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Mães são parceiras dos filhos em balada, viagem, esporte e música

Ana Beatriz Garcia
| Tempo de leitura: 9 min

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Dorival Tadeu Dias Capelini com a sua mãe Tânia Capelini

Mesmo antes de nascer, já era possível ouvir a voz dela. Naquele tempo, as conversas eram um tanto diferentes. Ela aguardava por respostas e as recebia, por vezes, em forma de um ''chutinho' ou outro. Era o início de uma longa jornada, de uma descoberta mútua e de uma relação de confiança e parceria. Hoje, eles não só conversam todos os dias, como celebram, neste Dia das Mães, a amizade verdadeira que construíram ao longo dos anos.

Embora pareça maravilhosa essa relação de amizade entre mães e filhos, para especialista consultada, ainda que positiva, é preciso ponderar para que não haja brechas para eventuais desrespeitos e uso indevido de papéis (leia mais na página ao lado).

"Minha mãe é minha melhor amiga, sem dúvidas. É meu porto seguro", afirma Dorival Tadeu Dias Capelini, de 36 anos. Ele destaca que, desde pequeno, é bastante ligado à mãe e conta com ela em diversas situações. "Em todas as fases da minha vida, sempre fomos muito próximos, sempre muito amigos e confidentes. Até, como homenagem, coloquei na minha filha o nome dela", diz.

Mesmo não morando mais juntos, Dorival conta que relação entre eles não mudou e, pelo contrário, melhorou com o tempo. "Almoçamos juntos, conversamos bastante, fazemos caminhadas e, recentemente, fizemos uma viagem muito especial, na qual passamos 12 dias pela Patagônia e Argentina. Foi um momento ótimo para nós", afirma.

Tânia Capelini, de 68 anos, mãe de Dorival e de Tássia e Taís, só tem elogios aos filhos e à relação que mantêm com os três. "Eu sou apaixonada por eles. Tento ter esse tempo dedicado a cada um e fazer esse momento ser especial. Por vezes, tenho mil coisas a fazer, mas se me chamam para um almoço ou algo que precisem, deixo tudo para estar com eles", afirma. "O Tadeu sempre foi muito próximo, amigo e parceiro e a Tânia, minha única netinha, já é uma superamiguinha e me emociona sempre", garante.

SINTONIA

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"Qual amiga viraria torcedora fanática de um time só para te ver feliz? Pois é. Essa é minha mãe! De tanto me ver torcer - e sofrer - pelo Corinthians, a dona Márcia (vulgo minha mãe) se tornou 'corintiana, maloquera e sofredora''. Inclusive, ela já foi várias vezes ao estádio para ver o Timão comigo. Um dos episódios mais marcantes foi a final do Mundial em 2012, quando a levei para assistir à decisão na Fiel Macabra, aqui de Bauru. O resultado? Ela adquiriu a camiseta da torcida organizada, ficou amiga de todo mundo por lá e vibrou até mais do que eu. No fim, ainda fomos comemorar o título na av. Getúlio Vargas. Assim é minha ''mãemiga''! E é por essa animação, amizade, bom humor, parceria e por todo o esforço na minha criação que, hoje, eu te desejo o maior Feliz Dia das Mães de todos. Te amo e muito obrigado por tudo!" Vitor Oshiro (Editor Local/JC) para Márcia Oshiro
 

A amizade e parceria entre Mayara Silva Quirino, de 24 anos, e sua mãe Andreia Cristina Souza Silva, de 43 anos, é conhecida até pelas amigas da jovem. "Desde mais nova, minha mãe ia comigo nas raves (festas de música eletrônica) e eu sempre fiz questão de ir com ela. Minhas amigas adoram minha mãe e ficaram até amigas dela também", conta.

Há três anos, Mayara mora em Florianópolis e contar com a companhia e a amizade da mãe é o que mais faz falta em sua rotina atualmente. "Desde a presença, da conversa, do abraço até a comida dela, tudo faz falta. Mesmo cada uma tendo seu quarto, eu e minha irmã dormíamos sempre com ela e esse era um ritual nosso. Pelas redes sociais, a gente se fala sempre, mas não é a mesma coisa", conta.

Pela terceira vez, ela passará essa data longe da mãe, Andreia Cristina Souza Silva, de 43 anos, que também sente a ausência da filha. "Sou próxima dos meus três filhos, mas com a Mayara a sintonia é diferente. Ela é muito parecida comigo, temos os mesmos gostos e sempre fazíamos passeios ligados à natureza, à meditação e à música eletrônica juntas. Foi um choque quando ela se mudou, mas tento estar sempre próxima, mesmo na distância", afirma. Ela comemorará o dia de hoje ao lado dos outros filhos Douglas e Isabela.

CUMPLICIDADE

Dia desses, enquanto aguardávamos pacientemente uma vaga no estacionamento do supermercado, minha mãe olhou para mim e disse: “a gente se dá bem, né?”. Isso foi bem no finzinho das nossas férias, em abril. Há alguns anos, a gente deu um jeito de entrar em férias no mesmo mês para poder curtir juntas porque, além de mãe e filha, somos muito amigas. E como nos divertimos! Talvez, nossa aventura mais marcante tenha sido saltar de paraquedas, uma surpresa que fiz no aniversário de seus 60 anos e que ela só ficou sabendo minutos antes de entrar no avião (pensa numa mulher corajosa!). Nós adoramos esportes radicais, mas também encontramos prazer na tranquilidade de dividir um bom vinho e conversar por horas, só nós duas. É, mãe, a gente se dá bem. Feliz Seu Dia, parceria de vida. Te amo. (Tisa Moraes (repórter) para Selma Moraes Peres)

Mesmo que não ouvindo a voz de sua mãe desde o ventre, bastou uma troca de olhares para que o coração de Rodolpho Pereira Tavano, de 25 anos, e Margarete Tavano, de 56 anos, se conectassem para sempre. Com apenas cinco meses de vida, Rodolpho ganhou aquela que ele define como 'minha rainha''. "Desde pequeno, ela é minha melhor amiga. Confio nela para tudo da minha vida e ela confia em mim. A gente não tem segredos e nós conversamos muito", conta.

Juntos eles já fizeram aulas de boxe, MMA, bateria e, agora, estão trabalhando em um ateliê de aromas, aberto recentemente. "Em tudo que eu posso ajudar a minha mãe, eu ajudo. Estar com ela, fazendo alguma atividade juntos, é sempre um momento especial e divertido", comenta.

Margarete Tavano, de 56 anos, relembra que, desde pequeno, Rodolpho já estava com ela em todos os momentos. "Eu o levava com os meus amigos e ele adorava. Já tivemos uma fase em que eu viajava com moto clube e ele vinha na garupa. Sempre parceiro, teve uma viagem que eu tinha de ir de avião e, por eu ter medo, ele foi junto para me apoiar", diz. "Nós temos uma interação muito gostosa, mas eu também sou brava. Quando é pra ter conversa séria, a gente também tem", finaliza.

Próximas ou distantes, com atividades e gostos em comum ou não, como já dizia Milton Nascimento, amigo - e mãe - é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Que todas as ''mãemigas' sintam-se abraçadas neste domingo. Confira uma homenagem surpresa para estas e todas as outras mães em um vídeo desta edição (veja abaixo). 

Da redação

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"Nossa, ela é sua mãe? - essa é a frase que eu mais ouço na vida. Pode ser porque minha mãe e eu não temos muitas semelhanças físicas, ou porque sempre vamos pra baladas e shows juntas, ambientes que geralmente as pessoas estão entre amigos. Ela é loira e eu morena. Ela tem olho azul, o meu é castanho. Ela é a maior perua, já eu sou meio desleixada. Mas foi no meio de todas as nossas diferenças que a gente se encontrou, não só como mãe e filha, mas também como grandes amigas. Aprendemos a nos respeitar, não só como mãe e filha, mas como mulheres. Exercitamos a empatia diariamente, trocamos conselhos, reclamamos da vida, fazemos fofocas e trocamos mensagens o tempo todo. É por isso e muito mais que, em todas as vezes que me fazem a já tradicional pergunta, eu, prontamente, respondo com muito orgulho: essa é a minha mãe. Feliz dia das mães, Simone. Amo você! Da sua filha preferida." Samantha Ciuffa (fotojornalista) para Simone Ciuffa Jacyntho

Até no JC há casos que ilustram essa matéria. Jornalistas contam, em primeira pessoa, as experiências com suas mães amigas.

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Rodolpho Pereira Tavano e a mãe Margarete Tavano

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Mayara Silva Quirino e sua mãe Andreia Cristina Souza Silva

Psicoterapeuta avalia amizade como positiva mas sugere equilíbrio

Alex Mita Douglas Reis
Gretta de Souza: mãe é a primeira pessoa que a gente confia

Tempos atrás, os pais e as mães eram vistos como seres superiores e rígidos, ou seja, não havia espaço para uma relação de troca e de atenção. No entanto, com o passar do tempo, os pais se permitiram estar mais próximos dos filhos, conversar sobre os mais variados assuntos e trocar experiências. A psicoterapeuta sistêmica familiar Gretta Rodrigues de Souza defende uma figura intermediária, que permite criar um vínculo de amizade, mas de forma positiva, sem brechas para o desrespeito e o uso indevido dos papéis.

"A mãe tem que entender que, antes de ser amiga, ela é a mãe. Pode se tornar a melhor amiga do filho sim, mas ela é a única que é a mãe", afirma. "Nós vemos que, em muitos casos, existe uma inversão de papéis e uma dificuldade grande para a mãe dar limites, principalmente para adolescentes, e acontece uma permissividade maior que demanda certo cuidado", destaca.

De acordo com Gretta, por mais que seja positiva a relação de liberdade para conversar com seus pais, os filhos precisam encontrar neles exemplos. "O filho tem que ver a mãe que educa através de uma boa conversa, através de exemplos, que tem que ter respeito por ela e que a mãe vem primeiro do que ele. Não estou querendo dizer que deva haver um autoritarismo. De jeito nenhum. Mas é uma relação de respeito que deve ser imposta e com muita amorosidade, olhando nos olhos", reforça.

A psicoterapeuta conta que, em seu consultório, recebe casos de mães passivas que não entendem até onde vai o papel de mãe e o de amiga. "Tenho casos de adolescentes que pedem para que eu converse com suas mães alegando que elas não dão bronca. E mães que têm medo de chamar a atenção por medo dos filhos não quererem contar as coisas, por não querer ser chata", diz.

PRESSÃO

Gretta também salienta um trabalho que realiza com um grupo de mães, em que nota as pressões - dentre outras - em relação a este aspecto na maternidade. "As mulheres aprendem que mãe não pode errar, que mãe tem que dar conta de tudo, ser guerreira, isso e aquilo. Mas eu falo muito que 'não tem que nada''. A mãe é humana, precisa dizer ''não', mostrar para os filhos que ela também sente, que tem dias felizes e tristes e tudo bem. É importante as mulheres tirarem esse estereótipo de mãe perfeita e superamiga. Ela pode não dar conta disso", afirma.

EQUILÍBRIO

A psicoterapeuta ainda destaca que são percebidos reflexos positivos na vida dos filhos que mantêm esse bom relacionamento com a mãe. "Só por ela ter dado a vida, já é um motivo de grande gratidão. Perceber isso abre um caminho de prosperidade em todos os aspectos da vida", salienta. "Ter a mãe como melhor amiga e vice-versa requer certos cuidados, mas é uma relação positiva. Porque a mãe é a primeira pessoa que a gente confia na vida, a partir do momento que confiamos nela, passamos a confiar na vida. Mas a mãe tem que sentir isso em equilíbrio para saber ponderar as situações em que é mais a mãe ou mais a amiga, com respeito a cada fase que o filho está vivendo", conclui. 

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