Tribuna do Leitor

Bauru de antigamente

Cesar Savi
| Tempo de leitura: 3 min

Na década de 70, salvo engano a ser corrigido por um gentil leitor ou leitora, o Brasil viveu um período de caos telefônico. O hoje simples pedido de instalação de um aparelho demorava cerca de 3 anos. Quando um deles era colocado na casa de uma pessoa, o fato era comemorado com o se o usuário tivesse ganho um prêmio na loteria. O problema, de acordo com fontes, era gerado pela incompetência de uma estatal no setor de telecomunicação em não ter ou saber como expandir esse segmento. Um interurbano tinha que ser pedido para a telefonista. Para São Paulo, a demora era de cinco horas ou mais. Na abertura do expediente, às 8h, eram feitos os pedidos de ligação para a Capital prevendo a demora. Com o advento das tecnologia, foi implantando o sistema DDD para ligações intermunicipais, estaduais e internacionais de forma instantânea. Um grande avanço

A melhor solução, como não poderia deixar de ser, foi a privatização com a Companhia Telefônica Brasileira (CTB) assumindo o setor. Com isso, o famoso telefone passou ser uma fonte de renda para investidores. Empresários bauruenses quase enchiam uma página da famosa lista telefônica com seus nomes devido a quantidade de telefones. O avanço na telefonia, um pedido de instalação era atendido em cerca de 24 horas. Atualmente, o ex-famoso e ex-valioso aparelho passou a ser descartado, desprezado substituído pelo celular. A lista telefônica é um verdadeiro dicionário. Tinha os nomes de todos os usuários em ordem alfabética pelo sobrenomes. Uma outra lista tinha os nomes de ruas e os que tinham telefone na mesma com indicação do CEP e onde estava localizada. Nas páginas amarelas, indicação de empresas, indústrias com suas atividades e prestadores de serviços. Tinha também orientação sobre como usar a lista, telefones úteis e de emergência, hospitais e postos de saúde, cultura e lazer, como tirar documentos, mapa de Bauru. As plantas cartográficas permitiam a visualização do traçado urbano da cidade. Tudo isso em 496 páginas com propagandas. A telefonia progrediu mas até hoje a qualidade sonora e péssima, cas de Bauru. Muitas pessoas preservam essas listas para consultas quando o Google não resolve. Em abril de 1978, Bauru ganhou espaço no noticiário nacional em termos de jornais, rádios e TVs devido a um fato inusitado: invasão do palco por um famoso industrial bauruense. Na sede social do Bauru Tênis estava sendo apresentada peça "Apareceu a Margarida", com Marília Pera, monólogo de Roberto Athayde, promovida por Paulo Neves, que ficou em cartaz, com sucesso de público, cerca de dois anos em São Paulo. O texto era uma aula de biologia com a atriz usando palavrões.

O ator Francisco Ozanan participa. Não fala uma palavra e aparece nu de costas para o público.

Na parede um quadro de Jesus Cristo. O industrial bauruense Sérvio Túlio Coube (vereador pela UDN de 1956 a 1963), diretor da Tilibra e irmão do ex-prefeito Luiz Edmundo Coube, entra no palco e retira o quadro de Jesus Cristo alegando que a imagem estava sendo ultrajada. Ele foi aplaudido e também foi vaiado e muitos saíram junto com ele do clube. O delgado regional e polícia Francisco de Assis Moura, presente no local, reteve o quadro e alegou que ele não constava do "script". A atriz disse que Jesus Cristo não estranharia ver um de seus filhos nu. Logo depois, a peça continuou sem a mesma dinâmica da parte inicial.

 

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