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Julio Góes: trajetória de um verdadeiro campeão

Bruno Freitas
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Bruno Freitas
Meca, em partida com amigos no BTC, em 2017

A Bauru de Pelé, de Ozires Silva, Casimiro Pinto Neto, Marcos Pontes, Edson Celulari e tantos outros é, também, de Julio Góes, o Meca, ex-tenista número 1 do Brasil e ex-número 68 (simples) e 69 (duplas) do ranking profissional da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). Ele é disparado o maior tenista de todos os tempos de Bauru, com títulos mundiais de simples e duplas pela ITF (na sigla em inglês, International Tennis Federation).

Júlio César Homen de Góes, o Meca, 62 anos, nasceu em Bauru, numa família de quatro irmãos, filhos de pai caminhoneiro e de mãe dona de casa, que morava em um imóvel na rua Joaquim da Silva Martha, no Centro. Na época, o jeito era trabalhar cedo para ajudar no sustento da família. Cedo mesmo, aos 8 anos de idade, quando viu uma oportunidade para ganhar uns trocados como pegador de bola em um clube próximo de sua casa, o Bauru Tênis Clube (BTC).

O INÍCIO

Arquivo pessoal
Meca ergue um de seus troféus de ATP

Meca aprendeu a jogar tênis olhando os sócios jogarem, em 1963. "Minha primeira raquete foi uma tábua. Como raquetes eram de madeira e caras, um funcionário do BTC na época, o Cidão, cunhou uma, utilizando serra para fazer o recorte. Mais tarde, além de pegador, comecei a ganhar o meu dinheiro jogando tênis contra os sócios, que estavam sem parceiros. Minha primeira raquete de verdade ganhei na adolescência, um presente de Milton Teixeira, então diretor do BTC. Logo depois, o Claudio, pai do Celso Sacomandi, me ajudou muito", recorda.

Meca não pôde disputar as competições de nível juvenil, onde o amigo Celso Sacomandi dominou o cenário nacional na época. Meca precisava trabalhar, fez curso de mecânico geral e exerceu, conciliando com as dupladas que davam retorno financeiro a ele.

SURGIMENTO DO CRAQUE

No BTC, Meca integrava uma equipe imbatível, uma das melhores do tênis bauruense de todos os tempos. Com ele, Celso Sacomandi, Caco Segalla, Roger Guedes, José Haroldo Segalla, Alexandre Cury e Claudio Sacomandi como treinador. "Não tinha para ninguém. Atropelávamos todo mundo. Bauru era tão forte que no BTC tínhamos uma competição 'Barragem', onde definíamos o time principal", lembra. Seu primeiro título nacional foi no Campeonato Brasileiro da Juventude, para tenistas até 21 anos. Na sequência, ele ganhou o fortíssimo Bauru Open.

TÍTULOS E GRAND SLAMS

Os títulos no adulto foram aumentando, todos da ATP. Meca cita que os principais que vieram na sequência da carreira de tenista profissional foram os de campeão brasileiro adulto e o heptacampeonato do famoso circuito satélite. Meca é recordista brasileiro de títulos em Torneios Challengers, com 15 conquistas no total, onde batia alguns dos principais nomes do mundo na época.

Como n.º 1 do Brasil, representou Bauru nos Grand Slams de Roland Garros, US Open e Wimbledon e foi titular da seleção na Copa Davis. Todas as disputas e resultados levaram Meca a ter a maior carreira e ranking da ATP de Bauru. Ele parou de jogar profissionalmente aos 32 anos.

Meca foi para São Paulo ainda jovem e passou a dar aulas nos principais clubes, entre eles o Juventus e o Centro Paulista de Tênis, que foi referência nacional. Depois, foi convidado para dar aulas no Clube Athletico Paulistano, onde trabalha até hoje. Ao BTC, ele vem com frequência, agora, como sócio.

Bruno Freitas
Meca, no BTC, jogando contra outra fera nacional, Thomaz Koch

CAMPEÃO MUNDIAL

Meca conquistou mais de 70 títulos depois que passou a trabalhar em São Paulo. Certo dia o empresário e então presidente do Paulistano, Mário Amato, concedeu como prêmio um título associativo ao bauruense. Título este que custa mais de meio milhão de reais. Em 1995, Meca foi campeão mundial pela Federação Internacional de Tênis (ITF). E foram dois títulos, de simples e duplas, na cidade de Velden, na Áustria.

QUINTA ESTRELA DO BTC?

Ele considera este título de 1995 como parte da história do BTC, onde tudo começou. Hoje, o BTC tem quatro estrelas de títulos mundiais (1953, 55, 79 e 2014). Para ele, seu título, mesmo sendo conquistado há 22 anos, deveria ser a quinta estrela do BTC. "Eu sempre questionei na época que o título fosse, sim, mais uma das estrelas do BTC. Eu considero ele como parte da história do BTC. Foi ali que aprendi o tênis que me proporcionou uma carreira, títulos, notoriedade e uma família linda. Apesar de não ter sido contemplado, sou betecista e frequento o clube até hoje", revela. Hoje, Meca é pai de três filhos, tem três netos e é casado com Cintia Quaggio.

"Conheço o Meca desde criança. Estudamos juntos. Ele é aquela pessoa que quando quer, vai lá e faz. E não arruma uma desculpa. Por isso que ele é vitorioso", comentou Renato Zaiden, diretor do Grupo Cidade.

PALAVRA DE ESPECIALISTA

O colunista do JC e tenista de sucesso Celso Sacomandi crava que Meca foi o maior da história de Bauru. "Em 1984, em um ginásio de Roma, Meca fez match point contra o famoso tenista francês Yannick Noah, campeão de Roland Garros e top 5 da ATP na época. Meca acabou perdendo porque o estádio lotado (10 mil pessoas) percebeu que Noah iria perder e fizeram barulho e torceram para o francês. O resultado foi 7/5, 4/6 e 6/7", destaca. Sacomandi recorda que depois desse jogo Meca foi até a Bélgica para ir à fábrica de raquetes Donnay, a maior do mundo na época. "O chefão perguntou qual modelo de raquete usava. Quando Meca mostrou, o dono disse: 'não pode ser. Essa raquete fabricamos para tenistas amadores'. Eram as raquetes que Meca recebia no Brasil. E ele saiu de lá com novas. Outro fato marcante era que o Rivelino, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira, adorava jogar tênis com o Meca. Meca era celebridade e estava sempre nos principais programas de TV. Hoje, anos depois, ele sempre vem para Bauru e continua o nosso amigo que sempre foi", finaliza Sacomandi.

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