
Sem vagas para radioterapia pelo SUS em Bauru, 16 pessoas com câncer precisam viajar até Jaú (53 quilômetros de Bauru) quase que diariamente, à noite, para ter acesso ao tratamento. Diante deste cenário, entidades estão se unindo para lutar pela ampliação do convênio do Estado com o Nair Antunes Instituto do Câncer (Naic), único responsável pela prestação deste tipo de serviço pela rede pública no município (leia mais abaixo). Esse aumento de vagas, inclusive, havia sido sinalizado pelo governo estadual no início deste ano, mas não se concretizou.
De acordo com o diretor do Naic, Marcelo Antunes, a renovação do contrato com o Estado pelo serviço de radioterapia ocorreu em fevereiro deste ano, porém, sem aumento de cotas (leia mais abaixo). "Nós atendemos pacientes de 13 cidades da região, sendo que, por mês, são cerca de 60 novas pessoas aguardando pelo procedimento. Porém, nós temos capacidade de absorver, em média, apenas 35 deles", explica.
Como, muitas vezes, os pacientes não podem esperar para passar pela terapia essencial no combate ao câncer, essa parcela restante que fica sem vaga em Bauru acaba sendo direcionada a outros locais, como é o caso do Hospital Amaral Carvalho (HAC), em Jaú, considerado referência em tratamentos oncológicos,
Segundo a Prefeitura de Bauru, atualmente, 16 bauruenses não conseguiram vaga no Naic e, desse modo, fazem o tratamento durante a noite em Jaú. O transporte até o município vizinho é custeado pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Programa Tratamento Fora do Domicílio.
'DESGASTANTE'
Dentre essas pessoas, está uma mulher, de 36 anos, que luta contra um câncer de mama há um ano. "De segunda a sexta, a ambulância me busca em casa entre 16h30 e 17h e, depois de pegar todos os outros pacientes, seguimos para Jaú de van. Minha sessão de radioterapia ocorre 21h55 e dura oito minutos, mas sei de pessoas que ficam ainda menos tempo no aparelho. Enfim, aguardo todos e chego em casa perto da 0h40", descreve a bauruense, que pediu para não ser identificada pois ainda não contou para parte da família que está em tratamento.
A paciente relata que fez quimioterapia no Hospital Estadual (HE) em 2020 e, em fevereiro deste ano, iniciou o tratamento com radioterapia no HAC. Serão 30 sessões. "Quando me mandaram para Jaú, não havia previsão de quando teria vaga em Bauru. Aliás, não sabiam se teria vaga aqui, por conta do contrato com o Naic, que poderia ser encerrado. Mas seria muito melhor fazer o tratamento na cidade, pois tenho um filho pequeno e preciso deixar ele com outras pessoas para poder viajar. Então, sinto desgaste físico, por conta do procedimento, e psicológico, porque não consigo mais ver meu filho direito e ficar com ele o tempo necessário", relata.
Além disso, o processo havia ficado ainda mais complicado há algumas semanas, quando a Saúde municipal parou, momentaneamente, de buscar os pacientes em casa e pediu para que eles fossem até a UPA mais próxima. "Nós temos a imunidade baixa e tivemos que ir para um lugar com pessoas que estão doentes. Para piorar, nós não podemos tomar sol. Então, foi bem difícil. Ainda bem que isso só durou alguns dias e eles já voltaram a nos buscar em casa", conclui a paciente.