Tribuna do Leitor

Quem é Iemanjá

Marcos Augusto de Freitas
| Tempo de leitura: 2 min

No dia 2 de fevereiro é comemorado o dia da grande matriarca da mitologia iorubá, que atende pelo nome de Iemanjá.

E tenho uma notícia óbvia pra vocês: a imagem que corresponde ao arquétipo dessa Yabá é uma que ilustra este texto.

Isso mesmo, Iemanjá é negra e gorda, e não branca dos cabelos longos e lisos e com o corpo padronizado que atende aos princípios da mídia machista.

Também tem mais um detalhe.

Ela é considerada a mãe de quase todos os orixás, mas não a mãe que sugere a crença católica, cordata e submissa, devotada única e exclusivamente para os filhos e a família, sem nada pedir em troca e sempre à disposição de todos.

É a mãe que manda e comanda com mãos firmes e inteligência viva, não tolerando desobediência e desrespeito e que até cuida amorosamente de seu lar e de sua família, mas não esquece que é uma pessoa com desejos e planos individuais.

O sincretismo religioso deveria ser abolido das religiões de matriz africana, ou pelo menos ser colocado no lugar que lhe cabe: o lugar de desestabilizador cultural que obrigou africanos escravizados a disfarçar suas crenças e suas informações e formações étnicas.

Cultuemos os orixás africanos com respeito e humildade, reservando a desconstrução do nosso racismo e dos nossos moralismos, que é a maior lição que a miscigenação religiosa vem trazer para nós.

E cultuemos também os santos católicos, com a devida crítica necessária à formação e aos dogmas construídos em cima de uma cultura opressora.

Iemanjá é negra, porque sua origem é africana. E gorda, porque representa a mulher de meia idade que já pariu e o corpo foi moldado pelo tempo e pela experiência da maternidade, como é comum entre as mulheres.

Muitos dizem: "Mas é só uma imagem, o que importa é a força espiritual."

Mas se é só uma imagem, então por que não a que corresponde à real representação africana? E se é só uma imagem, por que as que adornam os altares das igrejas católicas não são substituídas pela versão negra?

Se Nossa Senhora de Fátima é sempre branca, deixem nossa Iemanjá sempre negra. Assim numa boa só tirando o racismo da frente, ok?

Pelo fim da herança colonial altamente opressoras nas religiões de origem africana, assim, numa boa.

Odoyá, Mãe d'água!

Odociaba, querida Iemanjá!

 

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