Quando chegou o momento de decidir a profissão que iria seguir, o jovem Marcos Eduardo Pavan, na década de 1990, foi cursar geografia por querer ser professor. Na Pastoral do Unisagrado (à época, USC), porém, reaproximou-se da Igreja Católica, que havia estado presente em toda sua infância, e passou a realizar ações missionárias pelo País.
Desde então, os planos mudaram um pouco e, em dezembro passado, o padre Marcos Pavan, 49 anos, comemorou 18 anos de ministério. E até hoje, na "maioridade" de seu trabalho, o atual pároco da Paróquia São Cristóvão segue com a missão de ensinar pela fé. Diante de uma sociedade dividida e frequentemente com ânimos acirrados, busca, por meio dos ensinamentos de Jesus Cristo, construir pontes para torná-la mais acolhedora, altruísta e empática.
Formado em geografia, filosofia e teologia, "bauruense e cidadão bela-vistense", como gosta de brincar, por ter morado a vida toda no Jardim Bela Vista, padre Marcos é filho único de Sonia Maria e Aparecido. Como sacerdote, além de celebrar missas e atender fiéis na paróquia, visita hospitais e, quando solicitado, também residências e estabelecimentos comerciais.
É, ainda, administrador financeiro da Diocese de Bauru, bem como organizador de peregrinações a Aparecida e, com auxílio de uma agência de turismo, a Israel. Nesta entrevista, ele relembra a infância, conta o que o motivou a ser padre, como conduz seu ministério e o que se sentiu quando o conflito entre Hamas e Israel eclodiu, 15 dias após sua última viagem ao país.
JC - Quais lembranças tem da infância?
Padre Marcos - Sou filho único e morava com meus pais e meus avós paternos. E meus avós eram feirantes, vendiam roupas compradas no Brás, em casa e na feira, e, por muito tempo, fui com eles para ajudar. Tive uma infância normal, amigos da vizinhança, mas, como cresci com muitos adultos em volta, ouvindo conversas, acho que amadureci mais rápido.
JC - O que o levou à decisão de ser padre? Veio de uma família muito religiosa?
Padre Marcos - Minha família é católica. Como morei a vida toda no Bela Vista, fui batizado, fiz comunhão, crisma e fui coroinha na Paróquia Santo Antônio. Depois, na adolescência, fiquei um tempo sem participar das atividades da Igreja e, em 1996, fui cursar Geografia na USC (atual Unisagrado), porque queria lecionar e gostava da disciplina, que abrange também história. Lá, tive contato com a Pastoral Universitária e, como voluntário, me envolvi com os projetos sociais, os trabalhos missionários em que equipes multidisciplinares levavam ajuda a outros estados, em lugares bem pobres. E eu trabalhava mais no suporte espiritual.
JC - Em que momento ingressou no seminário?
Padre Marcos - Terminei o curso de geografia e, em 2000, ingressei no seminário, em Bauru, e comecei a cursar filosofia na USC. Conclui a faculdade e fui para o Seminário Provincial de Marília, onde fiz bacharelado em teologia. Já formado, me ordenei no Santuário do Sagrado Coração, em 16 de dezembro de 2005. Minha primeira paróquia foi a São José, em Gália, onde fiquei por três anos. Atendia Gália, Fernão, Avaí, Lucianópolis. Depois, fui transferido para Bauru e me tornei pároco da Catedral do Divino Espírito Santo, onde fiquei por mais tempo: 10 anos. E, agora, estou há quatro anos e meio na Paróquia São Cristóvão.
JC - Por que houve essa transferência?
Padre Marcos - O padre Luiz Ricci havia saído da paróquia após tornar-se bispo, um outro padre assumiu por um curto período e, em seguida, eu entrei. A cada tempo, o bispo diocesano faz estas transferências. É uma norma e é algo saudável, para que os padres conheçam outras realidades e as comunidades conheçam outros padres, até porque cada um tem o seu perfil. A liturgia é a mesma, mas cada padre tem uma forma de conduzir a celebração, a partir da sua realidade e histórico de vida.
JC - Como o senhor define o perfil do seu ministério?
Padre Marcos - Sou um padre acolhedor. Sigo o papa Francisco, um homem atento à realidade do mundo e acolho todos que procuram a Igreja e querem fazer sua conversão, aprofundar sua vida espiritual. Nossa sociedade está polarizada, e há quem, muitas vezes, prefira julgar do que estender a mão. Então, tento achar um equilíbrio para que as pessoas entendam que esta acolhida é positiva. Precisamos ter este olhar a estas pessoas que chegam espiritualmente machucadas na nossa comunidade. O papa Francisco nos desafia a refletir, quebrar preconceitos e acolher. Jesus perdoou os pecadores, andava com leprosos, acolheu os que eram tidos como piores. Então, qual seria o olhar de Jesus no mundo atual? Todos temos nossos pecados, limitações e precisamos trilhar o caminho de Jesus, que é muito claro.
JC - Nesta semana, o padre Júlio Lancellotti foi alvo de um vereador de São Paulo, que quer investigar, por CPI, seu trabalho e de ONGs na Cracolândia. Como avalia esta situação
Padre Marcos - As pessoas podem não concordar com o pensamento político-partidário do padre, mas falar que ele não faz o bem, não coloca em prática o Evangelho de Jesus Cristo e está recebendo propina para fazer seu trabalho é maldade, é leviano. Tenho admiração pelo trabalho que ele desenvolve. Ele tem o título de Vigário Episcopal do Povo da Rua e vê, naquelas pessoas que vivem no Centro de São Paulo, a face de Jesus.
JC - O senhor também organiza peregrinações em Israel e esteve lá no ano passado. Como foi a experiência?
Padre Marcos - Foi setembro. Claro que o Oriente Médio é uma região muito tensa, mas tudo transcorreu com tranquilidade. Entramos pelo Egito, fomos ao Cairo, passamos pelo deserto do Sinai, ladeando o Canal de Suez, fomos ao Monte Sinai e cruzamos a fronteira com Israel. Passamos perto da Faixa de Gaza, na Palestina, para irmos à Gruta de Belém, na Igreja da Natividade, onde Jesus nasceu, e saímos 15 dias antes do primeiro ataque a Israel no ano passado (em 7 de outubro). Quando a guerra eclodiu, foi um espanto para todos nós. Estávamos em 40 peregrinos, todos de Bauru.
O que diz o Padre:
"Na faculdade, como voluntário, me envolvi com projetos sociais, trabalhos missionários"
"Acolho todos que procuram a Igreja e querem fazer sua conversão, aprofundar sua vida espiritual"
"Saímos 15 dias antes do primeiro ataque a Israel. Quando a guerra eclodiu, foi um espanto para todos"
Comentários
1 Comentários
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Maria Inês Boldrin 07/01/2024Parabéns pela entrevista e pelo seu sacerdócio. Mudei há pouco tempo para Bauru morand há poucas quadras da São Cristóvão já elegi bonoinha paróquia. O padre é isso mesmo tem homilias práticas e claras..