ECONOMIA

Entenda como ficará a Sabesp com a privatização

Considerada uma das principais promessas de campanha do governador Tarcísio de Freitas, a desestatização da Sabesp deve ser concluída em 22 de julho

Por Thiago Bethônico | 5 dias atrás | Tempo de leitura: 5 min
da Folhapress

Divulgação

 Na última sexta-feira (21), o Governo de São Paulo deu início ao processo de oferta de ações da Sabesp
Na última sexta-feira (21), o Governo de São Paulo deu início ao processo de oferta de ações da Sabesp

A privatização da Sabesp entrou oficialmente em sua reta final. Na última sexta-feira (21), o Governo de São Paulo deu início ao processo de oferta de ações, com o detalhamento do cronograma e a divulgação do prospecto, documento que contém as principais informações sobre a transação.

Considerada uma das principais promessas de campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a desestatização da Sabesp deve ser concluída em 22 de julho, data marcada para a liquidação das ações que hoje pertencem ao estado.

Mas até lá, o governo precisa executar uma série de tarefas, que inclui encontros com investidores para apresentar o projeto (roadshow), coleta de interesse do mercado nas ações da companhia e a definição do acionista de referência --que será uma espécie de sócio estratégico do governo.

Entenda a seguir o que vai acontecer com a Sabesp após a conclusão do processo.

O que falta para a privatização?
A primeira fase do cronograma até a venda das ações começa nesta segunda (24). Os candidatos a acionista de referência poderão apresentar suas ofertas ao longo da semana, com prazo até a próxima sexta (28).

Esse sócio estratégico que o governo busca para o negócio deverá adquirir, sozinho, 15% do capital da Sabesp e terá direito a um terço do conselho de administração, além do direito de escolher o presidente do conselho e outros executivos.

Um dos grupos na disputa é a Aegea, maior empresa privada de saneamento básico no Brasil, que deve encabeçar um consórcio junto com fundos de investimentos e seus principais acionistas, como Itaúsa e o GIC (fundo soberano de Cingapura). Segundo a agência Bloomberg, também estão no páreo a Equatorial e um fundo ligado ao empresário Nelson Tanure.

Os candidatos a acionista de referência vão indicar qual valor por ação estão dispostos a pagar para arrematar os 15% da Sabesp. As duas melhores ofertas vão para a próxima fase e os finalistas serão divulgados no dia 28.

Começa também nesta semana a viagem de Tarcísio aos EUA, onde fica de segunda (24) a sexta (28) para o roadshow. Na semana seguinte (1º a 5 de julho), o governador vai para a Europa e volta ao Brasil para continuar com a divulgação até o dia 12 de julho.

O roadshow é tradicional em processos de concessão e privatização. Na prática, o governo vai se reunir com executivos em diferentes cidades para apresentar as oportunidades de investimentos.

Feito isso, começa, na primeira quinzena de julho, o bookbuilding --processo em que os investidores do mercado indicam a quantidade de ações que desejam adquirir. No dia 16, o governo divulga o investidor de referência que foi escolhido pelo mercado (leia mais sobre isso abaixo) e, no dia 22 de julho, ocorre a liquidação das ações.

O governo vai vender a Sabesp?
Não. O Governo de São Paulo, que hoje tem 50,3% da Sabesp, vai vender uma fatia das ações que possui até ficar com 18% do capital, saindo do controle da companhia.

O acionista de referência vai ficar com 15% dos papéis, enquanto investidores do mercado --incluindo pessoas físicas e jurídicas, brasileiras e estrangeiras-- terão 17%.

Qual o modelo de privatização escolhido?
O governo diz ter estudado vários modelos de desestatização, inclusive a venda total da empresa. A opção escolhida foi a de fazer uma oferta subsequente de ações (follow-on). É um modelo diferente do que aconteceu com a privatização da Eletrobras, em que as ações foram diluídas na Bolsa.

No entanto, o formato do follow-on escolhido por Tarcísio é inédito, cheio de complexidades que deixaram o mercado em dúvida ao longo do processo.

Isso porque a oferta de ações será feita em duas etapas. Na primeira, o governo coleta as propostas feitas pelos acionistas de referência e seleciona as duas maiores.

Feito isso, começará o bookbuilding. Na prática, os investidores terão dois "books" (livros) para registrar seus interesses de compra e escolher de qual querem adquirir as ações: se do livro do concorrente A ou se do livro do concorrente B. Cada livro terá o valor por ação ofertado pelo candidato a acionista de referência, mas os investidores também poderão sugerir o valor das ações que querem comprar no book de preferência.

Haverá também a possibilidade de sinalizar interesse nos dois livros, ainda que a compra só aconteça de fato após a definição de qual acionista de referência venceu a disputa.

Essa foi a forma que o Governo de SP encontrou para que o acionista de referência da Sabesp fosse também aceito pelo mercado.

Para definir qual concorrente se tornará acionista de referência, o governo fará uma média ponderada entre o valor da ação ofertado por cada concorrente e o valor das ofertas que os investidores registraram.

Como será a companhia depois?
No começo de junho, o Governo de São Paulo divulgou as regras de governança da Sabesp após a privatização. Ficou definido, entre outras coisas, que o governo estadual deverá se abster de indicar o candidato a diretor-presidente da companhia, podendo apenas participar da votação para escolha do CEO, por meio de seus representantes no conselho de administração.

O novo conselho de administração após a privatização será composto por nove membros, sendo três indicados pelo governo, três indicados pelo acionista de referência e três conselheiros independentes.

O presidente do conselho será indicado pelo investidor de referência. Pelo menos dois dos indicados pelo governo terão que ter experiência de no mínimo cinco anos no setor de utilidades (gás, saneamento e energia). Além disso, dentro da diretoria executiva, o diretor de Engenharia e Inovação e o diretor de Operação e Manutenção deverão ter pelo menos dez anos de experiência no segmento.

Por que o governo vai privatizar a Sabesp?
O Governo de São Paulo diz que a desestatização da Sabesp permite aumentar os investimentos da companhia em modernização, antecipar a universalização do acesso a água e esgoto de 2033 para 2029, incluir pessoas que hoje não estão na área de atendimento da companhia e, principalmente, baratear a tarifa para o consumidor.

Membros da oposição, contudo, dizem que não há nada além de ambição política por parte do governador. De olho no vácuo deixado por Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio quer se firmar como líder emergente da direita brasileira, fazendo das privatizações a marca de sua gestão. A Sabesp seria sua "joia da coroa".

Raio-X da Sabesp

  • Fundação: 1973
  • Lucro líquido 2023: R$ 3,5 bilhões
  • Valor de mercado: R$ 57 bilhões
  • Funcionários: 11.170
  • Municípios atendidos: 375
  • População atendida: 28,4 milhões

1 COMENTÁRIOS

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  • jaques campos
    4 dias atrás
    Essa historia nos ja conhecemos basta ver os resultados dos serviços ja privatizados.