Bairros

Problemas crônicos na infraestrutura de bairros em Bauru

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 8 min

Fotos: Aceituno Jr.
Na foto, cruzamento das ruas Newton Braga e Severino Lins; ao fundo, avenida Getúlio Vargas
Muitas áreas públicas e privadas estão tomadas pelo mato

Engana-se quem acredita que a falta de infraestrutura esteja presente somente no cotidiano dos moradores da periferia de Bauru. Quem caminha pela avenida Getúlio Vargas e seu entorno, pode não se dar conta de que, a poucas quadras dali, na Vila Aviação, há situações urbanísticas críticas que parecem sem solução.

Com Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) mais pesado por estar localizado na zona sul do município, considerada a região bauruense mais nobre, o bairro em questão abriga problemas que vão desde o mato alto até as crateras que se abrem nas ruas de terra, principalmente em dias de chuva forte.

A equipe do JC nos Bairros foi ao encontro de moradores que fizeram a denúncia/apelo. Andando pelos logradouros da vila, o carro da reportagem precisou desviar em alguns pontos. Em alguns trechos, os buracos são tão grandes que o carro não conseguiu seguir em frente.

Em busca de entrevistados, a equipe se deparou com duas garotas “presas” dentro de um buraco na frente da casa de uma delas. Foi preciso a ajuda da reportagem para desatolar o carro das moradoras.

Mais do mesmo

Além das vias de terra de difícil acesso, por lá ainda há muitos terrenos baldios. Áreas públicas e particulares com mato do tamanho de árvores. Em muitos deles, as placas com os dizeres “não jogue lixo” se escondem no matagal. 

O lixo deixado nos terrenos é outra reclamação dos moradores. Mais do que uma questão estética, ele representa risco à saúde pública e preocupa ainda mais em época de dengue e zika vírus.

Onde falta asfalto, sobram problemas

Segundo moradores da Vila Aviação, a rotina do bairro soma carros presos em buracos nas ruas

Fotos: Aceituno Jr.
 Falta de pavimentação é a principal queixa dos moradores da Vila Aviação
Guilhermina Lombardi e Ivone Mateus falam com tristeza sobre as ruas de terra da Vila Aviação

O asfalto, ou melhor, a falta dele, é a principal reclamação dos moradores da Vila Aviação, que têm as ruas “enfeitadas” por crateras que se formam principalmente em dias de chuva.

“Eu mesma já fui vítima, com passageiro e tudo. Mas graças a Deus ninguém se machucou. E vi muita gente ter o carro preso nestas ruas. Os moradores até tentam dar um jeito colocando pedras e terra nas erosões, mas vem a chuva e leva tudo”, narra dona Guilhermina Lombardi, moradora da quadra 1 da rua Raja Gebara, no bairro há 13 anos.

Ao lado da amiga, dona Ivone Mateus também se propôs a falar sobre os desafios de viver sem o tão sonhado asfalto. Ela reside na quadra 1 da rua Juan Mermoz já há 48 anos. “É tanto tempo que eu já perdi a esperança de ver o asfalto chegar. E ele está tão pertinho, logo ali na quadra de baixo”.

Dona Ivone lembra que os moradores já se propuseram a pagar pelo asfalto, mas nem assim um acordo foi feito. “Já ouvimos que aqui é vila de rico, por isso o poder público não pavimenta”.

Guinchos

Enquanto isso, os guinchos fazem parte do cenário dos vizinhos. “Minha filha já teve o carro preso em um buraco e precisou acionar o guincho, ou seja, além do transtorno, ainda tivemos prejuízos financeiros diversos. Quando chove, ninguém passa por causa da erosão. Nem as estradas da zona rural estão tão esquecidas como essas ruas”, desabafa Marli Vania Ramos, moradora da quadra 3 da rua Newton Braga há 13 anos.

Ainda de acordo com dona Marli, quando a máquina da prefeitura vem amenizar o problema, só o faz na quadra onde mora o vizinho que acionou o serviço. “Já aconteceu na nossa rua. Isso porque ela só tem três quadras. Custa fazer nas outras duas?”, questiona.

Flagra

Aceituno Jr.
A moradora Luana Souza e a amiga Maíra Trefillo precisaram a ajuda da reportagem para tirar o carro atolado na quadra 2 da rua Severino Lins

Ao rodar pela região, a equipe do JC nos Bairros encontrou as estudantes Luana Souza e Maíra Trefillo com o carro preso em um buraco na frente da casa de Luana, na quadra 2 da rua Severino Lins. Após a ajuda da reportagem para desatolar o automóvel, Luana falou sobre a rotina vivida pela família há três anos.

“Está difícil. Muita gente fica atolada aqui. Minha mãe até tem um esquema próprio para driblar os obstáculos ao sair da garagem. Inclusive ela já ligou para a prefeitura e foi informada de que não há planos a curto prazo para asfaltar a rua, que fica a uma quadra da avenida Getúlio Vargas”, comenta.

Ainda segundo a estudante, a construção de um estabelecimento comercial em frente à sua casa foi interrompida pela falta de pavimentação. “Eles estão esperando o asfalto chegar, porque a rua desse jeito espantaria os clientes”.

‘Bloco dos Descontentes’

Qual é a sua queixa?

Fotos: Aceituno Jr.
“Eu passo por aqui quase todos os dias porque gosto de fazer caminhada em ruas com menos trânsito, mas as vias estão horríveis”, José Antônio Costa Júnior - motorista
“Moro no bairro há 6 anos e digo que já foi pior. A falta de asfalto é o que mais me incomoda”, Alair Cavalcanti - assistente de marketing
“Ando de bike sempre que posso por aqui e acho o abandono do bairro um relaxo do poder público. As pessoas que jogam lixo nos terrenos também têm sua culpa”, Paulo Sidnani - empresário  
“Quando escurece é muito perigoso andar pelas ruas. Já o lixo é descaso da população com a cidade”, Everton Zattoni - escriturário         administrativo                 

‘Era para ser praça, mas é só mato’

Mato alto, lixo com possíveis criadouros do Aedes aegypti e vazamento de esgoto também estão entre as queixas na Vila Aviação

Alex Mita
Moradora da Vila Aviação, Marli Vania Ramos caminha ao lado de um terreno onde seria uma praça, na rua Narciso Martins, esquina com a quadra 3 da rua Newton Braga 
Aceituno Jr.
Vazamentos também são comuns
Vazamentos de água e esgoto também estão entre as reclamações dos moradores do bairro. A reportagem encontrou ao menos uma rua com esgoto correndo ladeira abaixo (como a quadra 6 da Rubens de Mello e Souza, nas fotos),  além de canos expostos com as erosões da via, exemplo mostrado na foto da rua Severino Lins

Com diversos terrenos particulares e públicos sem uso, a Vila Aviação tem servido de depósito irregular de lixo e até animais mortos. Isso sem citar os animais peçonhentos que encontram abrigo no matagal e material descartado. Situação que preocupa os moradores, como a diretora de escola aposentada Marli Vania Ramos e a relações públicas Simone de Fátima.

Mãe e filha, elas contam que já acionaram o poder público de todas as maneiras, inclusive com processo aberto junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Emdurb e Secretaria Municipal da Saúde.

“É aquela história: sujeira chama sujeira. O pessoal joga de tudo nesses terrenos. É tudo muito burocrático e não funciona. É um desgaste emocional muito grande. Falta água e precisei até entrar na Justiça para colocarem postes de iluminação. A gente se sente abandonado”, confessa Marli, que vive no bairro há 13 anos.

Já Simone aponta um espaço que, segundo ela, consta nos mapas da prefeitura como uma praça. Trata-se de um terreno na rua Narciso Martins, esquina com a quadra 3 da rua Newton Braga. “Mas é só mato. As pessoas caminham por aqui em direção à Getúlio Vargas. À noite é um perigo. Assaltos não são raros. Nós pagamos um alto IPTU, um dos mais caros da cidade. Vamos entrar na Justiça para ver a possibilidade de pagar o imposto proporcional à infraestrutura que temos no bairro”, diz.

Criadouros

Além do lixo descartado nos terrenos baldios, assim como ocorre em outros bairros da cidade, os habitantes da Vila Aviação apontam a ocorrência de uma prática comum, mas perigosa quando o assunto são os possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti. Gatos que vivem nos arredores da base do Helicóptero Águia da Polícia Militar são alimentados por pessoas que caminham na avenida Getúlio Vargas e por moradores do entorno.

O problema é que os potinhos usados para a ração ficam jogados por lá. “Eu mesma vivo recolhendo os potes com água parada. E já tive dengue. Quem coloca os potinhos deve recolher depois ou colocar a comida em alguma coisa que não junte água parada”, opina Marli. O mesmo acontece com os macaquinhos que habitam os remanescentes de mata na região.

Prefeitura responde

Procurada pela reportagem, em nota, a Secretaria de Obras informou que as ruas sem asfalto da Vila Aviação, como a Newton Braga, entre outras citadas pela reportagem, não foram contempladas em nenhum projeto até o momento por falta de financiamentos para a infraestrutura.

Segundo a pasta, uma alternativa para a pavimentação do bairro seria o Plano Comunitário de Melhorias (PCM), onde os munícipes negociam diretamente com a empreiteira para que a obra seja executada, e cabe à prefeitura fiscalizar e acompanhar a execução.

Praça e mato

Já a Secretaria Municipal do Meio Ambiente informou que para este ano não há projeto de urbanização para a praça da Vila Aviação, citada pela reportagem. No entanto, um projeto será elaborado pela pasta para o local. Quanto ao mato alto, ainda segundo a autarquia, a capinação do local será realizada nos próximos dias.

Com relação aos terrenos particulares, a Vigilância Ambiental informa que é necessário a localização exata de cada terreno, com nome de rua, quadra e um ponto de referência, como o número do imóvel ao lado, para que seja feita a vistoria.


 

 

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