Peço licença aos meus leitores para contar uma história ligada ao passado de nossa cidade, da qual tive grande participação, ou seja, uma trajetória a respeito do esporte. Em citações anteriores, salientei a minha paixão, desde criança, pelo E.C. Noroeste.
Depois que o Bauru A.C. foi fundado, em 1919, porém com a denominação de Lusitana F.C., passou ele a ser o maior rival do Noroeste, apesar da existência, na época, de outras influentes agremiações a exemplo do Vila Seabra F.C. e Smart F.C. No entanto, parte da torcida se dividia entre o então vermelhinho e o alvi-celeste.
Residia eu na Rua Agenor Meira, nº 12-59, defronte às instalações de hoje da Unimed. Naquele local moravam mais de 30 garotos cuja preferência no futebol se dividia em partes iguais entre aquelas duas agremiações. Às vezes aconteciam jogos da molécula, que se repartiam e formavam os times lusitanista e noroestino.
Assim nasceu um fanatismo ímpar, ou seja, as crianças que torciam desesperadamente pelo Lusitana F.C. (este em 1946 mudou o nome para Bauru A.C.) e os que vibravam pela equipe da ferrovia. Como a minha mãe foi uma das primeiras mulheres admitidas no quadro funcional da estrada de ferro, é lógico que a minha preferência era pelo Noroeste, isto a partir de meados dos anos 30 do século 20.
Mas, aquele amor pelo Alvirubro não afetava a amizade com os companheiros da então chamada Turma da Rua 15. Porém, quando se falava sobre os jogos entre as duas agremiações, principalmente durante o campeonato da cidade, prevalecia o ódio pelas cores contrárias. Essa desavença era igual a atual rivalidade entre as torcidas organizadas paulista, carioca, mineira, gaúcha etc.
Como terminou
Quando o E.C. Noroeste em 1953 foi promovido ao futebol elite de São Paulo e eu já estava militando na imprensa, aquela indiferença foi chegando ao fim. Com o Noroeste na I Divisão e o BAC na Segunda, não havia mais o porquê daquela rivalidade. Aos poucos o ex-Lusitana foi encerrando as atividades do seu departamento de futebol profissional, inclusive o juvenil e ficou o Noroeste, como o único representante bauruense no cenário paulista.
A convivência
com o Bauru A.C.
No decorrer do tempo, passei a conviver com os amigos do Bauru A.C., participando ao lado de seus dirigentes e frequentava o seu restaurante e lá permanecia várias horas jogando a conversa fora, ao lado de uma plêiade de companheiros. Compareci muitas vezes aos famosos bailes carnavalescos do antigo Lusitana, assistia os jogos de vôlei, basquete e de outras modalidades que aconteciam em suas dependências.
Muita emoção
Um dia, em minhas atividades como diretor de um Instituto Histórico, cuja sede ficava defronte aos portões do Bauru A.C., fui testemunha de uma cena que muito me emocionou e lágrimas deslizaram pelo meu rosto, pois pesados maquinários ali trabalhavam, demolindo tudo. Era uma página da história do futebol bauruense sendo destruída. O clube que revelou Pelé para o mundo, estava desaparecendo do cenário esportivo e social da Sem Limites.
A camisa do BAC
Como o Bauru Ilustrado é um verdadeiro depositário dos diferentes capítulos da história de nossa cidade, deixei de lado aquela aversão pelo Bauru A.C. que vinha desde os tempos de criança. Numa homenagem ao grande rival do Noroeste, fui à redação do JC para ser fotografado ostentando a gloriosa camisa do Bauru A.C., que há tempos me foi doada e quem ofereceu dizia que a mesma tinha sido usada pelo fenomenal Rei do Futebol, Edson (Pelé) Arantes do Nascimento. Assim, fixei para todo o sempre, com muito respeito, aquele verdadeiro símbolo de um clube que honrou as tradições do futebol bauruense.