
“Por que não?”. Essa é uma pergunta-chave na vida da Secretária de Desenvolvimento Econômico de Piracicaba, Thais Fornicola. De diretora de uma das maiores companhias de energia renovável do mundo, a Raízen, para a chefia de uma Pasta estratégica para a economia, a indústria e o comércio da cidade, o caminho de Thais é pautado por olhos e ouvidos atentos na busca de conexões que geram soluções.
Engenheira de formação, Thais chegou a Piracicaba há 15 anos em busca de uma vida mais tranquila, porém não menos desafiadora. Construindo uma carreira sólida com um forte olhar para o protagonismo feminino no agronegócio, em 2021 foi reconhecida pela Forbes como uma das 100 Mulheres Fortes do Agro. E um pouco da história dessa paulistana de nascimento e piracicabana por adoção você confere agora:
Thais, primeiro, nos fale um pouco sobre o seu contexto familiar. Se fosse uma história, como você contaria sobre as suas origens?
Venho de uma família que sempre valorizou muito o estudo, o trabalho duro e a superação de desafios. Meu pai é da região de Bauru, nascido na Usina Miranda, e chegou em São Paulo aos 18 anos em busca de melhores oportunidades. Foi lá na capital que ele conheceu minha mãe, então estudante de psicologia. Cheguei inclusive a pensar que estaria aí meu futuro profissional, porém inspirada pelo meu pai, que fez carreira na área de telecomunicações, fiz Engenharia Elétrica, onde me formei pelo Instituto Mauá, em 2003.
E como foi sua trajetória até chegar em Piracicaba?
Construí minha carreira trabalhando numa empresa de consultoria junto a vários projetos e de grandes clientes. Depois de uns cinco anos, percebi que era de dar uma nova dinâmica para a vida. Resolvi ir para Barcelona e fazer um MBA com o meu então namorado - que hoje é meu marido. Ficamos lá por cerca de um ano, entre 2008 e 2009, em plena crise. Quando voltamos para São Paulo, não nos adaptamos mais àquela realidade. Vivíamos uma vida bem mais tranquila em Barcelona. Foi aí que meu marido recebeu um convite para vir à Piracicaba trabalhar na Cosan (atual Raízen) onde eu, logo depois, também comecei a trabalhar, na área de Recursos Humanos. Estamos aqui há 15 anos, temos dois filhos piracicabanos e somos apaixonados pela cidade.
Como foi a transição de uma engenheira “de origem” para a área de Gestão de Pessoas?
Na época do MBA me apaixonei por temas relacionados às chamadas “soft skills”, pelos aspectos de liderança e de comunicação. Quando recebi o convite para trabalhar com Pessoas, me perguntei: “por que não?” - e a minha vida é feita de vários desses “por que nãos?”. Tomo decisões com base nisso, no tamanho do desafio e no quanto aprenderei com ele. Nessa nova posição, passei a me envolver em projetos de transformação, de pegar problemas difíceis e construir soluções ouvindo muito todos os envolvidos, entendendo as experiências de cada um para a partir daí conectar pontos e construir “pontes”. Atuei em várias áreas da empresa até chegar ao cargo de Diretora de Operações de Trading - fui a primeira mulher a ocupar esse posto na companhia.
Você saiu do mundo corporativo e veio para o setor público. Como foi essa transição?
Ao ser convidada para assumir a Pasta, achei que era algo até meio desconectado comigo - nunca cogitei ir para a gestão pública. Porém entendi que o Helinho tinha uma visão e uma vontade muito genuína de promover transformações. Sempre fui uma pessoa executora, de liderar e “tracionar” uma transformação. Já como Secretária, meu papel é fomentar, é destravar condições e, mais uma vez, construir pontes entre os setores público e privado. Entendo que o município, enquanto entidade, tenha alguns papeis fundamentais. Um deles é o de entender o que precisa ser feito e de desenhar políticas públicas que facilitem e que deem a segurança jurídica necessária aos empresários e empreendedores.O outro está ajudar a construir uma narrativa que posicione Piracicaba no lugar onde de fato ela está.
E onde seria esse lugar?
Muitas vezes, deixamos de nos posicionar num nível de maior robustez justamente por não termos uma dimensão clara do nosso tamanho, de não conectarmos números e informações. Ao assumir a Secretaria, fui estudar e encontrei números muito bons. Nosso PIB per capita é 26% maior que a média do Estado de São Paulo. Nos últimos anos, nossa economia cresceu cerca de 240%, contra 170% em nível estadual. O que falta é crescermos e nos posicionarmos de maneira mais estruturada. Se pegarmos um setor, por exemplo, como o da biotecnologia, onde temos muitas empresas produzindo e investindo em inovação. Falamos muito pouco sobre elas. Falamos muito do agro em si, porém pouco da biotecnologia, onde Piracicaba é uma verdadeira potência - e não falo isso num contexto local, mas sim mundial.
Como o Parque Tecnológico se insere nesse contexto de maior inovação?
Nosso desejo é que o Parque Tecnológico se torne autossustentável. Ele é fantástico, porém não o posicionamos como liderança regional. Pensando nisso, abrimos um chamamento público que traga uma nova gestão, que se comunique de uma forma diferente, que modernize as políticas internas e contratuais. Outra coisa que fizemos e queremos fazer mais são os distritos industriais. Já abrimos os editais e agora estamos na fase de seleção das empresas, onde analisaremos cada uma e daremos prioridade de acordo com o potencial de investimento e de geração de emprego e de renda.
Recentemente Piracicaba passou a contar com Cadeias Produtivas Locais. Como elas estão sendo desenvolvidas por aqui?
As CPLs (Cadeias Produtivas Locais) são uma solução muito legal. Ao chegar na Secretaria, fui estudar sobre o tema e descobri que os países que mais se destacam economicamente são aqueles que têm cadeias produtivas organizadas e conectadas internamente. Por que isso? Porque a empresa que está produzindo certa matéria prima conhece o outro negócio que precisa daquele insumo para a sua produção. Um acaba entendendo a demanda do outro, e isso fortalece aquela cadeia. Já fizemos isso com a produção de cachaça, com a Rota Turística de Santa Olímpia e agora estamos fazendo isso na Saúde, onde temos muita pesquisa desenvolvida, seja na radiologia, na geriatria e no setor de laboratórios, que é gigantesco na cidade.
Na sua visão, qual o caminho para a “mudança de mindset” de Piracicaba, na potência econômica que é?
Acredito que o desenvolvimento de políticas públicas, a construção do nosso posicionamento como município no sentido de construirmos pontes e narrativas que nos fortaleçam, possam contribuir com esse processo. É questão, por exemplo, de reunirmos pequenos e médios empreendedores e dizer “olha aqui, temos a Apex (Agência Brasileira de Exportações e Investimentos). Você pode exportar mesmo tendo um pequeno negócio. Vamos qualificar o seu time pra isso?”. Somos o quinto maior município exportador do Estado e, novamente, falamos muito pouco sobre isso e não nos posicionamos de forma estruturada no lugar em que estamos.
Você ainda está no início do seu primeiro ano como Secretária de Desenvolvimento de Piracicaba. Mas pensando no longo prazo, que tipo de legado você quer deixar para a cidade?
Quero construir uma história na qual eu consiga colaborar para a construção de um município que se torne mais simples para se investir. Que tenha menos burocracia, que atraia pelo relacionamento e pelos inúmeros benefícios que Piracicaba tem: localização privilegiada, infraestrutura, mão de obra, faculdades e centros de pesquisa. Mas, além disso, eu quero que, em termos de relacionamento com a prefeitura, que a gente consiga facilitar mais os processos, tornar as aprovações mais rápidas para simplificar a vida dos empresários e, em linha com aquilo que o Helinho busca na sua gestão, é poder colaborar para transformarmos Piracicaba na melhor cidade para se viver, estudar e trabalhar.