O legado da pandemia

Por Rosângela Camolese | 18/08/2021 | Tempo de leitura: 3 min

O Governo do Estado anunciou o fim do Plano São Paulo, uma engenhosa fórmula criada em maio do ano passado para controlar o avanço da Covid-19 no mais importante estado da federação. Em tese, deveria ser um motivo para comemorações, foguetório e manifestações calorosas pelas redes sociais, só que não.

A Covid-19 vitimou 4,17 milhões de paulistas, dos quais 143 mil faleceram. Em Piracicaba, foram cerca de 62 mil casos com mais de 1.300 mortes e, no Brasil, o segundo país com maior número de óbitos em decorrência da doença, atrás apenas dos Estados Unidos, tivemos, até o momento, algo em torno de 570 mil vidas perdidas.

Lembro-me quando a prefeitura anunciou a primeira morte na cidade, e a comoção que ela provocou. Naquele momento, sequer imaginávamos que, um ano depois, estaríamos sendo vacinados, já que o que mais nos importava era o número de leitos com respiradores e testes na rede pública.

Foi um período difícil, repleto de incertezas. Perdemos parentes, amigos, ídolos e nos emocionamos com histórias dos que perderam a batalha pela vida. Mas, aos poucos, fomos nos condicionando ao distanciamento social, ao uso frequente de álcool em gel e adotamos, definitivamente, as máscaras como peça do nosso vestuário. Contudo, lamentavelmente, também deixamos de nos espantar com os números diários relatados pela imprensa do país, como se ter mais de mil mortos em um único dia fosse algo previsível ou comum. Triste constatação.

Assistimos a uma batalha de desinformação pelas redes sociais e o “eles contra nós” voltou com ainda mais força, causando uma divisão social insana, que colocou ciência e crença em campos opostos. Mas, o que todos queríamos mesmo, era ter as nossas vidas de volta e, para isso, era necessário “achatarmos a curva”, como diziam os especialistas, para liberar leitos e salvar vidas. Era preciso segurar nossos idosos e as nossas crianças em casa, permitindo que a saudades se apossasse das nossas relações sociais.

Além do plano de contingência, o qual, apesar de toda grita, disciplinou a conduta da atividade econômica em nosso estado, São Paulo protagonizou a produção de vacinas, revelando a capacidade científica do Instituto Butantan, pioneiro na produção da vacina contra a Covid-19. E foi ela, a vacina, que, dia após dia, foi trazendo nossas vidas de volta.

Como educadora, compreendo que a pandemia, por mais avassaladora que tenha sido, e foi, em sua fase mais aguda, também nos trouxe ensinamentos. Um deles, é o de que o professor, em sala de aula é insubstituível. As aulas remotas foram uma alternativa importante, mas custou o convívio dos alunos com a comunidade escolar e inquietou os docentes, os quais se deram conta da necessidade do uso de metodologias ativas para reter a atenção e transmitir o conteúdo de um novo modo. Foi também um grande desafio para os pais, que tiveram que exercer o papel de educador em casa, como medida complementar às rotinas de sala de aula.

O fim do Plano São Paulo nos traz uma luz de esperança e um sinal de alerta. Esperança de que tenhamos aprendido o valor da vida e a importância da empatia, em meio a um período marcado pelo individualismo e pela negação. Alerta, pois a pandemia não acabou, e a vida talvez jamais volte a ser como antes, nos impondo a responsabilidade de sobreviver e escrever os próximos capítulos da nossa história.

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