Na atual era digital, é comum ouvirmos falar de Bloggers, Intagramers ou Youtubers, designações atribuídas a pessoas com uma posição notável em determinadas redes sociais. Em 2018 verificou-se o "upgrade" a estas designações e surgem os Influenciadores Digitais. Mas, vamos por partes: o que é um Influenciador Digital? Na teoria, é uma pessoa com elevada notoriedade em determinada rede social. Trata-se de uma relevância genuína, trabalhada ao longo do tempo, com partilhas verdadeiras e com opiniões próprias. De certo modo, esta pessoa exerce uma influência junto dos seus seguidores que se identificam com o influenciador digital por variados motivos (profissão, estilo de vida, desporto, hobbies, interesses pessoais). Existem influenciadores digitais que, mais do que uma referência online, transformaram-se em verdadeiras inspirações para a vida de muitos seguidores.
As marcas perceberam o potencial que o papel dos influenciadores digitais poderia desempenhar nas suas estratégias de marketing em canais online enquanto veículos de comunicação e, em alguns casos, veículos de recomendação para os seus milhares de seguidores. O problema começa precisamente aqui. A maioria das marcas que opera nos canais digitais não têm conhecimento especializado em marketing nem tão pouco em comportamento do consumidor. Assistimos a ações de publicidade e venda agressiva sem qualquer tipo de enquadramento, análise de mercado ou estudos do consumidor. Em casos extremos, existe falta de bom senso por parte das marcas quando as nossas redes sociais pessoais são invadidas por este tipo de ações que de marketing não têm nada. E é também neste momento que surgem os pseudo influenciadores digitais.
São pessoas com alguma notoriedade nas redes sociais que decidem compactuar com este tipo ações de venda agressiva em troca de remuneração. Tão simples quanto isto. São pessoas que não dão a sua verdadeira opinião sobre os produtos ou serviços das marcas, fazem publicações em massa oferecendo descontos sem motivo aparente, fazem partilhas de conteúdos desprovidos de qualquer tipo de interesse real e fazem "reviews" baseados naquilo que está descrito nas embalagens dos produtos e não propriamente baseados na sua experiência real. Será que é este tipo de pessoas que as marcas querem ter enquanto embaixadores?
É por isso que todos os dias assistimos a "stories" que entram no nosso feed sem permissão com #descontosmarcasdesportivas ou #sapatilhascomdescontos, assistimos a pseudo influenciadores digitais que não praticam esporte, mas fazem publicidade a #academias, outros não têm uma alimentação saudável mas, promovem #suplementosalimentares, outros não têm problemas financeiros mas, fazem publicações sobre #cartoesdecredito, outros têm veículo próprio mas, todos os dias oferecem códigos de desconto em serviços de transporte (não vamos mencionar nomes) e também já assistimos a mulheres a promoverem #cremesmilagrosos nos seus perfis onde 90% dos seguidores são homens. Para terminar, milagrosamente, estas marcas descobriram os endereços dos pseudo influenciadores digitais e surgem os #unboxings como se alguém tivesse interesse em ver uma pessoa a abrir uma caixa com um "presente" enviado "inesperadamente".
Nós, profissionais de marketing que entendemos verdadeiramente como o mercado funciona, lamentamos profundamente que esta situação tenha sido provocada pelas próprias marcas que procuram os pseudo influenciadores digitais em função do seu número de seguidores em vez de procurarem verdadeiros influenciadores digitais que partilham os mesmos valores, que têm um estilo de vida em conformidade com aquilo que as marcas querem transmitir e, acima de tudo, que têm opiniões verdadeiras que possam auxiliar as tomadas de decisões de compra dos consumidores.
O meu conselho? As marcas devem entender quem são, conhecer os seus próprios valores, manterem-se fiéis a elas mesmas e entenderem qual é o seu target.
É muito importante que as marcas saibam exatamente para quem querem comunicar. Só depois de entenderem o target poderão identificar os verdadeiros influenciadores digitais, não só em função do número de seguidores mas sim, pelo engajamento do seu público nas suas publicações.
Este sim é o grande segredo da verdadeira influência digital.
O autor é bauruense, doutorando em Marketing pela Universidade do Porto - Portugal.