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Palheiro ganha espaço e acende alerta

Marcus Liborio
| Tempo de leitura: 4 min

Jéssica Cotrim/Divulgação
Lucas Barbosa não dispensa cigarrinho de palha: "É questão de cultura e de gostar do sabor"

Fotos: Samantha Ciuffa
Funcionário de uma tabacaria em Bauru, Matheus Borges confirma: cresceu o consumo de palheiro entre os jovens

O cigarro de palha é composto, basicamente, de um punhado de tabaco envolvido por palha de milho, mas pode mudar

Hábito dos antigos fumantes, o cigarro de palha voltou repaginado e já conquistou as novas gerações. Antigamente, a conduta era atribuída à falta de acesso ao cigarro industrializado e ao baixo custo. Atualmente, ostentar um palheiro, como é conhecido entre os jovens, virou moda. Entretanto, uma pneumologista ouvida pelo JC alerta: o tabaco embrulhado na palha de milho traz os mesmos riscos que o cigarro convencional (leia mais abaixo).

Hoje, inclusive, é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. O objetivo da data é reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco.

Embora reconheça os malefícios gerados pelo fumo, o gráfico Lucas Felipe Barbosa, 27, não dispensa um cigarrinho de palha.

Ele conta que começou com o cigarro industrializado, porém, três meses depois, passou a fumar palheiro e o hábito já se estende por quatro anos.

"É questão de cultura e de gostar do sabor. O cheiro, por exemplo, não impregna tanto na pele e na roupa quanto o cigarro tradicional. Você lava a mão e o odor sai facilmente", pondera.

Lucas confirma a tendência entre a juventude. "Em uma balada é muito comum ver a moçada fumando cigarro de palha. Creio que o fato de encontrar o produto pronto para venda contribuiu para esse cenário. Em qualquer vendinha você acha", aponta.

Ele destaca que as pessoas de classe média-alta também estão fumando palheiro, algo incomum antigamente. "Era mais o pobrezinho que fumava porque não tinha condições de comprar o cigarro convencional", observa. 

Para o gráfico, trata-se de "modinha". "Algumas músicas sertanejas falam do cigarro de palha e, de certa forma, acho que acaba influenciando", opina, comparando que o fumante de palheiro, geralmente, consume menos o produto do que quem fuma cigarro industrializado.

"Em uma festa, enquanto alguém fuma uns cinco cigarros tradicionais , eu ainda estou no primeiro de palha. O normal é apagar e depois voltar a consumir. Eu até acho o palheiro mais forte. Vai fazer mal do mesmo jeito, mas creio que tenha menos química", finaliza.

MAIS CARO

Esse é o mesmo pensamento de um funcionário público estadual de 32 anos, que preferiu não se identificar. Embora o preço do cigarro de palha seja mais alto, ele mantém o costume há três anos, mas garante que é somente aos finais de semana.

"Dependendo da marca, o cigarro de palha varia de R$ 15,00 a R$ 20,00, enquanto o tradicional sai por cerca de R$ 10,00. Entretanto, eu prefiro o palheiro pelo sabor do fumo, que é mais puro", justifica, destacando que quase todos os seus colegas de trabalho também fumam palheiro.

MOTIVOS

Funcionário de uma tabacaria localizada na Vila Cardia, Matheus Borges Malini disse que a procura por cigarros de palha vem aumentando consideravelmente entre os jovens.

"Em uma semana, cheguei a vender duas caixas fechadas, que vem 20 maços em cada. Creio que está vendendo mais porque os universitários voltaram a fumar com frequência. Porém, eles procuram os palheiros, para diminuir o uso, já que o cigarro de palha é mais forte".

Ele conta que os produtos de sabores caíram nas graças das novas gerações. "É outro fator que influencia nessa tendência. Hoje, tem o palheiro tradicional, que é mais forte; o 'ouro', que tem a palha mais fina e, portanto, é mais fraco; e os com sabor de menta, uva ou cereja. O 'ouro' e os de sabores são os mais procurados", revela.

Funcionária de outra tabacaria situada no Centro de Bauru, Dulce Niro também observa que é grande a procura por cigarro de palha, principalmente entre os jovens. "A gente vende todos os dias. Temos que manter o estoque, sempre", afirma. 

'São os mesmos danos', destaca pneumologista

Éder Azevedo/JC Imagens
A pneumologista Deborah Maciel Cavalcanti Rosa: malefícios

O cigarro de palha é composto, basicamente, de um punhado de tabaco envolvido por uma palha de milho, podendo haver pequenas modificações nos dois componentes. Entretanto, não tem filtro e, por isso, algumas pessoas defendem que, apesar de continuar sendo nocivo à saúde, possui menos fatores químicos.

Segundo a pneumologista do Hospital Estadual de Bauru (HEB), Deborah Maciel Cavalcanti Rosa, o palheiro causa os mesmos danos à saúde que o cigarro industrializado. Ela explica que o cigarro de papel tem muita química, com intuito de aumentar a disponibilidade de nicotina.

"São mais de 1 mil componentes químicos, mas há, além de um composto que diminui a temperatura da fumaça, um filtro para reduzir um pouco as impurezas inaladas".

A médica detalha que, no cigarro de palha, não há esse tipo de "defesa". "Apesar de não ter os componentes químicos do cigarro industrializado, possui a nicotina da mesma forma, só que sem o filtro e o produto que resfria a fumaça. Portanto, o fumante acaba sendo prejudicado também, pois o palheiro traz os mesmos riscos que o cigarro de indústria: AVC, infarto, câncer, entre outras doenças", elenca a especialista.

A data e o perigo

No dia 29 de agosto é comemorado, no Brasil, o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data foi instituída em 1986 pela lei nº 7488. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta.

 

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