CONFRONTO

PM mata homem negro com tiros nas costas em porta de mercado

Por Da redação | São Paulo
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Câmera de segurança capta momento dos tiros
Câmera de segurança capta momento dos tiros

Um homem de 26 anos foi morto com tiros nas costas disparados por um policial militar de folga em frente a um mercado no Jardim Prudência, na zona sul de São Paulo. O caso ocorreu por volta das 22h40 do dia 3 de novembro. Imagens de câmeras de segurança mostraram toda a ação. O caso foi divulgado inicialmente pelo G1 e confirmado pela Folha.

Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp.

O homem morto foi identificado como Gabriel Renan da Silva Soares, 26 anos. Ele foi atingido pelo PM Vinicius de Lima Britto, 24 anos. Em depoimento, o agente disse que agiu em legítima defesa.

A imagem mostra uma cena noturna em uma área externa, capturada por uma câmera de segurança. Há várias pessoas visíveis, algumas usando capas de chuva, e um motociclista ao lado de uma moto. Dois carros brancos estão estacionados, e o ambiente parece molhado, indicando que está chovendo. Ao fundo, há luzes de outros veículos e uma estrutura que parece ser um comércio.

Segundos antes de ser baleado, Soares havia furtado produtos de limpeza de uma das gôndolas do mercado Oxxo na avenida Cupecê, 1.677.

As imagens das câmeras mostram quando Soares entra no mercado e passa pelo policial, que estava no caixa — como estava de folga, ele não usada farda. O jovem vai até os fundos do estabelecimento e pega quatro objetos.

Ele então tenta fugir correndo pela entrada da loja, mas escorrega em um papelão na saída. O PM, que estava de costas, se vira para Soares, que está na calçada, e atira diversas vezes sem chance de defesa. Soares cai ferido. Ele morreu no local. Na carteira dele foram encontrados um cartão do SUS e uma nota de um dólar.

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse em nota que o PM está afastado das atividades operacionais. "O caso segue sob investigação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). As imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos".

Ainda de acordo com a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), familiares do jovem morto foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar a testemunha que esbarrou em Soares durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado.

No âmbito administrativo, a Polícia Militar acompanha as investigações que, caso encontrem irregularidades na conduta, podem resultar na exclusão de Britto. A reportagem não localizou a defesa do policial.

Boletim de ocorrência.

Segundo o boletim de ocorrência, o PM fazia compras no mercado quando presenciou o furto no local. Em seu depoimento, Britto disse ter atirado porque Soares teria afirmado estar armado e colocado a mão por baixo da blusa. Por isso, ele afirma que agiu em legítima defesa ao atirar.

Durante perícia no local os peritos localizaram diversos ferimentos pelo corpo de Soares. Eles são listados no BO, sendo: três no tórax, dois no dedo anelar da mão esquerda, um no antebraço esquerdo, um na região auricular direita, três no antebraço direito e um no rosto.

Outros clientes estavam no estabelecimento naquele momento, que continuou funcionando apesar do corpo. Um funcionário prestou depoimento e reforçou a versão apresentada no boletim de ocorrência de que Soares afirmou estar armado antes de ser atingido.

De acordo com o mesmo funcionário, Soares teria ido ao mercado mais cedo naquela data e furtado caixas de café e bolachas. Os furtos por ele, ainda de acordo com o depoimento, seriam comuns na unidade.

"Ele tinha 11 perfurações no corpo, sendo perfurações na cabeça, no tórax, na mão, nos braços, que não condizia com nada disso que ele [policial] estava falando", disse Fátima Taddeo, tia de Soares.

Advogada, ela pediu no processo que as imagens das câmeras do interior e exterior da loja fossem anexadas ao processo, o que ocorreu. "Essas imagens apareceram mostrando que realmente o depoimento dele foi falso, porque para gente já não fazia sentido uma legítima defesa com 11 tiros", acrescentou.

Para ela, a versão de legítima defesa não condiz com o furto, crime praticado sem violência ou grave ameaça. Ela disse que o sobrinho era usuário de drogas.

"Até o dia que ele foi sepultado ainda tinha essa narrativa de que ele era um suspeito de tentar roubar e foi morto por um policial herói, o policial herói que salvou a sociedade desse elemento".

Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários