JENIFER GODOY

‘O que é desenvolvido tem que ser devolvido para a sociedade’, diz cientista da Esalq

Cientista foi reconhecida por apresentar soluções inovadoras na agricultura para atender necessidades de uma terra em mudança

Por Roberto Gardinalli | 02/07/2023 | Tempo de leitura: 6 min
roberto.gardinalli@jpjornal.com.br

Divulgação

“Tudo aquilo que está sendo desenvolvido dentro das Universidade, incluindo minha própria pesquisa e a de outros alunos, não apenas no campo da Genética e Melhoramento de Plantas, mas também em outros campos da ciência, deve ser aplicado e devolvido à sociedade. Atualmente, Piracicaba é considerada o novo ‘Vale do Silício Brasileiro’ devido ao seu ecossistema de inovação e empreendedorismo, especialmente nas áreas de tecnologia agrícola e agronegócio”. A fala é da doutoranda em Genética e Melhoramento de Plantas, Jenifer Camila Godoy, de 30 anos.

Engenheira agrônoma formada pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e mestre em Genética e Melhoramento de Plantas pela Esalq (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz), a cientista esteve na Universidade de Wisconsin-Madison nos Estados Unidos durante sete meses para desenvolver parte da sua pesquisa de doutorado. Segundo ela, durante esse tempo, pode aprimorar suas habilidades de pesquisa, interagir com um grupo de pessoas altamente qualificadas, se envolver em competições acadêmicas e conhecer profissionais de todo o mundo. Além disso, participou de grandes eventos da área. Um deles foi AGBT 2023, um dos principais congressos sobre genética no mundo, em março, em San Antonio, no Texas, onde ela recebeu o prêmio “Next Generation Leadership” pelo trabalho que desenvolve no seu doutorado – Desenvolvimento de Modelos de Seleção Genômica para a Predição do Desempenho de Híbridos de Milho em Ambientes não Avaliados.

“É impossível pensar na agricultura e não pensar na produção sustentável. É exatamente isso que a Genética e o Melhoramento de Plantas trazem”, disse. “O Programa de Genética e Melhoramento de Plantas da Esalq é pioneiro na formação de recursos humanos e desde a sua criação apresenta conceito máximo de excelência ”, disse. Confira a entrevista.

Qual é a sua relação com Esalq e o que fez você ter interesse em vir para cá?
Estou no último semestre de doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas, e meu interesse pela área começou ainda na graduação. Na agronomia, há diversas especialidades, e à medida que fui conhecendo cada uma delas, percebi que as disciplinas de genética e melhoramento despertaram em mim um forte interesse. Desde então, soube que para seguir essa carreira, precisaria continuar me aprofundando nos estudos, já que a graduação aborda conceitos mais básicos e não forneceria a base necessária para atuar como melhorista de plantas, seja em empresa privada ou em uma instituição pública.

Eu já conhecia a Esalq. Sabia da reputação. O programa de Genética e Melhoramento de Plantas da Esalq é um dos melhores do Brasil, com conceito máximo, nota sete, de excelência atribuído pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Essa reputação e a estrutura do programa me fizeram querer estudar na Esalq. Depois da graduação, iniciei a preparação para o processo seletivo do mestrado, que é bastante concorrido. Fui aprovada e comecei em 2017. Após dois anos, decidi que também queria prosseguir no doutorado e ingressei no programa em meados de 2019. Agora estou na reta final dessa jornada acadêmica.

Antes de ingressar na Esalq, nunca havia visitado pessoalmente. Sendo parte da USP (Universidade de São Paulo), uma das principais instituições de ensino do país, a Esalq é reconhecida nacionalmente. Lembro-me de pesquisar bastante para entender quais critérios eram valorizados no processo seletivo do mestrado. A minha preparação foi pautada principalmente na pesquisa. Minha primeira visita à Esalq foi para realizar a prova do mestrado, em 2017. Nesse momento, fiquei encantada, pois a universidade é deslumbrante. Essa visita inicial só reforçou meu desejo de estudar na Esalq.

E como foi para você ter acesso, pela Esalq, aos estudos na Universidade do Wisconsin? Existe um Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, que oferece bolsas de estágio em pesquisa de doutorado para complementar os estudos dos programas de pós-graduação no Brasil. No começo de 2022 eles abriram um edital, eu me inscrevi, fui selecionada e em  setembro de 2022, embarquei para os Estados Unidos. Passei sete meses na Universidade de Wisconsin-Madison. Foi uma experiência sensacional, pois sempre sonhei em estar lá, era um objetivo profissional para mim. Desde o início do doutorado, já havia expressado ao meu orientador o quanto desejava ter essa experiência. Do ponto de vista profissional, a universidadei tem recursos incríveis e está entre as melhores do mundo. Eles possuem uma estrutura maravilhosa para receber alunos internacionais e estão acostumados a acolher estudantes de vários países. Lá, tive a oportunidade de conviver com pessoas de diferentes origens e culturas. O laboratório também era de excelência, com muitos recursos disponíveis. Além disso, tive a oportunidade de participar de diversos eventos científicos.

Nos Estados Unidos, participou, também, de um dos maiores congressos do mundo na área de estudos genéticos, o AGBT (Advances in Genome Biology and Technology). Como foi?
Foi uma experiência fantástica, repleta de palestras, incluindo a a do meu orientador, e oportunidades de networking com cientistas brilhantes.

Para minha alegria, recebi, juntamente com nove jovens cientistas de todo o mundo, o Next Gen Leadership Award, um prêmio dedicado a jovens cientistas com soluções inovadoras na agricultura para atender às crescentes necessidades de uma Terra em mudança. Essa conquista é uma prova de minha dedicação ao meu doutorado, confirma que meus esforços estão valendo a pena e me motiva a continuar com meus objetivos de pesquisa. Além disso, recebi o prêmio das mãos de Bruce Walsh, renomado cientista em Genética Quantitativa. Isso foi um momento único e inesquecível. Foi uma honra incrível ser reconhecido por alguém cujo trabalho impactou significativamente minha pesquisa.

Eu confesso que não esperava que meu trabalho fosse selecionado, considerando o fato de que muitos outros estudantes excelentes e brilhantes participaram. Quando recebi a notícia, fiquei extremamente feliz, assim como meu orientador aqui no Brasil. É um trabalho em colaboração, afinal, ele é meu orientador, então suas mãos também estão presentes no trabalho. Sou profundamente grata ao AGBT-AG pelo reconhecimento e pelo prêmio. A conferência foi  enriquecedora e sinto-me honrada por ter participado num evento tão fantástico. Foi o final perfeito para o meu intercâmbio.

O prêmio tem como um dos objetivos achar soluções para demandas crescentes da agricultura. Quais são essas demandas?
Hoje em dia, a produção de alimentos é uma das principais demandas da sociedade, especialmente devido ao crescimento populacional. A agricultura enfrenta o desafio de fornecer quantidades suficientes de alimentos para atender a essa demanda crescente. No entanto, é crucial considerar a sustentabilidade.  Nesse contexto, a Genética e Melhoramento de Plantas desempenha um papel fundamental. Através dessa área, é possível aumentar a produção agrícola em uma menor área cultivada. O objetivo é desenvolver genótipos de plantas que sejam produtivos, resistentes a pragas e doenças, e adaptados às condições ambientais.

No meu projeto, estou trabalhando no desenvolvimento de modelos de seleção genômica. Essa abordagem permite predizer os genótipos das plantas com base em informações genéticas, permitindo a seleção de características de forma mais precisa e rápida. Essa abordagem tem o potencial de otimizar os programas de melhoramento genético, resultando em plantas mais produtivas e resistentes

Temos diversos tipos de culturas na região de Piracicaba, que vão desde a cana até a produção de cereais. Como a sua pesquisa pode ajudar a desenvolver ainda mais a região?
Tudo aquilo que está sendo desenvolvido dentro das Universidade, incluindo minha própria pesquisa e a de outros alunos, não apenas no campo da Genética e Melhoramento de Plantas deve ser aplicado e devolvido à sociedade. Atualmente, Piracicaba é considerada o novo “Vale do Silício Brasileiro” devido ao seu ecossistema de inovação e empreendedorismo, especialmente nas áreas de tecnologia agrícola e agronegócio. A presença da Esalq é um dos principais impulsionadores desse reconhecimento”.

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