ARTIGO

Jornalistas e jornalismo

Por Edson Rontani Júnior | 24/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Houve um tempo em que o profissional de jornalismo era formado “na marra”. Aquele tipo que Kirk Douglas interpretou no clássico “A montanha dos sete abutres”, de Billy Wilder. Douglas era um repórter que postergava o resgate de uma pessoa soterrada em uma mina. Ele tinha a forma de como tirar tal pessoa de lá. Mas, para que tirá-la se isso dava manchete e vendia jornal? Estamos falando de um filme rodado nos anos 1950. A realidade hoje é diferente, mas lembra em muito como a imprensa explorou o caso dos jogadores mirins presos na caverna da Tailândia, em 2018.

No Brasil, a profissão foi regulamentada e tornou-se uma das poucas da área de comunicação social a exigir diploma para ser exercida. Em 2009, cai a obrigatoriedade de diploma para ser jornalista, dividindo a área entre aqueles que obtiveram o registro profissional por decisão judicial e aqueles intitulados jornalista profissional, que possuem diploma de graduação.

Porém, nestas escolas – graduação acadêmica e na escola da vida – formaram-se jornalistas de renome como Roberto Marinho, Adolpho Aizen, Samuel Weiner, Carlos Lacerda, José Hamilton Ribeiro, David Nasser, Joel Silveira, João Saldanha (técnico da Seleção Brasileira campeã em 1970) e tantos outros. No campo internacional, a sabedoria vai além das cadeiras de graduação quando nos referimos da Gay Talese ou os ganhadores do Nobel da Paz 2021, Maria Ressa e Dmitry Muratov.

Essas linhas servem para reverenciar uma mente importante para nosso jornalismo local. Izidoro Polacow nos deixou em 2021 aos 100 anos de idade. Não vi sequer uma linha sobre sua partida nas mídias naquela ocasião e cabe aqui o registro. Confesso que não o conheci, muito menos seu jornalismo praticado nos anos 1960 e 1970. Mas seu nome era comumente citado em casa por meu pai, colaborador dos jornais locais, dentre os quais estava o “Diário de Piracicaba” onde Polacow trabalhou com outros expoentes da mídia local, que escreviam com um olho na máquina de datilografar e outro olho na tesoura (estávamos em pleno andamento dos Atos Institucionais, dentre eles o AI-5). Fizeram jornalismo com maestria, escrevendo notícias que não podiam ser escritas. Até epidemia de sarampo no interior paulista era alvo dos censores. Polacow é elogiado por muitos que fizeram “escola” com ele.

Tivemos nossos mestres que nos ensinaram além da graduação nas faculdades. Ensinaram “na unha” como ter um perfil crítico, imparcial e com responsabilidade. Sebastião Ferraz, Domarco, “Tuca”, Losso Netto, o “pai” de todos jornalistas Cecílio Elias Netto, dentre outros vieram de escolas dos anos 1950 ou 60 numa época em que a imprensa ainda era vista como o quarto poder constituído no Brasil. Muitos amigos, conhecidos, profissionais passaram por aqui, e, assim como outro jornalista que diariamente se diz “velho e cansado”, às vezes falha minha memória nestes mais de 42 anos dedicados ao jornalismo e a história de Piracicaba. A história antes de mais nada precisa ser revista. Ou melhor ... escrita. As gerações vêm e vão. Se a história não é perpetuada, acabamos caindo no esquecimento e cada qual importância possui neste mundo terreno.

Ou como diria nosso decano, o “tio” Cecílio: “quanto mais velho se fica na profissão, mais se repete, mesmo porque leitores antigos vão morrendo, jovens vão chegando e, na verdade, nada há de novo sob o sol”. Vamos em frente!

--------------

Os artigos publicados no Jornal de Piracicaba não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. Os textos são de responsabilidade de seus respectivos autores.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.