O aumento recente do preço do café está mudando hábitos de consumo no Brasil. Dados oficiais e pesquisas do setor mostram que a alta nos valores tem levado consumidores a diminuir a quantidade diária e a optar por versões mais econômicas na prateleira.
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Levantamento realizado em setembro por um instituto a pedido da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) ouviu 4.200 pessoas em todas as regiões do país. A pesquisa revela que 96% dos entrevistados consomem café diariamente, mas 24% disseram ter reduzido o consumo neste ano — a maior proporção registrada desde o início do levantamento, em 2019. Apenas 2% afirmaram ter aumentado o consumo.
A estratégia de compra mudou. Hoje, 39% dos consumidores relatam escolher a marca mais barata disponível — um salto significativo em relação a 2019, quando esse comportamento atingia 7%. O fenômeno mostra que, mesmo sem abandonar a bebida, o público tem ajustado prioridades diante da pressão nos preços.
O custo do quilo do café nas prateleiras, segundo a Abic em agosto de 2025, está em torno de R$ 62,83 — quase o dobro do valor registrado há dois anos (cerca de R$ 32,40). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta alta acumulada de 60,85% nos últimos 12 meses, embora tenha havido ligeira queda em julho e agosto.
Especialistas e representantes do setor atribuem a escalada dos preços a uma combinação de fatores: tarifas aplicadas em mercados externos que pressionaram os preços na Bolsa de Nova York; estoques globais reduzidos após quatro safras fracas; queda na produção de arábica no Brasil neste ano; e eventos climáticos, como as geadas no Cerrado Mineiro, que causaram perdas estimadas em 424 mil sacas (cerca de 25 mil toneladas), segundo cálculos do mercado.
A indústria também tem enfrentado custos maiores para comprar o grão nas fazendas, o que tende a refletir no preço final. A Abic projeta novo aumento próximo a 15% nas próximas semanas, caso as condições de mercado se mantenham.
Para analistas, o impacto mais imediato é o redesenho do comportamento do consumidor: a bebida segue presente na rotina — quase metade dos entrevistados disse tomar entre três e cinco xícaras diárias de 50 ml —, mas a escolha por marcas e embalagens mais baratas revela um aperto no poder de compra. A mudança no padrão de escolha pode afetar margens das marcas tradicionais e forçar ajustes na oferta do mercado interno.