Esportes

Colecionador bauruense tem acervo com 1.500 camisas

Wagner Teodoro
| Tempo de leitura: 6 min

Malavolta Jr.
Carlos Alberto de Godoy iniciou a coleção em 1999 e, desde então, a paixão só aumenta

O pedido de presente para o Natal de 1999 seria o início de uma coleção que, em 16 anos, traria outras 1.499 camisas para o acervo de uniformes de clubes de futebol de Carlos Alberto de Godoy. A camisa do Atlético Mineiro, o presente solicitado ao pai, despertou uma paixão no, então, estudante, que chegaria a números impressionantes nos anos que se seguiram. Logo após de formado, Godoy revolveu empregar tempo e dinheiro no hobby e o resultado é uma coleção respeitável, com direito a raridades. “Meu pai me perguntou o que queria de presente e pedi uma camisa oficial. Eu não comprava camisa oficial. Ganhei a camisa do Guilherme, a número 9 do Atlético Mineiro. Depois disso, eu me formei, comecei a trabalhar e, praticamente, meu dinheiro é só para camisa”, brinca.

A coleção começou com um objetivo, perto das 1.500 camisas atuais, modesto: completar as camisas de todos os times que disputavam o Brasileirão na época. “Queria ter camisas de todos os times do Brasileirão. Fui conseguindo e passei a querer o uniforme dois de cada time”, relata Godoy. Completados os uniformes da elite nacional, Godoy passou a ter outro desejo. O próximo passo foi buscar camisas de times do Interior do São Paulo. “Foi quando eu comecei a colecionar camisas de equipes das Séries A1, A2, A3... Sempre uniforme um e dois”, conta.

De objetivo em objetivo, com séries dentro da coleção maior, Godoy foi fazendo contatos e hoje faz parte de uma rede organizada de aficionados por camisas de futebol. A consequência foi aumentar seu impressionante acervo particular. Somente em 2014, o colecionador adquiriu 300 camisas, uma média de quase uma por dia. “Conheço colecionadores do Brasil inteiro e até do Exterior. Só não tinha noção que chegaria à quantidade de camisas que eu tenho hoje”, surpreende-se. “Sempre pensei em parar, mas a coisa vai indo... Eu converso com outros colecionadores e eles dizem a mesma coisa, não tinham ideia da proporção que a coleção poderia tomar”, diverte-se.

Remanescente de uma época anterior às redes sociais, que revolucionaram a relação entre os colecionares, Godoy afirma que, hoje, o “comércio” de camisas ficou muito rápido e simples, facilitado pelas ferramentas digitais. “Os contatos são mais pelas redes sociais e ficou mais fácil. Eu conheço pelo menos um colecionador em cada estado do Brasil”, cita. Os pedidos por camisas específicas são atendidos pelos parceiros colecionadores e a relação é muitas vezes de troca. “Já aconteceu muitas vezes de eu mandar uma camisa do Noroeste, por exemplo, para um colecionador de Pernambuco e ele me mandar uma do Central, do Porto”, explica Godoy.

Antes, a coleção crescia com um trabalho de garimpagem, que envolvia esforço e perseverança em viagens de pesquisa à caça das camisas desejadas. “Eu ia para uma cidade. Muitas vezes, não conseguia a camisa. Então, eu ia ao estádio e era por indicação. Alguém me dizia que uma pessoa poderia ter a camisa. Várias vezes me falavam de pessoas que trabalhavam em outra cidade que tinha a camisa. Eu ia assim, tentando conhecer os caras que gostavam muito de futebol na cidade, que indicavam”, recorda. A era anterior às redes sociais trazia dificuldades, mas nem tudo era desvantagem, considera Godoy. “Ao mesmo tempo, naquela época, tinha os brechós, onde era mais fácil comprar uma camisa. Hoje em dia é muito disputado, já está meio saturado. Está ruim para os colecionadores. Se a pessoa sabe que é uma raridade, busca para revender. Encarece”, lamenta.

‘Vale uma grana’

Godoy estima que, nos 16 anos em que se dedica à coleção, investiu uma média de R$ 100 reais por camisa. O valor da coleção, no entanto, está bem acima do preço de custo de cada peça que a integra, totalizando R$ 150 mil. “Tem camisa que vale R$ 1 mil, por menos disso eu não venderia”, salienta. Godoy avalia que a camisa mais valiosa financeiramente é uma peça do Corinthians de 1992. “Vale uma grana. É uma camisa de jogo, autografada por Wilson Mano, que marcou um gol na final de Brasileiro, em 1990. Outra que vale mais é a do Flamengo, da Adidas, entre 1997 e 1992”, estima.

Além disso, o valor de cada item não é medido pelo dinheiro empregado em sua compra. Existem peças que possuem um valor sentimental que as tornam inestimáveis para Godoy. Entre as camisas com maior valor para o colecionador, estão duas do Noroeste. “Tem camisas que só de olhar para elas não dá coragem de vender. Como a camisa de goleiro do Noroeste de 1986 e do time de 1987. Eu acompanho o Noroeste desde a infância, joguei nas categorias de base e mexe muito comigo”, explica. “Nunca venderia esta camisa de 1987. Não tem preço”, afirma. É a camisa que o colecionador guarda com mais carinho.

Corintiano, Godoy tem 90 camisas do time do coração. É a equipe com maior números de itens no acervo. Apaixonado pelo Noroeste, time de sua cidade natal, e pelo Marília, cidade onde estudou e morou durante cinco anos, Godoy tem um espaço especial reservado aos arquirrivais em sua coleção. São 25 camisas do Noroeste e outras 25 do Marília. O colecionador computa também aproximadamente 350 camisas de equipes estrangeiras na coleção, entre clubes e seleções de todos os continentes.

Mais difícil

Entre as 1.500 camisas de sua coleção, Godoy tem fácil na memória o item mais difícil de conseguir. A camisa que deu mais “canseira” no colecionador foi uma do Guarani de Campinas. “Foi uma camisa da época que o Biro-Biro jogou lá, com patrocínio da Lousano, fabricada pela Dellerba, de 1992. Eu só achava camisa com patrocínio Magnum e esta deu bastante trabalho. Conversei com muita gente em Campinas e demorou bastante para encontrar. Nem acreditei quando eu vi a camisa”, ri. O “troféu” verde está devidamente acondicionado em coleção.

E a família?

Godoy revela que sua família se espanta ao constatar as dimensões que a paixão por camisas de futebol tomou. “Todo mundo acha loucura. Quem não é colecionador acha loucura. Fala que tem que parar com isso. E toda vez eu prometo parar, mas não consigo. Mas, agora, estou realmente pensando em parar. As camisas que eu mais queria já consegui. Pretendo não aumentar o número.

Se eu for adquirir uma nova camisa, vou fazer por troca”, promete. Porém, a paixão pode seguir na família. “Meu filho (João Vítor) já gosta. Ainda não caiu muito a ficha dele, mas ele pergunta sempre quando vamos ao quarto que eu tenho cheio de camisas para ver. Mal sabe ele que está no próprio quarto dele”, diverte-se. “Eu já dei umas 15 camisas para ele”, confessa Godoy.

Ele quer parar, mas...

A determinação de Godoy é interromper sua coleção com as 1.500 peças atuais. Não adquirir nenhum outro item ou, no máximo, trocar uma camisa por outra, mantendo o acervo no número atual. Porém, o colecionador tem “ambições especiais” e admite que algumas camisas podem fazê-lo rever sua decisão. “Se vier uma camisa do Noroeste antiga, não descarto aumentar a coleção. Se eu encontrar uma camisa do Noroeste de 1992, 1991, é capaz de eu querer esta camisa”, admite.

Comentários

1 Comentários

  • carlos roberto bento jorge 18/08/2023
    Não sou colecionador , mais gostava de comprar camisas de times e guardava não usava para preservar , agora estou me desfazendo , então gostaria do contato do Carlos Alberto de Godoy tenho camisas que devem interessar a ele