19 de dezembro de 2025
MENOR EM 13 ANOS

Violência no Brasil atinge baixa histórica, mas alerta persiste

Por Bia Xavier - JP |
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Feminicídios atingem recorde em 2024 e já representam 40% dos homicídios contra mulheres no Brasil, com maioria das vítimas sendo negras.

O Brasil registrou 44.127 mortes violentas intencionais em 2024, número mais baixo desde o início da série histórica, em 2011. A redução de 5% em relação a 2023 consolida uma tendência iniciada em 2018. Ainda assim, o dado não reflete um cenário inteiramente positivo: enquanto os homicídios caem, a violência policial, os feminicídios e os crimes digitais apresentam crescimento preocupante.

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O levantamento faz parte do 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24). A metodologia considera homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes causadas por intervenções policiais.
A letalidade policial, por exemplo, teve recuo tímido: foram 6.243 mortes em 2024, queda de apenas 2,7% em relação ao ano anterior. Desde 2017, as mortes violentas caíram 31%, mas as provocadas por policiais aumentaram 21%. Esse desequilíbrio faz com que a presença da violência estatal tenha mais peso no total de assassinatos.

São Paulo, mesmo com a menor taxa de mortes violentas do país (8,2 por 100 mil habitantes), foi um dos quatro estados a registrar aumento na criminalidade. A letalidade policial saltou 61% no estado, indo de 504 para 813 casos. Junto a SP, Maranhão, Ceará e Minas Gerais também apresentaram crescimento da violência. Já o Amapá lidera a taxa nacional, com 45,1 mortes por 100 mil habitantes.

Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Maranguape (CE) aparece como o mais violento do país, com 79,9 mortes violentas por 100 mil moradores — um reflexo direto do conflito entre facções criminosas.

Mulheres, jovens e vítimas digitais: os novos alvos da violência

Embora os homicídios tenham diminuído, os feminicídios alcançaram o maior número desde que a lei foi criada, em 2015. Das 3.700 mulheres assassinadas em 2024, 1.492 foram mortas por motivo de gênero. Desse total, 63,6% eram mulheres negras. A cada minuto, duas denúncias de violência doméstica foram feitas pelo telefone 190.

Entre crianças e adolescentes, também houve aumento. Foram 2.103 vítimas com idades entre 12 e 17 anos — 67 a mais que no ano anterior. Em quase 20% desses casos, a morte foi causada por policiais. A participação das forças de segurança nesse tipo de morte cresceu 15,7% em relação a 2023.

Crimes patrimoniais, como roubos e furtos, registraram queda, mas os golpes e fraudes — especialmente relacionados a celulares e contas bancárias — bateram recorde. O país teve 2,17 milhões de casos de estelionato em 2024, maior número da série iniciada em 2018. Estimativas apontam prejuízo de até R$ 186 bilhões entre 2023 e 2024 para as vítimas, incluindo perdas financeiras e custos de reposição.

Casos de injúria racial aumentaram 42%, totalizando 18.200 registros. Já os de racismo subiram 26,3%, com 18.923 denúncias. A ausência de padronização no registro desses crimes, porém, ainda dificulta a análise e o combate a práticas discriminatórias.

Por fim, a população carcerária voltou a crescer e chegou a 906 mil pessoas privadas de liberdade. Ao mesmo tempo, o número de adolescentes em regime socioeducativo fechado também aumentou, interrompendo um ciclo de queda que vinha desde 2018.