endividando nas vendas da fazenda e quando recebiam só tinham o suficiente para pagar a dívida. As crianças e adolescentes trabalhavam na lavoura.”
Antes de Piratininga ser fundada, todas as terras daquela região pertenciam a família de Rodrigues Alves. “Ele governou o Brasil de 1902 a 1906 nesse período eles compraram a fazenda Veado que fica em Piratininga. Ela abrangia todas essas áreas. Montaram um semi-feudo que ia até Cabrália Paulista.”
A cidade nasceu posteriormente quando as terras já pertenciam ao coronel Virgílio Alves, ele doou a terra para fazer a estação ferroviária e a Vila Piratininga. Informações sobre Museu do Café (14) 3265-1791 (www.museudocafepiratininga.com.br e contato@museucafepiratininga.com.br).
Espaço vai ter eventos
Os idealizadores do espaço avisam que o processo de elaboração de cursos está em andamento. “Estamos elaborando um curso de observação de pássaros, de captura e técnicas de manejo de aves. Cursos de fotografia. Uma chef de cozinha vai fazer eventos culturais nos finais de tarde com grupos de 10 pessoas. Nossa cozinha era rústica, ela já se adequou às normas da Vigilância Sanitária. Vamos ter o cinema, teatro e literatura que combina muito com isso aqui, um diretor de teatro já esteve aqui.”
Os passeios de bicicleta por trilhas também estão sendo programados. “Temos trilha para caminhada e para bikes. Passa por cachoeira, por trecho da Mata Atlântica onde o visitante poderá apreciar árvores muito grandes. O outro sócio é biólogo, ele conduz o passeio na parte ambiental onde explica as espécies de árvores. Aqui tem Mata Atlântica estacional semi-decidual e não cerrado. É uma característica dessa vegetação que perde as folhas no inverno e quando começa o período de chuva fica toda esverdeada.”
Curioso
A casa maior da Fazenda São João do administrador não era a sede, porque o proprietário à época Vitor Guedini tinha sua residência oficial onde hoje é outra fazenda. Nesse imóvel havia um banheiro com abertura para o lado lateral da casa. “O banheiro era do lado de fora porque quando o administrador chegava da roça de café a patroa não deixava ele entrar na casa sem antes ele trocar a roupa, porque a mulher tinha encerado todo o assoalho de madeira e não queria sujeira, ” explicou Marcelo Caudenuto. Outra curosidade, o consumo de café na China é de uma xícara per capita ao ano, praticamente nada. A busca é fazer com que os chineses abram espaço para que o consumo cresça para duas xícaras de café per capita. Maurício Lima Verde diz que se cada chinês tomasse uma xícara de café no dia do seu aniversário não existiria café no mundo para suprir a demanda.