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Pondé e sua "Filosofia para corajosos"

Vinicius Lousada
| Tempo de leitura: 4 min

Divulgação
Pondé lançará seu novo livro em Bauru no dia 17 de setembro

Um dos filósofos brasileiros contemporâneos mais requisitados e, com certeza, um dos mais polêmicos e “politicamente incorretos”. Recentemente, provocou inflamadas reações ao chamar de “chatinhas” as feministas. Também não poupa crítica ao meio acadêmico, o qual alega estar tomado pelo pensamento de esquerda, outro de seus principais alvos.

Figura carimbada em colunas de jornais e entrevistas na televisão, Luiz Felipe Pondé estará em Bauru no dia 17 de setembro, quando participará do 1.º Simpósio Junguiano e Diálogos Interdisciplinares, que acontece no Obeid Plaza Hotel.

Na ocasião, Pondé dará autógrafos para lançar seu novo livro, “Filosofia para Corajosos”. O filósofo pernambucano concedeu entrevista exclusiva ao Jornal da Cidade. Confira:

Jornal da Cidade: Quem são os tais corajosos a quem se refere no título de seu novo livro?
Luiz Felipe Pondé: São as pessoas que pensam sem se preocupar em ser felizes com o pensamento. Quem é capaz de refletir sobre a vida sem a preocupação de ser mais feliz.

JC: Isso vai um pouco ao encontro de suas declarações muito polêmicas, principalmente contra o politicamente correto?
Pondé: O politicamente correto é só um dos exemplos de como a gente pode pensar com medo das coisas.

JC: O livro promete abordar uma série de temas sobre os quais todo mundo deveria conhecer mais a fundo. Quais são alguns desses temas?
Pondé: Metafísica, política, ética. Tem um capítulo em que faço perguntas difíceis, como por exemplo: é melhor ter filho ou cachorro? Custa caro ter filho e muita gente tem optado pela segunda alternativa. Outras coisas que questiono são se existe vida após a morte, se vale a pena ser honesto na vida e também como a gente faz para se defender do grande número de idiotas que a democracia joga na nossa cabeça.     

JC: São muitas as suas críticas ao pensamento de esquerda, mas, se esse já não é mais o caminho pela qual a sociedade anseia, não surgem novas alternativas em um cenário mundial carente de lideranças. A impressão é de que tudo está dando errado. Qual a direção?
Pondé: O mundo sempre deu errado. Tudo bem que a vida hoje é muito melhor do que era em termos técnicos, médicos. Mas a esquerda é fruto do pensamento de pessoas que acham que pode haver igualdade e que todo mundo pode ser rico. Na realidade, o normal é que todo mundo seja pobre. Agora, não me parece uma forma menos pior do que a democracia liberal, com a sociedade de mercado, produzindo enriquecimento a um número importante da população. Não vejo que a esquerda nos ajuda. Cria fantasminhas e ilusões para nos manter em uma espécie de retardo mental político e econômico. O mundo nunca deu certo. De vez em quando, ele funciona, mas, na maior parte do tempo e dos lugares, há guerras, existe fome. O que acho um engodo são as pessoas que enganam os outros dizendo que o mundo vai ficar melhor. Não vejo coisa pior do que intelectual, escritor ou jornalista que acha que trabalha com esse intuito. Eu os vejo como uma espécie de clero e todo clero é mentiroso.

JC: Você diz que o mundo contemporâneo é ridículo. Por quê? Está mais ridículo que antes?
Pondé: Claro que sim. Isso porque tem muito mais gente vivendo melhor materialmente. Vão enxergar nossa época como um tempo de ressentidos e mimados. É uma posição mimada achar que direitos caem do céu e que a felicidade é um direito do ser humano. As pessoas nunca foram tão ricas quanto hoje e é só ver crianças criadas em casas ricas: são todas meio bobas.

JC: Você se considera um pessimista?
Pondé: Em Filosofia, as expressões otimista e pessimista não são muito usadas. Sou um filósofo cético. Não acredito em sentido maior da vida. Não acho que o mundo caminha para nada de grandioso. Acho que a gente resolve problemas e cria outros. Então, você pode me chamar de pessimista. Mas não acho que o ser humano seja mal essencialmente. Só não acredito que a política possa transformar o mundo em um lugar bom e maravilhoso. Não acredito que todo mundo será feliz e terá o que precisa.

JC: Toda a turbulência na política brasileira e a Operação Lava Jato deixarão heranças positivas para a democracia?
Pondé: Sim. As transações envolvendo dinheiro ficam cada vez mais transparentes e estão deixando rastros, o que dificulta a corrupção, exigindo que ela seja mais profissional. A Lava Jato é o encontro de uma nova geração do Poder Jurídico, que recorre à delação premiada, usada no mundo inteiro, com essas técnicas de cruzamento de dados. Vieram para ficar e criam um novo evento na história.

JC: É muito comum nos depararmos com citações e frases atribuídas a você nas redes sociais. Acredita que a filosofia está se popularizando?
Pondé: Sem dúvida. Temos pessoas como eu, o [Leandro] Karnal, o [Mário Sérgio] Cortella. Somos pensadores públicos que vendemos muitos livros e estamos na mídia. São muitos os convites para falar e estamos ganhando dinheiro com filosofia. É prova de que ela está no mercado.

 

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