
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu, por unanimidade, proibir o uso das gorduras trans industriais em alimentos a partir de 2023 Com a medida, o Brasil se torna o 50º país no mundo a adotar restrições contra os ácidos graxos trans industriais (AGTI), aliando-se ao objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminar a substância produzida industrialmente em três anos. Além de vários países europeus, EUA, África do Sul, Índia, Canadá, Argentina, Chile e Colômbia adotaram leis que limitam o uso desse tipo de gordura.
"O mundo tende a banir a gordura trans. A gente entende que é um processo de muito impacto para o setor produtivo, mas, óbvio, o papel da agência é resguardar a saúde do cidadão. Doenças crônicas e cardiovasculares são as mais citadas (como consequência da ingestão da gordura). Há uma gama de doenças que vêm e encurtam a vida, como a hipertensão, outras de ordem metabólica, sobrepeso", afirmou a relatora da resolução no órgão, Alessandra Bastos Soares.
A gordura trans, também conhecida como gordura vegetal hidrogenada, é amplamente utilizada pela indústria para aumentar o prazo de validade e a crocância de alimentos e para diminuir o preço dos produtos. A lista de itens que contêm a substância é grande: sorvetes, pipoca de micro-ondas, biscoitos, margarinas e congelados, por exemplo.
A decisão da Anvisa prevê um cronograma. A partir de julho de 2021, fica estabelecido o limite de 2% nos óleos refinados (produzido em função do tratamento térmico aplicado durante a etapa de desodorização). Nessa mesma data começa a restrição também de 2% na quantidade de gordura trans industrial em alimentos comercializados. Em janeiro de 2023, ela será totalmente banida.
Susbtância
causa inflamações
no organismo
A gordura trans está presente no preparo por serviços de alimentação, como restaurantes, lanchonetes, lojas de fast food, bares e vendedores ambulantes. Pesquisas afirmam que a substância aumenta os índices de colesterol ruim (LDL), diminui o bom (HDL) e causa inflamações no organismo.
"Temos evidências convincentes de que o consumo de ácidos graxos trans acima de 1% do valor total da dieta afeta fatores que desencadeiam as doenças cardiovasculares", explica Thalita Lima, gerente geral de alimentos da Anvisa.
Produtos deveriam
ter até 1%, diz OMS
No Brasil, não havia proibição na quantidade de gordura trans utilizada em alimentos industrializados e óleos vegetais. Assim, é possível encontrar produtos que têm muito mais do que os 2% de limite que deve ser estabelecido. Uma projeção da própria Anvisa aponta que o Brasil poderia se tornar o país da América com o maior volume de mercado de óleos e gorduras parcialmente hidrogenados (OGPH), passando os EUA. As diretrizes da OMS determinam que a substância deve representar, no máximo, 1% do valor energético de uma dieta.
No entanto, estudos recentes têm apontado que a média de consumo entre brasileiros está entre 1,4% e 1,8%. Segundo a Anvisa, as pessoas com baixa renda são as mais vulneráveis.