
Pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), em Bauru, têm buscado cada vez mais nas artes marciais ajuda para o desenvolvimento dos filhos. A percepção, que é feita no mês alusivo à conscientização mundial sobre o TEA (Abril Azul), é da Associação Garra de Tigre de Kung Fu (AGTKF).
Segundo o fundador e coordenador de projetos da entidade, Richard Leutz, a escola recebeu grande procura por vagas neste ano. E passou a atender, pela primeira vez em 27 anos, os autistas, público para o qual a associação tem buscado ampliar suas atividades por causa da crescente demanda.
"Começamos com esse trabalho em janeiro. A pandemia (de coronavírus) debilitou física e psicologicamente crianças e adultos, que na primeira oportunidade buscaram nossa escola. E, por mais que tenhamos quase três décadas de projeto, um trabalho específico para este público (alunos autistas), com o aporte profissional, nunca havia sido feito. Mas já caminhamos bem e estamos muito perto do trabalho ideal. Seguimos preparando nossos instrutores, porque percebemos que a procura grande continua", comenta Leutz.
Ele conta que recebeu, no início de 2022, um pai querendo matricular um casal de filhos autistas. Além de buscar uma atividade física que não os estressassem, ele procurava no kung fu melhorar a socialização dos pequenos.
"Conversei com o instrutor e pedi para que ele fizesse um teste e conferisse a possibilidade de inseri-los na turma. Avisei o pai que seria um teste e havia um risco de não conseguirmos no momento, mas imediatamente acionei a nossa psicóloga e um programa de atendimento foi montado", cita Leutz, comentando que a experiência deu certo e os alunos continuaram praticando a arte três vezes por semana na Garra de Tigre.
Três meses depois, a associação já possui seis crianças autistas, entre 5 e 7 anos, em seu quadro de aproximadamente 300 alunos. No último fim de semana, a escola recebeu mais interessados nos benefícios da arte para o TEA.
"É bem provável que as pessoas entendessem que ter uma deficiência ou qualquer outra condição especial fosse um impeditivo para a prática da arte marcial. Mas, diferentemente disso, o kung fu é uma arte inclusiva, que qualquer pessoa pode participar dentro das suas limitações", observa Leutz.
'ANIMOU'
Mãe de um dos alunos, Emileide Rodrigues Barbosa conta que, antes do kung fu, tentou inserir o filho, Pedro Rodrigues da Silva, de 7 anos, em aulas de natação, mas sem sucesso no processo de adaptação. "Ele tem dificuldade em seguir as etapas da aprendizagem, faz tudo na brincadeira. E, no kung fu, tem dado muito certo, ele se animou. Hoje, o Pedro fica repetindo os movimentos e pergunta se já está na hora do treino", comenta a mãe, elogiando também a evolução na socialização do filho.
BENEFÍCIOS
Psicóloga da AGTKF, Ana Carolina Santos ressalta os benefícios proporcionadas pelo kung fu sob o aspecto da coordenação motora, do controle dos movimentos e do fortalecimento muscular.
"A arte marcial para as crianças com autismo promove a autonomia, autoestima, diminui a ansiedade, o medo, nervosismo e beneficia o desenvolvimento da cognição, que é crucial para o aprendizado. Por serem aulas coletivas, os alunos com TEA são socializados e incluídos nas dinâmicas e atividades, o que colabora para a comunicação e interação deles", analisa a psicóloga.
Ela frisa ainda o apoio que o projeto tem oferecido aos pais. "Muitas vezes, eles chegam se sentindo sozinhos e desamparados, a população ainda não entende o como lidar com o autista", finaliza.