Cem anos da Semana de Arte Moderna

Por Rosângela Camolese | 10/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

“Uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesia paulista”. Assim, o pintor Di Cavalcanti, um dos integrantes da polêmica Semana de Arte Moderna, a descreveu.
Também conhecida como a Semana de 22, este happening da cultura brasileira completa 100 anos. O evento artístico-cultural aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922.
A proposta clara desde o início, era trazer momentos de afronta, escândalo, quebrar os padrões estéticos vigentes e apresentar uma nova forma de fazer arte em todos os segmentos.
Dentre seus principais objetivos, estavam o rompimento com o formalismo estético e padrões tradicionais até com o uso de uma linguagem coloquial e vulgar; a crítica ao academicismo, em especial o europeu; a criação e a popularização de uma arte autenticamente brasileira; a valorização da identidade nacional e da liberdade de expressão.
Assim, foram três noites com palestras, apresentações musicais e exposições artísticas. Em grande parte desses momentos, as vaias e as críticas do público deram a tônica, como na leitura do poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira. Conta-se também que a última apresentação deu muito o que falar. No terceiro dia do evento, subiu ao palco o maestro Heitor Villa-Lobos, calçando um pé de sapato e outro de chinelo. A vaia foi total, o comportamento considerado desrespeitoso. Depois, soube-se que o maestro estava com um dolorido calo no pé.
Acredito ser importante comentar sobre aquele momento político, até para uma melhor compreensão histórica. Em 1922, o Brasil e o mundo passavam por importantes mudanças políticas, econômicas e sociais, como o processo da industrialização e a emergente burguesia industrial ganhando força; o acelerado crescimento da urbanização; a forte imigração estrangeira e o fim da Primeira Guerra Mundial.
Dentre os tantos ativistas da Semana de 22, cito Mário e Oswald de Andrade, Graça Aranha, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Tácito de Almeida e Di Cavalcanti.
Hoje, 100 anos depois, esse movimento paulista considerado elitista, burguês e apesar do fracasso dos três dias de evento, mantém-se vivo. Suas ideias foram levadas para os Movimentos Pau Brasil, Verde Amarelo e Antropofágico, entre outros. A Semana de Arte Moderna é reconhecida e considerada marco inicial do modernismo brasileiro. Sua influência pode, ainda, ser observada no Tropicalismo e na Bossa Nova.
As comemorações deste centenário estão recheadas de atividades em espaços públicos e particulares. No dia 13, próximo domingo, por exemplo, será aberta no Memorial da América Latina, a Exposição Pilares de 22, trazendo 16 caricaturas de participantes da Semana. Quem as assina é o artista gráfico Fernandes. O curador da exposição é o sempre colaborador do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, nosso estimado Jal (José Alberto Lovetro), presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil.
Com erros e acertos, a Semana de 22 cumpriu seu papel ao colocar holofotes sobre a arte moderna brasileira. E num momento em que nossa vida artística está tão relegada, torna-se ainda mais importante lembrar daqueles que fizeram história.

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