Ciências

Mentiras: vitamina D e óleo de coco!? Por Alberto Consolaro


| Tempo de leitura: 3 min

Estudante da saúde deve ter lido pelo menos duas vezes o livro "Fisiologia Médica de Guyton", obra quase sagrada sobre as funções do corpo. Ainda sei a sequência e nomes dos capítulos, mas até há pouco tempo sabia páginas inteiras das centenas que memorizei!

Lá dizia: a vitamina D3 é um hormônio produzido na pele mediante a radiação solar. Um mínimo de sol, alguns minutos de sua claridade, seria mais do que suficiente para se produzir a vitamina D, muito importante em várias funções fisiológicas como absorção intestinal do cálcio e formação de certas células. Praticamente não se falava em reposição de Vitamina D. Nos países nórdicos, quando sai algum raio solar, tira-se a roupa e se relaxa nas praças e ruas, e por lá a reposição não é recomendada!

Não conseguia entender a avalancha de reposição de vitaminas e especialmente da vitamina D. A medicina ortomolecular foi eliminada como especialidade pelo Conselho Federal de Medicina, mas a febre de oferta e receitas de vitamina D continuou. Lia livros, trabalhos e teses, mas não conseguia achar os fundamentos fisiopatológicos para a reposição hormonal da vitamina D. Vitamina D não é vitamina, é hormônio.

No fundo da alma, eu sabia o que acontecia e pressentia que um dia iria acontecer o mesmo com o que aconteceu com a vitamina C, que não é antigripal e nem precisa de reposição, mas ainda vende, mas plenamente desacreditada. A vitamina C foi uma moda, tal qual é hoje a vitamina D.

Quando vi a notícia na internet e jornais, na hora balbuciei: foi mais cedo do que previ! Michael Holick, o grande divulgador ou "inventor" da reposição hormonal da vitamina D e professor de endocrinologia da Universidade de Boston, recebia salários e grandes recompensas das indústrias farmacêuticas para que suas pesquisas sempre sugerissem a reposição de vitamina D como essencial para a saúde. Outros pesquisadores não conseguem ter os mesmos achados do inventor da vitamina D, que recebia um tipo de "propina" mensal! Finalmente a máscara caiu!

Que negocião: barato de fabricar e, se tomar muito, não faz mal, pois é eliminado. Só faltava a indústria farmacêutica entupir a mídia, financiar profissionais da saúde para se ganhar muito dinheiro junto com os laboratórios para que exames idealizados dessem deficiências de tais produtos químicos no sangue e da própria vitamina D. Não deu outra, quase todo mundo entrou neste barco da felicidade.

ÓLEO DE COCO

Já não aguentava mais ouvir falar de óleo de coco. Acho que o usaram até como colírio, talvez para cegar o usuário, ou ainda até como Viagra, pela forma fálica do coqueiro, talvez! Hoje se sabe que "grandes" profissionais que receitam e propalam a panaceia do óleo de coco são fabricantes do produto. Como estes donos ou profissionais são midiáticos e "alternativos" tudo ficou certo: óleo de coco para todo mundo! (Panaceia = planta, beberagem, simpatia, ou qualquer coisa que se acredite remediar vários ou todos os males).

Agosto é conhecido como mês do azar e várias "descobertas policiais" foram relacionadas a grandes "descobertas científicas". Karin Michels, uma pesquisadora da Universidade de Harvard, afirmou que o óleo de coco é um veneno e uma das piores coisas que um humano possa ingerir. A sua palestra em alemão viralizou no YouTube.

Ouvindo muitos especialistas e declarações públicas, resumi: o óleo de coco tem mais gordura saturada do que "banha de porco". Por isto que óleo de coco não emagrece e ainda aumenta o índice de colesterol ruim ou LDL. A "American Heart Society" se posicionou sobre o óleo de coco: "por estar associado a doenças cardiovasculares e não apresentar nenhum efeito benéfico, não aconselhamos ser usado pelos humanos". Sociedades médicas brasileiras de Obesidade, de Endocrinologia e Metabologia e a de Nutrologia também assim se manifestaram!

Óleo de coco não se recomenda para nada, nem como óleo de cozinhar! A pele não fica boa com o óleo de coco, pode piorar a acne e os cabelos secos precisam de óleo, mas qualquer óleo, não precisa ser de coco. Pasmem, senhores: é mentira também dizer que "óleo ou qualquer coisa do coco clareia os dentes"! Estas indicações e notícias falsas deveriam ser denunciadas, inclusive juridicamente!

Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todos os sábados no JC. 

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