Em época de formaturas é bom saber o significado dos títulos acadêmicos das pessoas com aquelas capas e panos pretos sobre o corpo com origem na Roma Antiga.
As cerimônias acadêmicas não são representações teatrais, são momentos solenes carregados de valorização dos professores, alunos e sociedade. São momentos de transferência intergeracional de valores e símbolos que revigoram o espírito de responsabilidade coletiva e aumentam a chance de transformação da sociedade.
A beca ou toga era apenas um pano preto e curto sobre o corpo, depois passou a ser semicircular e chegou ao formato de vestido. A beca é uma veste "talar" e era exclusiva do cidadão romano, estrangeiros não podiam usá-la. Talar é sinônimo de calcanhar, logo, vestes talares são todas aquelas que chegam até os pés.
A beca é a mais simples das vestes talares e usada pelos graduandos e graduados sem nenhum título. Quando se tem o título de Doutor, obtido após 3 a 5 anos de um programa de pesquisas, adquire-se o direito de usar um cinto ou faixa da cor de sua profissão nas cerimônias. Em muitas formaturas, as becas são alugadas e a faixa na cintura vem da cor da profissão que o aluno está se graduando. Mas deveria ser preta como a beca, afinal, o graduado não tem o título de Doutor.
Um indivíduo com beca e faixa colorida implica em um professor com título de Doutor. Para se fazer um programa de doutorado e obter o título acadêmico de Doutor, quase sempre precisa ser mestre. Para se ter o título acadêmico de Mestre é necessário frequentar um programa de atividades que o capacite, durante 2 a 3 anos, a ser professor com formação didática e científica para ensinar. Ter o título de Mestre e Doutor significa uma honraria, uma demonstração de capacitação formal, nada mais. Para se ter o emprego ou cargo de Professor Doutor na universidade será preciso passar em concurso público aberto a quem quiser! Título é uma coisa, ter o cargo é outra, diferente!
LIVRE DOCENTE
Com o título de Doutor, qualquer um pode pleitear o título de "Livre Docência", em concurso público que obrigatoriamente as universidades estatais abrem todos os anos. As provas são escritas, práticas, didáticas e avaliam-se as atividades pregressas pelo seu currículo, além de se defender uma tese inédita sem orientador. É o concurso mais difícil da carreira e se tirar nota superior a 7 vira Livre Docente. Se já ocupa o cargo de Professor Doutor na universidade, com este título é promovido a Professor Adjunto ou Associado. Se ele obter o título de Livre Docente, mas não for Professor Doutor da universidade, continuará desempregado e segue sua vida normal.
Mestre, Doutor e Livre Docente são três títulos acadêmicos que qualquer profissional pode pleitear sequencialmente, independentemente se tem vaga ou não de professor na universidade. Universidade de verdade oferece estas oportunidades todos os anos para todos profissionais. Quando abrir uma vaga e ocupar o cargo de Professor Titular, só livres docentes podem pleitear e conseguir o topo da carreira, que antigamente era chamado de Professor Catedrático. Este concurso de Titular pode ser prestado por todos livres docentes, mesmo os que não sejam contratados da universidade.
O Professor Livre Docente nas cerimônias, em cima da beca usa uma capa acadêmica mais trabalhada, com uma faixa mais larga da cor da profissão, sem tarja preta no centro. Quando o Livre Docente passa no concurso e assume o cargo de Professor Titular, em cima de seus ombros vem um pano aveludado e enfeitado da cor de sua profissão, conhecido como Murça, Muça ou Samarra.
NA CERIMÔNIA!
Nas formaturas, o Diretor ou Reitor entra segurando um chapéu privativo para não ser usado na cabeça, conhecido como capelo, barrete doutoral ou borla. É uma analogia à coroa real. Quando o graduando pega o diploma, ele apõe o capelo sobre a cabeça do formando, e em nome da universidade, como a dizer: - que meu conhecimento e reconhecimento seja transmitido a você para que tenhas sucesso e sejas feliz!
Nesta sexta, em minha universidade, estive ao lado dos graduandos neste momento, para complementar mentalmente para cada um: " - e que assim seja e que Deus assim faça cumprir!"
Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todos os sábados no JC.