O esporte tem se mostrado, ao longo da história, um meio importante de ressocialização de dependentes químicos, alcoólatras e fármacos, que buscam a atividade física para elevar a autoestima e dar sentido de mudança. Os hábitos saudáveis, vindos por meio do esporte, trazem uma nova perspectiva para essas pessoas.
“Com a prática esportiva, reduzimos a ansiedade e eliminamos o estresse porque as atividades físicas liberam endorfina (hormônio do prazer) que ajuda a melhorar o humor e as relações interpessoais”, conta o professor Paulo Santos, que ministra aulas de treino funcional e Jiu-Jitsu a cerca de 50 acolhidos de uma casa de recuperação, a Dolce Vita, que fica no bairro Santa Teresinha.
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A mudança nas relações pessoas é nítida, na visão de Santos, primeiramente com os outros acolhidos que, na maioria das vezes, são totalmente desconhecidos, e depois no trato com os familiares e nas relações sociais de modo geral. “Sempre nós mostramos aos acolhidos novas atividades e perspectivas variadas de lazer e bem-estar”, declarou. “E com o Jiu-Jitsu devolver a confiança deles em se relacionarem com outras pessoas, inclusive familiares”, emendou.
O professor disse que o esporte faz com que os dependentes químicos tenham “melhoras significativas nas relações, no humor e no aspecto físico, uma vez que a maioria chega bem debilitada por conta da dicção ativa e dos malefícios dessa prática”, constatou. “Muitos, inclusive, vêm me agradecer pelos ensinamentos, pelos exercícios e atividades e, por as vezes, simplesmente ouvi-los”, complementou.
Santos explicou que o esporte é um dos meios pelos quais o acolhido em uma casa de recuperação encontra “uma saída” e se “liberta” dos vícios. “Tenho contato com ex-acolhidos que entenderam o propósito da internação e, ao sair da clínica, foram praticar lutas, musculação, voltaram a ser produtivos, trabalhando, cuidando dos afazeres, dos filhos, cônjuge e dos pais”, declarou.
Em seu trabalho, o professor tem cerca de 50 alunos no treino funcional e 10 no jiu-jitsu. “São somente homens e alguns deles têm comorbidades e até sequelas por conta da dicção e não participam do treino funcional nem do Jiu-Jitsu. Mesmo assim coloco eles para fazer calistenia (exercícios com o corpo) sem usar cargas, alongamentos e até relaxamento e meditação”, contou.
'SALVOU MINHA VIDA'
As pessoas que optam pelo tratamento provam que o melhor caminho a seguir é procurar ajuda. Vários dos acolhidos na clínica Dolce Vita praticam jiu-jitsu e dão o seu testemunho positivo.
Gabriel Ambrosio, 28 anos, que está em tratamento há um mês e meio, diz que aprendeu no esporte a ter disciplina. “É algo que eu nunca tive na vida e você aprende isso no tatame e leva para todas as áreas da vida”.
Ambrosio mora em São Paulo, mas optou por se tratar em Piracicaba. Ele vivia com depressão e tendência suicida, mas agora está em recuperação. “O esporte salvou a minha vida”, contou ele, que planeja seguir a prática esportiva após a plena recuperação.
Outro que pretende investir no jiu-jitsu quando deixar a clínica é Alexandre Quadros, 26 anos. Há três meses no local, ele conta que o esporte “vem me fazendo bem”. “Está me ajudando muito; é muito respeito em prática, muita disciplina em jogo”, afirma.
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“É um controle emocional para as minhas atividades. Venho aumentando a minha autoestima; me sinto cada vez mais focado nos objetivos para a minha vida”, emendou. Quadros contou que seu pai mora nos EUA, por isso pensa em ir para a América para seguir no esporte.
Cantor de rap desde os 14 anos e compositor (já tem 25 músicas), ele também pretende lançar seus sucessos no futuro, a fim de aliar com a vida esportiva. “Viva a vida do jeito que ela lhe proporciona, mas não se esqueça que a vida só vai ser vivida enquanto os problemas se solucionam”, destaca um trecho de uma de suas canções.
Yan de Lima Santos, 27 anos, diz que o esporte fala “sobre honra, sobre o respeito com as outras pessoas, sobre disciplina e foco”. “O jiu-jitsu é uma arte que dá para gente levar pela vida inteira. Dentro do tatame, a gente aprende isso. O jiu-jitsu eu vim praticar aqui e me apaixonei”, revela.
Faixa-preta há 27 anos, César Brunetti, 41 anos, está em tratamento há cerca de um mês para vencer a dependência de álcool. Ela conta que o esporte “é uma ferramenta que julgo muito importante porque traz todo o problema que eu tinha no álcool para me anestesiar; hoje eu consigo encontrar no esporte.”
“O prazo máximo que eu fiquei limpo na minha vida foram cinco anos e três meses fazendo atividade física. Quando eu abandonei isso, a primeira coisa que eu recorri foi à substância. Então, não adianta. Se a gente não usar o nosso cérebro a nosso favor a gente vai cair.”