Emoção

Por José Faganello |
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Por José Faganello

“Ajuda-te e serás ajudado” (máxima latina)

Há momentos de resolução em que, balançando entre duas alternativas, somos obrigados a tomar uma decisão. Sentimos que é inútil postergar. Ficamos quietos, meditamos. Presos a um frágil equilíbrio, tentamos vislumbrar o rumo. Enquanto ruminamos a dúvida, temos noites de tormentas, auroras radiosas, dias vividos intensamente e, outros, de longos e insuportáveis tédios.
Controlados pelo relógio, este implacável fiscal do tempo, sentimo-nos, muitas vezes, personagens de um enredo banal. A rotina banaliza nossos atos e amortiza as saborosas impressões das primeiras vezes. Abate-nos uma sensação de insignificância. O torpor que inibe qualquer volúpia nos envolve. A inércia leva-nos a descrer de que qualquer ação poderá salvar-nos.
Era assim que ele se sentia. Tendo que decidir resolveu desistir. Definitivamente não conseguia acompanhar o ritmo. Sentindo-se entre os piores, renunciou á luta. Não podia sequer ser acusado de covarde. Por longo tempo resistiu. Passou noites insones. Varou fins de semana e feriados debruçando-se sobre os livros. Tentou ajuda com os melhores colegas. Teve até aulas particulares. Foi tudo em vão. Convenceu-se de que em seu computador encefálico faltava algum “chip” ou que fora aquinhoado com “megabytes” de menos. Contra o inevitável, persuadiu-se, era inútil lutar, pois tomar qualquer decisão era por demais dolorido. Seus pais, namorada, amigos, patrão, o que diriam? Como enfrentaria o mundo globalizado que descarta quem é medianamente instruído? Diante de todas estas interrogações, capitulou, abandonou os estudos. Ficou três longos anos sem frequentar a escola que tentou amar e de onde colheu apenas decepções. Este ato custou-lhe caro demais. Sofreu sozinho, sem o conforto de um ombro amigo. Apenas recebeu recriminações de todos. Em três anos teve tempo suficiente para repensar seus atos. Resolveu retornar. Se o homem conseguiu domar os desertos inóspitos, as solidões geladas, as montanhas inacessíveis; se numa lentidão exasperante, foi galgando degrau por degrau, desde a pré-história até hoje, até chegar ao ponto do desenvolvimento tecnológico atual, disse a si mesmo, não posso desistir, tenho de retomar minha luta.
No final do bimestre escolar, o primeiro resultado de que tomou conhecimento foi o de História. Submetido a duas avaliações, conseguiu 3.5 na primeira e 5.0 na segunda. Timidamente acercou-se do professor, na hora em que ele estava fechando as médias e arriscou:

Professor, estou afastado da escola há três anos. O senhor não poderia dar-me uma ajuda? Não queria ficar sem média, justamente em minha primeira nota.

dar-lhe a nota cinco.. Você, no entanto, irá, em troca, fazer um trabalho. Espere-me após vou no final da aula.
Uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Não era de tristeza. Era de emoção.
Ele se formou-Médico. Espero que leia o Jornal de Piracicaba de Quarta-Feira e vai descobrir que é ele.

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