Nosso rico tesouro pictórico

Por Rosângela Camolese | 27/05/2021 | Tempo de leitura: 2 min

Hoje, quando se fala em obras de arte, a expressão para mantê-las preservadas em suas características físicas e estéticas, é conservar para não restaurar. Foi com esse objetivo que há muitos anos, a Pinacoteca Miguel Dutra é dotada de uma sala de acervo para acolhida de cerca de 900 obras que o compõem, a partir dos prêmios aquisitivos dos salões de Belas Artes e Arte Contemporânea, muito antigos e respeitados nacionalmente, e, mais recentemente, pelos premiados do Salão de Aquarelas.

Existem, de acordo com especialistas, requisitos básicos para conservação das obras, como armazená-las em espaços com o mínimo de tráfego; evitar umidade direta ou indireta que provoca dilatação dos materiais, enfraquecimento da camada de pintura e o aparecimento de fungos, broca e cupim que nessas condições se proliferam rapidamente; evitar iluminação intensa do sol ou mesmo artificial já que ambas podem provocar descoloração dos pigmentos, acelerar o envelhecimento do papel, de vernizes e colas que se tornam amarelados e quebradiços. Ou seja, pinturas são artigos sensíveis e muito suscetíveis a danos. E na Pinacoteca Municipal havia várias obras muito importantes que passavam por um processo de deterioração.
Sabendo de tudo isso e preocupados com a perda de algumas delas, decidimos restaurá-las. No entanto, antes, era necessário que o espaço físico de armazenamento estivesse perfeitamente adequado para, além de acomodar o acervo, receber de volta aquelas que seriam restauradas.
Em 2014, a reserva técnica foi submetida a todos os procedimentos de limpeza especializada e descupinização, foram vedadas as entradas de ar por onde passavam detritos, poeira e insetos, tornando-a hermeticamente fechada. Concluída essa etapa, foram instalados o desumidificador de ar e um termo-higrômetro, que asseguram condições ideais de armazenamento, além de ar condicionado e duas mapotecas para a guarda dos trabalhos.
Ato contínuo, foram restauradas as obras com a contratação de profissionais que avaliaram e apresentaram laudos detalhados. Eram 37 pinturas a óleo, 41 em papel e seis esculturas. Na primeira etapa recuperou-se aquelas consideradas mais delicadas, feitas em papel, que apresentavam rasgos, manchas e pó. Eram gravuras, desenhos, aquarelas e pinturas, das décadas de 1960 e 1970. Na segunda etapa, foram os 37 trabalhos em óleo e seis esculturas das décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980.
Todo esse trabalho demonstra a preocupação do poder público à época, em preservar as obras que fazem parte do rico acervo da Pinacoteca Miguel Dutra onde estão nomes importantes dos cenários nacional e mundial, integrando o patrimônio do município, enriquecendo nossa cultura, nossa história e nossa memória.
É por tudo isso que me sinto apreensiva quando ouço dizer que aquele prédio emblemático, tombado pelo Codepac, pode mudar de função. Fico mais apreensiva ainda, pela intenção de levar seu precioso acervo para as margens do rio Piracicaba, área de permanente umidade que exige maior e constante manutenção, além de altos custos. Para qualquer mudança acerca do destino das obras da Pinacoteca, é necessário muito diálogo com a sociedade e, principalmente, com as instituições que usufruem daquele espaço que é o repositório de um verdadeiro tesouro pictórico.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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