"Os nossos olhares não miram o mesmo lugar". Este é um dos versos da música "Oposto", de Lucas Akira e Fábio. E, bastam alguns minutos de conversa com a dupla sertaneja para perceber que nada poderia ser mais oposto a eles do que tal frase. Os irmãos, que lotam casas noturnas de Bauru, mostram sincronia nas respostas e, de forma bem clara, miram juntos o mesmo lugar: fazer história na música.

Nascidos em Pirajuí (58 quilômetros de Bauru), os cantores e compositores encontraram em Bauru o local para crescer profissionalmente. Fincaram raiz aqui, conquistaram espaço e mostraram que não há nada de estranho em "japonês cantar sertanejo, seja universitário ou modão".

Apesar da pouca idade - 25 e 22 anos -, já vivem da música e vão além: demonstrando bom conhecimento em gerenciamento, guiam a própria carreira sem empresário.

Com influências rurais e com a música presentes "desde que se lembram por gente", eles têm, ainda, apoio irrestrito dos pais Nelson Akira e Mariza Jacomini nessa caminhada.

Em um bate-papo descontraído e bastante profissional ao mesmo tempo, os irmãos contaram ao JC um pouco dessa trajetória de 11 anos "de estrada", seus sonhos, e, claro, quem são Lucas Akira e Fábio. Confira:

Jornal da Cidade - Como foi que vocês começaram a cantar juntos?

Lucas Akira - Eu, quanto tinha uns 13 anos, tinha uma outra dupla, também sertaneja. Nessa época, meu irmão, o Fábio, tocava violão com a gente. Em 2007, teve um casamento e um amigo nosso, o Luís Felipe Fabrício, iria tocar lá com sua banda de rock. Aí ele nos chamou também para tocar sertanejo nesse casamento. Como meu parceiro não pôde ir, chamei meu irmão. Nascia ali a dupla.

JC - Então, a música sempre esteve na vida de vocês?

Lucas Akira - Sempre. Meu pai tinha uma roda de samba, lá em Lins. Então, sempre estivemos perto da música. Na casa da minha avó, tinha muito instrumento musical. E a gente foi se acostumando cada vez mais com isso.

JC - Samba? Mas de onde vem o sertanejo?

Fábio - O sertanejo veio mais da minha mãe. Éramos pequenos e ela ficava em casa escutando música com a gente. Era Bruno Marrone, Edson e Hudson e outros dessa época. Acho que foi ela quem passou essa questão do sertanejo pra gente.

JC - Mas vocês tiveram uma infância ligada a esse mundo rural?

Fábio - Sim. Moramos a maior parte da nossa vida, lá em Pirajuí, em zona rural. Sempre tivemos contato com cavalo, por exemplo. Nossa infância foi muito boa. Lembro muito de brincar e, claro, de cantar.

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Nascidos em Pirajuí, os cantores e compositores encontraram em Bauru o local para crescer profissionalmente

JC - Muitos pais não apoiam os filhos quando eles dizem que querem viver da música. Como foi com vocês?

Fábio - Isso nunca aconteceu. Nossos pais sempre nos apoiaram. Sempre mesmo.

Lucas Akira - Eles sempre disseram para a gente seguir nossa carreira. Dizem: "Vocês nasceram com esse dom. Sigam em frente".

JC - E como é essa história de que é 'estranho descendente de japonês cantar sertanejo? Já ouviram muito isso?

Lucas Akira - Cara, já ouvimos muito isso (risos). Para a gente, justamente por todas essas ligações com a música e o mundo rural, sempre foi muito natural. Mas sempre causa um estranhamento inicial. Até pelo nome 'Akira'.

JC - Vocês estão há 11 anos na estrada. Do que vocês mais se orgulham?

Fábio - A vida na música é degrau por degrau. Então, é difícil falar do que a gente mais se orgulha. Cada conquista, cada degrau é um orgulho.

Lucas Akira - Uma coisa que eu me orgulho é que aprendemos a nos gerenciar. Aprendemos a produzir e vender. Temos uma equipe, hoje, de sete pessoas e aprendemos a fazer esse gerenciamento. Foi algo necessário e que, hoje, eu me orgulho de dar certo. Costumo dizer que o Lucas Akira e Fábio nunca ligam pra uma casa noturna e oferece um show. Aprendemos a nos vender e nos gerenciar.

JC - Vocês também têm músicas próprias. Quantas são e qual é, honestamente, a preferida?

Fábio - São 15 músicas próprias. E a preferida acho que é justamente "Oposto".

Lucas Akira - Sim, acho que a preferida é "Oposto". Essa música foi composta por mim, pelo meu irmão, pelo Rafael Hissayuki, pelo Lucas Lopes e pelo Nelson Akira, meu pai...

JC - Seu pai também compôs?

Lucas Akira - A história é até engraçada. A gente estava compondo e não encaixava uma frase. Ele estava lá perto, estendendo roupa, e falou a frase. Encaixou certinho. Entrou como um dos compositores (risos).

JC - E quais são os projetos agora?

Fábio - Já vamos lançar música e clipe novo. No final deste mês ou no começo de outubro, já estamos lançando. A música se chama "Exagera". Anota aí...

Lucas Akira - Além disso, outro projeto que sempre tivemos é gravar nosso primeiro DVD e estamos correndo atrás disso. Do mais, nossa estratégia é expandir. Sentimos que conquistamos espaço em Bauru e região e queremos ir adiante.

Fábio - Sim. Começamos em Pirajuí, conquistamos nosso espaço lá. Depois, em Bauru. Agora, é atingir toda a região, depois o Estado, e além.

JC - E tocar em Barretos? É um sonho?

Fábio - Olha, eu sou tão novo que nem festar em Barretos eu fui. Minha mãe não deixava (risos). Mas, sim, é um sonho.

Lucas Akira - Eu coloquei uma meta. Só vou pisar em Barretos quando for para me apresentar lá.

JC - Mas vocês já tocaram para muita gente, né?

Fábio - Sim. Na Grand Expo do ano passado, por exemplo, tocamos na mesma noite que o Alok. Foi para um público de 40 mil pessoas.

JC - E como é ter contato, hoje, com pessoas que eram ídolos de vocês há alguns anos?

Fábio - É muito legal. E eu destaco muito o João Bosco (da dupla João Bosco e Vinícius). Ele se tornou um 'padrinho' mesmo da gente. É um cara sensacional. Dá conselhos e nos ajuda muito. Outro que nos ajudou bastante e precisamos agradecer é o Bruno Godiano [da GeraArte].

JC - Como quase toda boa dupla sertaneja, vocês tinham que ser irmãos, né (risos)? Brigam muito?

Fábio - Brigávamos mais na infância. Coisa de irmãos mesmo. Uns murros por aí (risos). Mas sempre fomos muitos próximos e somos assim até hoje.

Lucas Akira - Acho que o segredo de se dar bem é justamente estar sempre perto. Mesmo quando não estamos trabalhando, saímos juntos. Vamos jantar com as nossas namoradas, tomar uma. E, nesses momentos, evitamos falar de trabalho.

JC - Para finalizar, qual o sonho de vocês?

Lucas Akira - Quero tocar em todos os Estados do Brasil.

Fábio - Sim. Nosso maior sonho é deixar um legado na música.