Entrevista da semana

Sertanejo desde a raiz

Cinthia Milanez
| Tempo de leitura: 4 min

A voz imponente e os acessórios de ouro o transformam em Renan Augusto, mas as mãos calejadas do trabalho na roça não deixam José Ailton Leite se esquecer da sua origem humilde. Natural de Sertanópolis, no Paraná, o cantor carrega o sertanejo, ritmo ao qual se dedica a partir do momento em que começou a carreira, em Bauru, desde a raiz. Em 2021, aos 61 anos, ele completa quatro décadas nesta profissão, marcada por momentos inesquecíveis, incluindo aquele em que dividiu o palco com a dupla Matogrosso & Mathias.

Primogênito da dona de casa Francisca Maria da Conceição, de 78 anos, além do já falecido Antonio Leite, que sustentou os 11 filhos do casal com o seu trabalho de pedreiro, Renan Augusto chegou a passar fome e só conseguiu estudar até o "quinto ano de grupo", como ele próprio rememora.

As dificuldades da fase inicial da vida do artista foram superadas com maestria, afinal, ele sempre se refugiava naquilo que, futuramente, se tornaria o seu ganha pão: a música.

Mais para frente, o cantor expandiu as suas raízes e frutos, formando uma nova família, com a esposa, a já falecida Fátima de Lourdes Bonini, com quem conviveu por 37 anos, os filhos William e Higor - este, inclusive, escolheu trilhar o mesmo caminho do pai e usa o nome artístico Rick -, bem como o neto Victor Hugo.

A seguir, o artista revive a sua trajetória e não deixa de destacar a origem humilde, que o ajudou a construir uma carreira junto ao chamado sertanejo raiz. Confira alguns trechos da entrevista:

Jornal da Cidade - O senhor teve contato com a música ainda na infância?

José Ailton Leite, o Renan Augusto - O meu primeiro contato com a música foi aos 10 anos, incentivado pelos meus pais, tios e irmãos, que também cantavam, mas eu não conseguia me dedicar integralmente, porque trabalhei na roça até fazer 18 anos.

JC - Qual foi a maior dificuldade que enfrentou nesta época?

Renan Augusto - Passei fome e não tinha roupa. Tanto que só conheci calça jeans e chinelo depois dos 15 anos. Além disso, estudei até o quinto ano de 'grupo' na maior dificuldade, porque precisava andar 12 quilômetros para chegar à escola.

JC - O que a sua raiz lhe ensinou?

Renan Augusto - A dar valor a tudo o que eu conquistei e a ser sempre humilde.

JC - O senhor começou a carreira artística em Bauru, certo? Como chegou à cidade?

Renan Augusto - Eu cheguei a Bauru entre 1978 e 1979, porque a minha mãe sonhava em morar na cidade. Na época, comecei a trabalhar como cobrador de ônibus. Depois, virei encanador, mas foi como pedreiro, profissão do meu pai, que atuei por mais tempo. Em 1985, conheci o Régis em um canteiro de obras e nós formamos a dupla Régis & Renan. Juntos, gravamos o compacto "Cochichos de Amor" e o LP "Casa da Noite".

JC - De onde surgiu o seu nome artístico?

Renan Augusto - Uma das primeiras duplas das quais eu participei, na década de 80, se chamava Luiz & Leandro, mas uma gravadora sugeriu mudar para Régis & Renan. Alguns anos depois, resolvi seguir carreira solo e, como o meu primogênito se chama William Augusto, ficou Renan Augusto.

JC - Gravou álbum na sua carreira solo?

Renan Augusto - Sim, o CD "Só Modão", que reúne regravações das modas de viola mais famosas. Eu também montei uma banda e nós nos apresentávamos em bailões de vários estados brasileiros. Na época, também chegamos a fazer um show no Paraguai. Mantive o grupo até 2007 e, a partir de 2009, passei a trabalhar só com acústico.

JC - Como ficou o seu trabalho na pandemia?

Renan Augusto - De alguns anos para cá, comecei a tocar nos barzinhos de toda a região. No início da pandemia, quando os serviços não essenciais foram proibidos de receber o público por meses, sofri muito. Até agora, não consegui retomar o mesmo ritmo de antes, mas melhorou bastante.

JC - Como pretende comemorar os seus 40 anos de carreira?

Renan Augusto - Depois que a pandemia acabar, eu pretendo lançar um álbum mesclando músicas autorais com regravações de modas de viola das décadas de 70, 80 e 90.

JC - O senhor se inspira em alguma dupla?

Renan Augusto - Em quatro: Matogrosso & Mathias, Milionário & José Rico, João Mineiro & Marciano, e Chitãozinho & Xororó. Na década de 80, eu atuei como baixista do Matogrosso & Mathias e, em 2019, voltei a reencontrá-la no Piratininga Rodeo Show, momento em que nós cantamos juntos. Nos anos 90, também abria os shows de Duduca & Dalvan.

JC - O senhor também compõe. Destacaria alguma música autoral?

Renan Augusto - Recentemente, eu compus a música "Deixa eu te amar" para a dupla Cleiton Viola & Henrique, de Ibitinga. A Nativa FM não para de tocar. Na hora de escrever, costumo me inspirar naquilo que o povo gosta, como mulher, viola, cerveja e balada.

JC - Quando pretende se aposentar?

Renan Augusto - Eu toco uma empresa de empreendimentos artísticos e locação de equipamentos musicais. Creio que, assim que completar 65 anos, pare com esse ramo, mas pretendo continuar com a música até o dia em que Deus permitir.

JC - Qual é o seu contato para shows?

Renan Augusto - Eu tenho uma página no Facebook chamada Renan Augusto, além do WhatsApp, que é o (14) 99772-7157.

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