José Milagre

Prêmio Nobel 2020: Entenda o método de edição genética

11/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min

O prêmio Nobel é o conjunto de seis prêmios em diferentes categorias para o reconhecimento de pessoas ou pesquisas que contribuíram para a humanidade. Esta semana, as cientistas Jennifer Doudna, estadunidense, bioquímica e bióloga molecular formada pela Escola de Medicina Harvard, e Emmanuelle Charpentier, Francesa, microbiologista e imunologista formada pela Universidade Pierre e Marie Curie e Instituto Pasteur, ganharam o prêmio Nobel de Química pelo desenvolvimento de um método de edição genética. Para entender esta inovação, eu conversei com Stephanie Milagre, membro do clube do Instituto de Ciências Biomédicas de Guarulhos, e com professora e bióloga Marina Oliveira Rodrigues, estudiosas neste tema.

O que é o sistema CRISPR?

O sistema CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats - ou no português Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) - é um método molecular associado à proteína (enzima) Cas9 e que possibilita recortes e alterações no DNA, seja ele humano, vegetal ou animal, o que é um avanço e tanto para a engenharia genética e para a obtenção de organismos geneticamente modificados. Vale lembrar que esse avanço foi possível a partir de resultados alcançados pelo Projeto Genoma Humano, que tinha como um de seus objetivos mapear todos os genes humanos e associá-los com características nos indivíduos. Por este motivo, hoje já se sabe qual é e onde se localiza o gene que define a cor dos olhos, e até mesmo sabe-se onde está localizado o gene que é o responsável pelo surgimento de determinada doença genética.

Vantagens do CRISPR

O CRISPR pode editar geneticamente plantas e vegetais, tornando-os mais resistentes à pragas e mais tolerantes. Tal modificação gênica também pode ser usada como cura para doenças infecciosas apenas recortando e eliminando o genoma do agente infeccioso, inclusive testes em animais já foram feitos para a eliminação do vírus do HIV, além de modificações no DNA de mosquitos transmissores de doenças para torná-los inférteis. Outra vantagem desse sistema é a modificação de genes que manifestam doenças hereditárias, como é o caso da Doença de Huntington, em que as células do cérebro se rompem com o tempo. O gene que manifesta essa doença incurável foi editado em camundongos e como resultado, os animais pararam de apresentar os sinais clínicos da doença. O sistema CRISPR vai além, podendo até editar genes humanos embrionários; talvez no futuro, com a edição gênica, não existam mais crianças cardiopatas, pois tal gene que afeta 1 a cada 500 pessoas pode ser corrigido ainda no embrião humano.

Entraves bioéticos

Existem, segundo as pesquisadoras, diversas questões éticas que implicam na aplicação biomédica do método, afinal de contas, até onde as modificações genéticas podem ir? Com o desenvolvimento de tal sistema, questões ligadas a interesses econômicos surgem, como por exemplo, qual empresa será a primeira a vender o "bebê perfeito"? Quem vai querer um filho normal quando se pode comprar um modificado geneticamente para ser mais forte e inteligente que todos os demais? E se a aparência perfeita em uma certa sociedade exige cor de olhos, pele, cabelo e formato de nariz específicos? O que aconteceria com os demais fenótipos? Você teria um filho fora dos padrões se pudesse ter o "bebê ideal"? E eu acrescento, "O que é ideal?" Esses questionamento e muitos outros são indagados e discutidos quando se trata dos limites do CRISPR e da sua aplicação, pois se usado para o bem, teremos a cura de doenças, mas se não for usado com ética e responsabilidade, se tonará disputa de poder para liderar a criação de um ser humano geneticamente "perfeito".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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