Visão turva, manchas escuras, sensibilidade à luz e até a perda total da capacidade de enxergar. Esses são alguns dos sinais que podem surgir após a ingestão de bebidas adulteradas com metanol, substância altamente tóxica que voltou a ganhar destaque após casos recentes de intoxicação e mortes no Brasil.
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O perigo não se limita ao mal-estar imediato. Ao ser metabolizado pelo fígado, o metanol se transforma em formaldeído e ácido fórmico — compostos extremamente nocivos. O ácido fórmico, em especial, compromete a produção de energia das mitocôndrias, levando ao colapso de células do nervo óptico.
“O nervo óptico é tão delicado que qualquer lesão pode ser irreversível. E, quando as células nervosas morrem, não há regeneração possível”, explica o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Israelita Albert Einstein.
Pesquisas apontam que até 10 ml de metanol diluídos já podem causar danos permanentes à visão, enquanto 30 ml podem ser fatais.
Os sinais de intoxicação não aparecem de forma instantânea. Entre seis e 24 horas após o consumo, os sintomas iniciais podem se confundir com uma ressaca comum: tontura, náusea, dor de cabeça e fraqueza.
À medida que a intoxicação evolui, a visão pode se tornar borrada, acompanhada de escotomas (manchas escuras), fotofobia (sensibilidade à luz) e até visão dupla. Em alguns casos, a perda visual avança como uma névoa que encobre o campo de visão até levar à cegueira.
O diagnóstico envolve exames específicos, como acuidade visual, campo visual, percepção de cores e resposta pupilar à luz. Além da visão, o metanol pode causar acidose metabólica grave, quadro que pode levar ao coma ou à morte.
O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível. O etanol é utilizado como antídoto, por competir com o metanol no metabolismo hepático, evitando a formação de ácido fórmico. Em situações graves, pode ser necessária hemodiálise. “O tempo é decisivo para reduzir os danos. Quanto mais rápida a intervenção, maiores as chances de evitar sequelas graves”, ressalta Lottenberg.
Quem ingerir bebida alcoólica suspeita e apresentar sintomas deve procurar imediatamente atendimento de emergência. Pessoas que tenham consumido o mesmo produto também devem ser encaminhadas para avaliação médica.
O governo federal orienta buscar ajuda pelos seguintes canais: