José Milagre

Por que devo me preocupar com o vazamento de 223 milhões de dados de brasileiros?

07/02/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Vamos lá! Pegue um café. Adianto que não caberá tudo na coluna, mas vamos lá... Vamos primeiro à essência das expressões "dados", "informação" e "conhecimento". Nunca foram sinônimos! Mas é preciso conhecer..

O que são dados?

Thomas H. Davenport e Laurence Prusak (1998), em seu clássico "Working Knowledge", já definiam dados como conjunto de fatos distintos e objetivos, de fácil processamento em máquina e de baixa carga semântica. "Quando um cliente vai ao posto de gasolina e enche o tanque do carro, essa transação pode ser parcialmente descrita como dado: quando ele fez a compra, quantos litros consumiu, quanto pagou. Os dados não revelam porque ele procurou aquele posto e não podem prever a probabilidade daquele cliente voltar ao mesmo posto. Em si mesmos, tais fatos nada dizem sobre se o posto é bem ou mal administrado nem se está fracassado ou prosperando". Todas as organizações processam dados e a efetiva gestão deles é fundamental para o sucesso das empresas. Dados não têm significado inerente, descrevendo apenas "parte do que aconteceu". Não fornecem, em si, base sustentável para tomada de decisão, embora a matéria prima do processo decisório possa incluir dados.

O que é informação?

A informação tem como foco mudar o modo como o destinatário vê algo, exercer algum impacto sobre seu julgamento e comportamento. A palavra "informar" vem de "dar forma a", e esta vai modelar a pessoa que a recebe no sentido de "fazer a diferença" em uma perspectiva. Portanto, informação depende da análise subjetiva de quem recebe. Voltemos ao exemplo do posto: a simples observação de "dados soltos" relativos aos abastecimentos daquele cliente, pode gerar ao destinatário o sentido, a informação de que é um cliente recorrente, a média gasta, se é um dos melhores clientes, se prefere abastecer na manhã etc. Isso faz a diferença. Como informam Davenport e Prusak (1998, p. 5), "pense em informação como dados que fazem diferença". Informação, diferente do dado, tem significado, relevância, propósito, finalidade. Dados se tornam informação quando alguém lhe atribui significado. Isso se dá de várias formas: contextualização, categorização, cálculo, correção, condensação. É aí que entram as máquinas...

Há riscos do vazamento de "dados"?

Imagine que a capacidade de processamento atual permita gerar significado em velocidade inimaginável. Some-se a isso grande volume de dados, como milhões de dados pessoais sobre indivíduos, que correlacionado por outras bases, poderão gerar informações, dados inferidos, que podem ser usados para discriminar, aplicação de golpes, fraudes, danos, furto de identidade, classificar pessoas, impedir o acesso ao mercado de trabalho ou tratamentos de saúde, gerando conhecimento para agentes incertos e desconhecidos. Imaginou?

Em mãos erradas...

Se você soubesse que alguém tem histórico de mau pagador, lhe concederia crédito? Se soubesse que alguém cometeu um crime, contrataria para sua empresa? Cada um tomará uma decisão diferente, muitas discriminatórias... Mas o que nos leva a tomar estas decisões? O "conhecimento", também conhecido como "mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual, insight experimentado, a qual proporciona estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações" (DAVENPORT e PRUSAK, 1998, p. 5). Aqui mora parte dos riscos: Algumas decisões são discriminatórias, ilegais, já que, nas palavras dos autores citados, "o conhecimento existe dentro das pessoas e faz parte da complexidade e imprevisibilidade humanas".

Em síntese...

O tratamento indevido de dados (pessoais) pode ser feito para causar danos aos seus titulares. O conhecimento, que pode gerar decisões e ações danosas a titulares de dados, deriva da informação e esta deriva do combustível, os dados, que embora em si não apresentem tanto, graças as novas tecnologias e capacidade de processamento de big data, correlacionados podem revelar muito sobre seus titulares, razão pela qual o "combustível" do conhecimento, que gera as decisões danosas, tem sido objeto de proteção regulatória, a proteção de dados pessoais, um direito fundamental. Quais empresas terão informação e conhecimento a partir de nossos dados vazados? Como usarão? Por quanto tempo manterão? O que você precisa para consultar e proteger seus dados? Preparei um vídeo em meu canal. Aproveita e se inscreve deixando sua opinião e comentário https://www.youtube.com/watch?v=qH_RCRQeyKA&t=205s

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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