ARTIGO

O envelhecimento da população e a nova vulnerabilidade urbana

Por Alex Madureira |
| Tempo de leitura: 3 min

O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado, e cidades de médio porte, como as do Interior paulista, já sentem os impactos dessa mudança silenciosa. A ampliação da população idosa não é apenas uma questão demográfica ou previdenciária, trata-se também de um desafio direto para a segurança pública. À medida que as cidades envelhecem, suas vulnerabilidades mudam. Permanecer com estruturas pensadas para um país unicamente jovem significa ignorar riscos que crescem a cada ano.

O idoso é, por natureza, mais exposto. Tem mobilidade reduzida, maior dependência de serviços públicos, mais sensibilidade às condições urbanas e, muitas vezes, vive sozinho. Esses fatores se somam e criam um novo mapa de risco. Uma calçada quebrada não é apenas um problema de urbanismo, pode ser a diferença entre autonomia e queda grave. Uma rua mal iluminada não é apenas desconforto, é a certeza de que muitos deixem de sair de casa após o pôr do sol. A segurança pública, portanto, precisa dialogar com o urbanismo, a saúde e o transporte de maneira muito mais integrada.

Iluminação pública, por exemplo, ganha um papel estratégico. Estudos mostram que idosos evitam deslocamentos noturnos quando percebem trechos escuros, e isso afeta desde a participação comunitária até o acesso a serviços essenciais. Investir em iluminação inteligente e ampliada é, ao mesmo tempo, uma medida preventiva contra crimes e uma ação que devolve confiança a quem já tem limitações naturais.

O transporte urbano também exige revisão. Linhas com horários irregulares, pontos distantes e veículos inadequados ampliam a sensação de isolamento e tornam esse público dependente de deslocamentos a pé, justamente onde ocorrem os maiores riscos. Uma cidade que oferece transporte acessível é uma cidade que reduz a vulnerabilidade de quem mais precisa.

Outro ponto essencial é o redesenho dos espaços públicos para ampliar a permanência e a circulação de idosos. Praças revitalizadas, bancos em áreas estratégicas, travessias de pedestres com tempo maior nos semáforos, rotas  criam ambientes que estimulam o convívio e reduzem a sensação de abandono. A presença contínua de pessoas em espaços urbanos, inclusive idosos, fortalece a segurança comunitária e desestimula atividades criminosas, criando um ciclo virtuoso de proteção e vitalidade urbana.

Além disso, o atendimento emergencial precisa acompanhar essa transformação. O tempo de resposta em ocorrências com idosos deve ser menor, e isso requer tecnologia, protocolos específicos e integração entre equipes de saúde, guarda municipal, polícias e assistência social. A rapidez salva vidas, mas também fortalece a confiança da população em suas instituições.

Há ainda um aspecto muitas vezes negligenciado: o aumento de golpes e fraudes direcionados a idosos. À medida que o envelhecimento avança, cresce também o número de criminosos especializados em explorar fragilidades emocionais e tecnológicas desse grupo. Combater essa prática não se faz apenas com repressão, mas com informação clara, campanhas permanentes e presença comunitária do poder público.

Envelhecer é uma conquista social, não um problema. O que não podemos aceitar é que nossas cidades continuem presas a uma lógica ultrapassada, incapaz de proteger quem já contribuiu tanto. Planejar a segurança pública do futuro passa, obrigatoriamente, por reconhecer que o Brasil do amanhã será mais grisalho, e que essa realidade exige novas respostas, novas prioridades e uma visão estratégica que coloque o idoso no centro do debate.

Alex Madureira é Deputado Estadual na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Comentários

Comentários