Tribuna do Leitor

A maldade humana tem limites?

Perla Samantha Celi
| Tempo de leitura: 4 min

E a loucura segue. Quem acompanha as notícias pode ter desenvolvido a capacidade de se informar e virar a página, pronto para a próxima notícia, mas alguns, como eu, talvez se choquem de forma desmedida e reflitam sobre a loucura do tempo em que vivemos. Me pego milhões de vezes ao dia me perguntando se caí na toca do coelho no mundo da Alice no País das Maravilhas, onde vive um "rei" louco, gralhando cortem as cabeças e com um gato alienado e egocêntrico dando as diretrizes para o comportamento social. Senti a necessidade de escrever ao ler a notícia polêmica sobre o aborto da menina de 10 anos. Fiquei triste e com extremo ódio ao ver o que fizeram com a vítima. Me revoltei com os portas voz das religiões, que no alto de seu preconceito se posicionaram contra a decisão da menina de interromper uma gravidez imposta. Ao invés de acolher a vítima, dentro dos ensinamentos cristãos, vimos pessoas "cultas" questionarem a moralidade da vítima, além de constantes notícias rotulando de assassinos, a menina e as pessoas que a acolheram e respeitaram pela primeira vez, seu direito, sua vontade, seus sentimentos e sua integridade.

As notícias são tão envolvidas em falsa moralidade que chegam a me fazer mal. Não vejo expoentes religiosos se oporem quando líderes de países promovem guerras, que causam tantas mortes sem motivo. E muito menos quando seus líderes, padres e pastores cometem atrocidades com as ovelhas inocentes sobre sua responsabilidade. Não vejo tais expoentes com a mesma ânsia em julgar e condenar. Aliás, muito pelo contrário, vejo padres e pastores ofertando o perdão de Jesus Cristo, as ovelhas desgarradas e pecadoras que sofreram e não resistiram a tentação do Diabo. Ou seja, já temos o culpado, o coitado do Diabo. Com costas largas para carregar todas as culpas das escolhas erradas do ser humano, desde a expulsão do paraíso por Adão e Eva. Acho que a serpente devia processar o ser humano, por sempre ter mais culpa pelo pecado, do que o próprio pecador, que no uso do livre arbítrio, invariavelmente, faz a escolha errada. Não vejo as igrejas se manifestarem com tal veemência quanto a fome e a precariedade da saúde pública no país, a qual causa tanto sofrimento e morte, e muito menos, quanto a conduta de criminosos que "matam" a infância e os sonhos de seres desprotegidos e que merecem todo nosso amor e preocupação.

Onde estão as religiões para custear advogados para prenderem criminosos que assassinam moralmente seus fieis? Cadê as religiões pressionando os sistemas públicos e legisladores para que haja maior proteção ao seu segmento infantil de fiéis? Quanto a criança em questão, que vive com os avós em situação humilde, as religiões irão contribuir com a melhoria da vida dos mesmos, ou, garantir a segurança dessa criança? E pior, no mesmo patamar, vemos no momento diversas notícias, envolvendo outras episódios de gravidez de crianças de 9 a 10 anos, violadas por pessoas que as deveria amar e proteger. E o que temos? Igrejas que se acham no direito "divino", de julgar e rotular de assassinos as vítimas e seus apoiadores, incentivando seguidores de suas doutrinas infames a infernizarem a vida das vítimas e a ameaçarem seus apoiadores. E qual a consequência? O silêncio. Muitas vítimas se calarão, sob o medo do jugo de uma sociedade carniceira, e religiões que condenam ao invés de proteger.

Usualmente minha frase mais comum é: "As portas do inferno estão abertas, e Deus nos esqueceu". Vejo um mundo tão nublado, cheio de maldade, onde ser vítima ou ser bom, é ser fraco. Vejo um mundo povoado por criaturas infames e desprovidas de amor. Insensíveis ao sofrimento. Conceitos como empatia, estão em extinção, e passaram a existir apenas nos museus das palavras e dos sentimentos.

Vejo um mundo onde nossas lideranças nos mais diversos aspectos, parecem importadas do inferno, graduadas na incompetência, intolerância e ignorância e pós graduadas com louvor, nas áreas da arbitrariedade, imoralidade, egocentrismo e falsidade. Assim, seus seguidores com mais chances de sucesso, são os que trilham pelo mesmo caminho de trevas. E assim caminha a humanidade. Para onde? Acredito que para o inferno... o que, aliás, dentro da concepção usual, é o lugar adequado para sua pobre existência.

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