MANDANTE

Suspeito de morte de Gritzbach é ligado ao PCC e CV, diz polícia

Por Rogério Pagnan e Francisco Lima Neto | da Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução
Antônio Vinícius Gritzbach foi morto a tiros no aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, no dia 8 de novembro
Antônio Vinícius Gritzbach foi morto a tiros no aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, no dia 8 de novembro

O traficante internacional de drogas Emílio Carlos Gongorra de Castilho, 44, apontado pela Polícia Civil de São Paulo como um dos mandantes da morte do delator do PCC Antônio Vinícius Gritzbach, tem ligação com as duas maiores facções criminosas do país, PCC e CV, segundo investigação policial.

Policiais ligados à investigação ouvidos pela reportagem afirmam que Emílio, conhecido como Bill e Cigarreira, faz parte de um clã criminoso ao lado dos irmãos João Paulo Gongorra Castilho, o João Cigarreira, e Anderson Luiz Gongorra Castilho, Anderson Cigarreira.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa dele até a publicação deste texto.

Emílio teve a prisão decretada pela Justiça de São Paulo.

O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) fez operação na manhã desta quinta-feira (13) para prender o traficante, mas ele não foi encontrado e é considerado foragido. De acordo com a delegada Ivalda Aleixo, Emílio estaria escondido na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. A mulher e um filho dele foram levados ao departamento para prestar esclarecimentos.

Além disso, outros 21 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de participação na morte do delator estão sendo cumpridos. Ao todo, 116 policiais em 41 viaturas fazem buscas em 20 endereços.

A investigação também aponta que Emílio usa dois documentos falsos em nome de João Bortolato Fallopa e João Luiz da Cunha. Eles foram emitidos por órgãos oficiais, mas são considerados falsos porque foram forjados para ajudar o suspeito a escapar da polícia.

Ele foi preso por tráfico de drogas em 2008 em operação da Polícia Federal, denominada Fronteiras, sob a suspeita de fornecer drogas para os complexos do Alemão e da Penha, no Rio de janeiro, ambos dominados pelo Comando Vermelho.

Emílio, segundo a polícia, negociava com traficantes como Fabiano Atanasio da Silva, vulgo FB, da cúpula do CV, logo abaixo de Marcinho VP, e Alan Hilário Lopes, o Rala, e André Luiz Fernandes Rodrigues, o Decão.

Rala e Decão, conforme investigação, teriam dado apoio na fuga e esconderijo no complexo da Penha a Kauê do Amaral Coelho, suspeito de participar na morte de Gritzbach. Ele é suspeito de ser o olheiro do crime no interior do aeroporto internacional de Guarulhos, indicando o alvo aos executores.

Kauê é considerado pelos policiais figura central da investigação por ser o principal elo entre os traficantes cariocas e o grupo que apoiou financeiramente a fuga dele para o Rio.

Kauê é sobrinho de Diego do Amaral Coelho, o Didi, outro suspeito de participar do mando da morte do delator do PCC. Kauê teria sido convocado a participar do crime a pedido do tio por ser alguém de confiança. Para os policiais, ele não participaria da ação sem autorização de Didi.

Tanto Emílio quanto Didi teriam participado do tribunal do crime de Gritzbach, em que o delator do PCC teve de dar explicações sobre o suposto sumiço de milhões de reais de Anselmo Santa Fausta supostamente convertidos em criptomoedas. O delator do PCC teria escapado da morte ao convencer o grupo de sua inocência.

A absolvição de Gritzbach no tribunal do crime teria irritado a cúpula do PCC e provocado a morte de dois integrantes da facção criminosa responsáveis pela decisão, Rafael Maeda e Claudio Marcos de Almeida.

Emílio e Didi teriam sido os responsáveis pela contratação dos policiais militares acusados de serem os autores do assassinato do delator do PCC.

Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo, em outubro do ano passado, Gritzbach teria acusado Emílio como o articulador do plano de apontá-lo como o mandante da morte de Santa Fausta, assassinado no fim de dezembro de 2021 quando estava em um carro no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

"Segundo dr. Ivelson [advogado contratado por Gritzbach], os policiais do DHPP (não sei exatamente quem), pediram 40 milhões pra me tirar do IP [inquérito policial]. Posteriormente, falaram que nem se eu pagasse 60 milhões me livrariam, pois o Cigarreira [Emílio] já tinha acertado para me colocar como alvo principal. Esclareço que nada foi pago por mim, muito menos entregue ao dr. Ivelson", diz trecho da delação obtida pela reportagem.

Em entrevista na tarde desta quinta, o delegado Rogério Barbosa confirmou que a investigação apontou Emílio Cigarreira e Didi como os mandantes do assassinato.

"O Cigarreira é o principal articulador por vingança da morte do amigo Anselmo, que o auxiliou a crescer no mundo do crime, e também por por ter perdido dinheiro e imóveis para Vinícius, que também poderia citar seu nome em possível delação que podia fazer", diz Barbosa.

O delegado conta que os documentos e objetos apreendidos durante as diligências serão analisados nos próximos dias, mas ele acredita que não deve aparecer novo elemento que possa ser incluído no inquérito. Ele afirma que não há indício de participação de nenhuma outra pessoa no crime, além de Emílio, Didi e Kauê.

"Parte dos objetos foi encontrado em imóvel onde Emílio ficava foragido. A gente contava com a sorte de ele estar em um dos imóveis de uso dele em atividades criminosas, em tráfico de drogas, principalmente", conta o delegado, citando um quadro com um fuzil dourado que foi apreendido em uma das casas. "O quadro com a réplica de um fuzil dourado na parede de casa é para mostrar a ousadia dele. Ele não tinha vergonha de dizer que era traficante de drogas."

Gritzbach foi morto a tiros no aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, no dia 8 de novembro, quando retornava de uma viagem a Alagoas.

Conforme mostram imagens do ataque, ele havia acabado de deixar a área de desembarque do terminal 2 do aeroporto quando homens encapuzados saíram de um Volkswagen Gol preto e atiraram contra o empresário.

Desde a data do crime até agora, houve a de 26 envolvidos, sendo 22 policiais civis e militares, além de outros quatro suspeitos de relação com Kauê, apontado como olheiro.

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