Atitude

O medo de se sentir excluído

Bernardo Yoneshigue
| Tempo de leitura: 2 min

Durante boa parte dos últimos dois anos, as publicações nas redes sociais seguiam a mesma cartilha: informações sobre a pandemia, dicas do que fazer na quarentena e apelo para o #fiqueemcasa como estratégia de combate à Covid. Mas com a vacinação e a melhora do cenário epidemiológico, a vida voltou a parecer com o que era antes, com festas, eventos, viagens - e também com a síndrome do Fomo. Acrônimo de Fear of Missing Out, algo como "medo de estar de fora", o termo remete à ansiedade sentida quando a impressão é de que todos ao seu redor estão aproveitando a vida, menos você.

A psicóloga Anna Lucia King, doutora em saúde mental e coordenadora do Laboratório Delete do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, explica que o Fomo costuma afetar pessoas mais inseguras, com estima baixa e alta dependência emocional, mais vulneráveis às opiniões alheias, especialmente ao conteúdo das redes sociais.

"Só que essas redes são mais do 'parecer' do que do 'ser'. O que importa ali é a imagem, não o real. Então, as pessoas mostram uma vida em que tudo é maravilhoso, imagem que nem sempre combina com a realidade da vida delas. E isso tende a fazer com que essas pessoas mais vulneráveis se sintam excluídas desse contexto tão "maravilhoso", com sentimentos de tristeza e de angústia", afirma King.

Dentro desse cenário de comparação com retratos "perfeitos" das vidas alheias, a pandemia pode ter impacto ainda mais forte no Fomo, ressalta o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, coordenador do ambulatório de dependência de comportamento do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp. "De repente, você começa a ver seus colegas postando fotos de viagens, festas e o impacto é maior porque a ideia é que eu estou "devendo" dois anos de vida a mim mesmo e, quando eu vejo que o colega começou a pagar essa dívida antes de mim, isso causa uma ansiedade ainda mais forte."

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