ARTIGO

Escolas–quartel discriminam estudantes pobres


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Como sabem os leitores, a lei que cria o programa estadual de escolas cívico-militares foi aprovada na Assembleia Legislativa no dia 21 de maio por 52 deputados que apoiam o governo bolsonarista de Tarcísio de Freitas e seu secretário da Educação, Renato Feder. Para alcançar esse resultado, o governador convocou a tropa de choque da Polícia Militar para reprimir com brutalidade estudantes secundaristas e professores que se manifestavam democraticamente contra o projeto.

Pense bem, leitor, leitora: pode ser positivo um projeto que, para ser aprovado, necessita da ação da Polícia Militar dentro de uma casa de leis? O que começa mal,prossegue e termina mal.

A lei aprovada está sendo contestada no Supremo Tribunal Federal por partidos de oposição ao governo Tarcísio/Feder. Também enfrenta a ativa resistência de entidades e movimentos que lutam por educação pública de qualidade, como a Apeoesp e outras. E já mereceu um pronunciamento do Ministério Público Federal pela sua inconstitucionalidade.

De fato, a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não preveem esse tipo de escola na educação pública.

Tanto a Constituição Federal, quanto a LDB asseguram o acesso universal a educação pública de qualidade, como obrigação do Estado, balizada em princípios como a liberdade de ensinar e aprender, pluralidade de ideias e concepções pedagógicas, gestão democrática e outros.

Escola cívico-militares, ou escolas-quartel, como prefiro chamá-las, colidem frontalmente com essas concepções educacionais. Trata-se de um projeto autoritário e repressor, que visa a formatação das mentes da nossa juventude para incutir-lhes o pensamento único que reflete uma visão de mundo retrógrada e antidemocrática,

Para mim, a escola precisa ser um ambiente de diálogo e de liberdade, espaço agradável e convidativo para que os jovens nela queiram estar e aprender, permitindo-lhes concluir o ensino básico com autonomia intelectual e capacidade de tomar decisões quanto ao se futuro pessoal, profissional, educacional.

O governador Tarcísio de Freitas lança esse projeto como uma cortina de fumaça para tentar esconder o desastre de sua gestão. O rendimento dos estudantes em Português e Matemática no primeiro ano deste governo, de acordo o SARESP (avaliação conduzida pelo próprio governo) é o pior desde 2015.

A pauta de Tarcísio e Feder para as escolas estaduais é de desmonte. Querem retirar R$ 10 bilhões, em valores atuais, praticam violento arrocho salarial aos profissionais da Educação, não investem nas escolas, impõem as plataformas digitais, que rebaixam a qualidade do ensino e são usadas para assediar e controlar os professores, entre outras medidas.

Com a recente resolução publicada, querem que policiais aposentados, recebendo salários maiores que os dos professores e sem formação para tanto, ministrem aulas de ética, civismo e política! Isto é um completo absurdo.

Escolas militares devem ser criadas e mantidas com recursos dos orçamentos militares e não da educação. Ao mesmo tempo, transformar escolas da periferia, que sofrem com todo tipo de descaso e abandono, em escolas-quartel, significa mais uma vez discriminar os jovens pobres, a maioria negra que reside nessas regiões, como se ali o único caminho seja a aplicação da disciplina militar.

Não, senhor governador. Não, senhor secretário. O que as escolas públicas estaduais na periferia necessitam é de atenção, investimentos, número adequado de funcionários e professores, condições de ensino-aprendizagem, valorização de todos os que nela estudam e trabalho, a quem deve ser garantida participação dos destinos e na gestão de cada escola, por meio dos conselhos de escola.

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